Política Titulo Paulo Serra
‘Grande desafio é colocar a casa em ordem’, sustenta Paulo Serra

Prefeito eleito de Santo André pelo PSDB
sustenta que a cidade passa por crise econômica

Por Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
01/11/2016 | 07:04
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Ricardo Trida/DGABC


Prefeito eleito de Santo André pelo PSDB, o ex-vereador Paulo Serra sustenta que a cidade passa, atualmente, pela pior crise econômico-orçamentária da história, o que forçará a próxima gestão a adotar como “grande desafio colocar a casa em ordem”. Segundo o tucano, que concedeu entrevista exclusiva ontem na sede do Diário, a primeira série de medidas é voltar a pagar as obrigações em dia. “Começaremos governo novo, sendo austero. Logo de início faremos choque de gestão.”

No domingo, o tucano venceu a disputa majoritária de segundo turno ao conquistar 276,5 mil votos contra 77 mil sufrágios do atual prefeito Carlos Grana (PT). Paulo pondera que o Paço necessita “voltar a plantar”, estimulando a atividade econômica. “Gestão parceira de empreendedor para trazer investimento. Isso dá efeito no médio e longo prazos. No curto, é fazer gestão, enxugando a máquina.”

O tucano reitera reabrir diálogo com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) visando equalizar problema da falta de água na cidade. Pretende fazer isso antes de iniciar o mandato. “Não consigo admitir que as pessoas paguem a conta e não tenham água”, lamenta, ao frisar que a médio prazo vai retomar investimento na rede de distribuição e tirar a ETA (Estação de Tratamento de Água) do papel. Fala ainda que “é possível manter o Semasa” (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) como autarquia, mesmo diante da dívida com a estatal paulista.

Paulo adianta que pretende conciliar no secretariado perfis técnico e político. Cita que planejará a reforma administrativa a partir da transição. Antecipa que uma das alternativas de fusão é aliar Esportes à Pasta de Educação e inserir o Semasa dentro da futura Secretaria de Meio Ambiente, que também seria responsável pelo projeto do Poupatempo do Empreendedor.

Como o sr. espera encontrar a situação das finanças da Prefeitura de Santo André?
As informações preliminares nos coloca como grande desafio pôr a casa em ordem. Isso porque Santo André vive hoje efetivamente a pior crise econômico-orçamentária da história. Com esse processo (de transição) que se inicia na semana que vem, teremos dados mais apurados, específicos. Mas tudo leva a crer que há falta de pagamento a fornecedores, além de deficit (financeiro) bastante significativo.

O sr. pretende negociar o atraso junto aos fornecedores logo nos primeiros dias de governo?
O nosso governo começa em 1º de janeiro. A partir disso, vamos colocar a casa em ordem. Primeira coisa é voltar pagar em dia. O que ficar para trás, com muita transparência, tranquilidade, iremos comunicar a situação e também colocando as obrigações em ordem. Iniciaremos em ritmo normal. Não podemos fazer com que esse prejuízo – se existe não se sabe a dimensão – prejudique a vida das pessoas no nosso governo. Isso está fora de questão. Começaremos governo novo, sendo austero. Logo de início choque de gestão, redução de gastos. Não tem como dar próximo passo antes disso. Estruturar e planejar.

Há informações de queda acentuada da arrecadação e deficit financeiro. Diante deste cenário, o que é possível dar prioridade no primeiro ano?
Primeiro que a queda na receita é mais retórica do que real. A cidade não perdeu tanto assim nos últimos anos. A gestão acabou gastando mal o dinheiro. A previsão orçamentária é de R$ 3,3 bilhões. Não é coisa pequena. Temos que voltar a plantar: estimular a atividade econômica. Gestão parceira de empreendedor para trazer investimento. Isso dá efeito no médio e longo prazos. No curto prazo é fazer gestão, enxugando a máquina. Reduzir tamanho. Modelo diferente, com menos secretarias, junção, sem perda da qualidade da política pública. Equalização, visando fazer a cidade funcionar. Faremos primeiro o necessário, depois o possível e até o impossível, se conseguir.

Como resolver o problema da falta de água e a dívida com a Sabesp?
Precisamos reabrir o diálogo com a Sabesp. Isso pretendo fazer antes de janeiro. Não consigo admitir que as pessoas paguem a conta e não tenham água. A questão da dívida tem que ser equalizada, só que a operação da distribuição tem que vir antes disso. As pessoas não podem ficar sem água.

A Sabesp fala que envia para Santo André a quantidade suficiente, enquanto o Semasa nega que o volume seja o necessário para a demanda da população.
A gestão é do Semasa. Se tem problema, em vez de brigar judicialmente, abre diálogo. Repito: não dá para admitir não ter água. É necessário resolver de forma rápida e possível. Claro que tem outras duas questões de médio prazo: retomar investimento na rede de distribuição para não perder tanta água e tirar a ETA (Estação de Tratamento de Água) do papel. O governo federal depositou recursos, mas não saiu porque a cidade não pagou a desapropriação da área, lá no Pedroso, pertencente ao Esporte Clube Santo André.

É possível manter o Semasa sob responsabilidade municipal? O prefeito Carlos Grana falou que não via problema em negociar abertura do capital do Semasa para a Sabesp. Como o sr. considera esse ponto?
É possível manter o Semasa como autarquia municipal. Já as possibilidades de modelo têm que avaliar uma por uma tecnicamente. Qualquer uma delas tem que levar a objetivo único: a operação de água ser normalizada. Só não acredito que a disputa judicial é o caminho. Considero equivocado, tanto que não resolveu o problema. Buscaremos saída, que não é essa que está sendo tratada hoje.

Na área da Saúde, como o sr. pretende solucionar o imbróglio da falta de medicamentos em unidades?
Isso representa faltam de gestão. Primeiro, falta organização e informatização. Não tem hoje sistema de estoque e distribuição. Tem remédio sobrando em unidade na Palmares e faltando na Vila Luzita. A rede não se fala. Não tem milagre nisso. Estoque estará disponível no site no nosso governo. Informatizar é fundamental. Colocar a Saúde na era digital. E outra coisa é gestão financeira. Tem fornecedor de remédio que não recebe há 12 meses. Não dá para exigir qualidade do serviço se há esse problema. Colocar a casa em ordem é funcionar mês a mês. Saúde tem três conceitos: médico disponível, exame rápido e remédio fácil. Se conseguirmos cumprir isso, fazendo diagnóstico e teremos setor de qualidade.
O sr. fala em enxugar a máquina. Qual a quantidade de comissionados suficiente e em relação a secretarias o que é planejado fundir ou extinguir?
Atualmente, são 484 comissionados. Mais importante do que número e cortes é planejamento. Verificar onde pode ter redução de gastos sem perda da qualidade de política pública. Não está fechado quais Pastas serão fundidas, extintas. A partir dos dados da transição saberemos o real estado das finanças e iremos desenhar a gestão. Aproveitaremos esses dois meses para planejamento.

Juntar as Pastas de Esportes com Educação é, por exemplo, uma possibilidade? Por outro lado, o sr. inseriu na campanha criar a Secretaria de Meio Ambiente. A ideia é colocar o Semasa para responder a essa Pasta?
É uma das alternativas (Esportes com Educação). Não a única. O que não dá é para o Esporte ficar do jeito que está. Pergunto: o que melhorou para o setor tendo criado a Secretaria de Esportes? Em relação à de Meio Ambiente, inserindo o Semasa, inicialmente é essa a ideia, assim como a SATrans, empresa pública, dentro da Secretaria de Mobilidade Urbana. A empresa responde ao secretário. Não há conflito. A Pasta de Meio Ambiente existe nas gestões modernas. Não incharia em nada, porque os cargos já existem e tem outra questão: a desburocratização dos processos para investimento e geração de emprego e renda. Com a secretaria dá para criar o que chamaremos do Poupatempo do Empreendedor. A questão da licença ambiental, não vou entrar no passado, hoje é uma trava. O conceito do Poupatempo é que o processo de aprovação não saia da sala sem ter todos os pareceres. Hoje tem coisa que demora mais de um ano. O mercado Sonda, que criou 200 empregos diretos, demorou seis anos.

Qual seu pensamento relacionado ao perfil do secretariado?
Tem que ter compromisso com a cidade e o projeto que a cidade escolheu. Nós representamos um projeto, de mudança e nova fórmula de gestão. Não estamos pensando nas pessoas e para depois definir a posição. Faremos o planejamento, formato e dentro dos perfis é que iremos encaixar as pessoas.

O primeiro escalão vai conciliar quadros técnicos e políticos?
Tanto que existe secretário e secretário adjunto. Diretor e diretor assistente. Essa junção funciona. E usar muito o servidor de carreira. Temos grandes técnicos na Prefeitura. Queremos fazer esse encaixe. A gestão não sobrevive sem a política, mas também não sobrevive só com a política. A somatória é importante. Gestão eficiente consegue fazer esse casamento.

Como o sr. enxerga o cenário de possíveis parcerias com o governo federal?
A perspectiva para o ano que vem é melhor do que 2016. Estive com o ministro Bruno Araújo (PSDB, Cidades). Ele nos disse que haverá investimento em saneamento básico para novas linhas de crédito. Isso nos deixou bastante entusiasmados com relação às comunidades. Ouvi muita demanda de água e esgoto. Devo ir na semana que vem a Brasília. Vejo com otimismo futuras parcerias (com a União).

Qual a análise de ser eleito pelo PSDB, lembrando que há quatro anos houve grande desentendimento, saiu do partido e, em reviravolta, tornou-se prefeito pelo partido. O que significa isso?
Amadurecimento de ambas as partes. Do PSDB, que soube reconhecer equívoco de 2012. E o meu também porque reconheci que errei em alguns pontos. Às vezes, você precisa sair da sua casa para entender que aquela casa é seu lugar. 




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