O Diário refez a trilha da Cachoeira da Fumaça, em Paranapiacaba, na qual o cabeleireiro André Luiz Pimentel, 21 anos, se perdeu no feriado de 12 de outubro. Ele ficou 75 horas sozinho na Serra do Mar, sem comida e abrigo, até ser salvo.

Em meio à mata fechada, cruzamos rios e caminhamos sobre veios d’água. Em alguns atoleiros, as pernas afundaram na lama até a altura das canelas. Em outros trechos, o caminho havia sido levado pela chuva, deixando no lugar um barranco íngreme e escorregadio.

O clima para a aventura não poderia ser pior. A neblina cobria a mata e restringia a visão a um raio de, no máximo, dez metros. A garoa forte aumentava o desconforto, num cenário semelhante ao enfrentado por Pimentel em seu resgate.

Foram quatro horas de caminhada praticamente ininterrupta, com algumas poucas paradas para o reagrupamento da equipe. O único intervalo mais longo ocorreu quando chegamos à Cachoeira da Fumaça, com cerca de 30 metros de altura.

Acampamento - Era ali que Pimentel estava acampado desde a sexta-feira do feriado com os amigos. No sábado, ele se afastou do grupo para tirar fotografias da Garganta do Diabo, um paredão formado por três cachoeiras.

O cabeleireiro não conseguiu encontrar o caminho de volta e ficou vagando por três dias sozinho na mata. O drama do rapaz só terminou na terça-feira à noite, quando uma equipe do Diário que acompanhava os trabalhos de busca o encontrou cambaleando próximo à Rodovia SP-122.

Cenário - Ao longo do percurso, a trilha se transforma. A vegetação rasteira, que cresce sobre as antenas de alta voltagem instaladas ao longo da rodovia, cede lugar a árvores robustas. Ali, ver o céu só é possível a partir de alguns mirantes.

Em alguns trechos, a trilha se tornava tão estreita que era impossível colocar os dois pés juntos, um ao lado do outro.

Para nos comunicarmos, levamos celulares e um aparelho de rádio freqüência. Ainda assim, o isolamento foi quase completo. Só conseguimos falar pelo rádio uma vez, já próximos do retorno.