O futebol inglês, com algum desdém, considera a mudança de David Beckham para os Estados Unidos a oficialização da aposentadoria de um jogador que não terá lugar entre os grandes do esporte.

O meia é o único inglês que continua, aparentemente, acreditando que tem chances de voltar a ser convocado para a seleção da Inglaterra, da qual foi afastado após o fiasco na Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. "Enquanto jogar futebol, estarei disponível para vestir o uniforme de meu país", disse.

Porém, para os compatriotas, ao assinar contrato com o Los Angeles Galaxy o inglês decidiu deixar o futebol. Para a Inglaterra, a história parou na imagem do jogador de 31 anos chorando no banco de reservas nas quartas-de-final do Mundial, que o país perdeu para Portugal.

Agora não é mais do que o marido da ex-Spice Girl Victoria 'Posh' Beckham, que a cada fim de semana, antes de uma festa com estrelas, jogará o "soccer" em um estádio pequeno e em um campeonato que, para os ingleses, fica entre a parte inferior da segunda e a parte de cima da terceira divisão. "Adeus futebol, olá Hollywood!", "Bem-vindo a Hollywood, o país onde Mickey joga futebol", ironizou a imprensa britânica.

O único, além do próprio, que acredita no retorno de Beckham à seleção é seu novo patrão, o ex-jogador Alexi Lalas, presidente do Los Angeles Galaxy, segundo o qual o inglês será responsável por outra façanha: ajudar o clube a virar o melhor do mundo.

Até Bobby Robson, incansável defensor do inglês, mudou de opinião. "Esta semana se evidenciou que David já não tem gana suficiente para responder a um desafio de maior nível". Gary Lineker, artilheiro da Copa de 1986, citou uma "semi-aposentadoria" esportiva. "Ainda tinha coisas a oferecer a Inglaterra, mas agora acabou. É muito glamouroso e tem um estilo de vida muito glamouroso. Imagino que para ele está tudo bem", disse o astro Bobby Charlton.

Há uma semana, a Inglaterra faz um balanço bastante apagado da carreira do 'Golden Boy', rebatizado agora como 'Golden Balls' ('Bolas de Ouro') pelos tablóides. Mais do que seu profissionalismo, suas duas melhores temporadas com o Manchester United entre 1999 e 2001, ou a conquista de uma Liga dos Campeões, a imprensa lembra sua incapacidade de fazer a diferença nos cinco grandes torneios internacionais que disputou (três Copas do Mundo e duas EuroCopas).

As piadas cruéis proliferam: "Beckham vai para Los Angeles", diz uma pessoa. "Mas ele não sabe atuar!", responde outra. "Não, ele vai para jogar futebol", volta a primeira. "Mas ele também não sabe jogar!", finaliza. Um internauta resumiu o sentimento britânico em um blog. Segundo ele, um filme sobre Beckham estreará em abril, mas a história é uma ficção já que Beckham aparece levantando um troféu.