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Anaconda: ex-mulher de Rocha Mattos é transferida para o DF
02/12/2003 | 00:38
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A auditora do Tesouro Norma Regina Emílio Cunha, que a Operação Anaconda supõe ser o maior trunfo na superinvestigação sobre corrupção, tráfico de influência e venda de sentenças judiciais, foi transferida nesta segunda-feira à tarde para a sede da Polícia Federal (PF) em Brasília.

A remoção foi determinada pela desembargadora do Tribunal Regional Federal (TRF) Therezinha Cazerta, que acolheu pedido e argumentos da PF e da Procuradoria da República acerca de "riscos de vida" que Norma estaria sofrendo. Ela é ex-mulher do juiz João Carlos da Rocha Mattos, apontado como mentor da organização criminosa. A Anaconda captou telefonemas de Norma. Numa ligação, ela afirma: "quem rouba é o João Carlos."

O plano da PF é tentar convencer a prisioneira a colaborar com a Anaconda, em troca de possível revogação da prisão. A estratégia tem sido usada em outros casos, com sucesso.

As autoridades acreditam que Norma conhece segredos e negócios ilícitos que teriam sido realizados pelo grupo de policiais, advogados, empresários e magistrados. Mattos ficou muito irritado quando soube da transferência.

Gravações - Norma estava presa na Custódia da PF em São Paulo desde 30 de outubro, quando a blitz federal apreendeu em sua residência US$ 550 mil, barras de ouro, cópias de processos, depósitos bancários no exterior e 34 fitas cassete contendo gravações que podem incriminar Mattos.

Formalmente denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por peculato, corrupção passiva, falsidade ideológica e quadrilha, Mattos também está preso, desde o dia 7, na mesma ala dos "prisioneiros melhorados" (nível superior) da PF, onde Norma estava recolhida.

Também estão ali outros acusados, como o agente da PF César Herman, que considera Norma "uma desequilibrada", e o delegado José Augusto Bellini, que teria ameaçado de morte o filho dela, de 12 anos. Para a Procuradoria da República, integrantes da organização estariam tentando "desqualificar" a auditora. Antes de embarcar no avião da Força Aérea Brasileira (FAB) que a levou para Brasília, sob escolta de agente do Comando de Operações Táticas (COT), Norma foi submetida a exames de rotina no Instituto Médico-Legal (IML).

"Ela ficou muito abatida quando soube que ia ser removida", afirmou o criminalista Paulo Esteves, defensor da auditora. Segundo Esteves, a acusada "não corre risco de vida e está bem em São Paulo, onde vive sua família e seu filho menor". O menino está morando na casa de uma tia, irmã do juiz. Há duas semanas, Norma confidenciou a amigos que a visitaram na Custódia que temia ser transferida. "Longe daqui não terei segurança nenhuma", disse. O advogado afirmou que Norma não aceitará a proposta da delação premiada "porque não tem nada a dizer".

Anulação - O TRF anulou a condenação do empresário Ari Natalino a quatro anos e meio de prisão por suposto crime contra a ordem tributária. A sentença havia sido imposta pelo juiz Ali Mazloum, da 7ª Vara Federal, acusado pela Procuradoria no caso Anaconda.

O criminalista Roberto Podval, que defende Natalino, entrou com habeas-corpus alegando que o empresário aderiu ao Programa de Recuperação Fiscal (Refis). Por dois votos a um, o TRF anulou a sentença e suspendeu o processo.

Hoje, a Procuradoria entregou à desembargadora Therezinha Cazerta manifestações contra a defesa de todos os acusados. Relatora do inquérito judicial que investiga a organização, Therezinha decidirá se vota pela abertura ou não de ação criminal.




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