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Contos em flashes

Escritora Heloisa Seixas lança livro 'Contos Mais que Mínimos' com histórias de 500 caracteres; obra é vendida por R$ 23

Por Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
02/03/2010 | 07:00
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Flores, solidão, réstia, volúpia. São palavras trabalhadas com lirismo em textos curtos, histórias rápidas e quase sempre densas, como flashes certeiros sobre momentos instantâneos do dia a dia.

Parece uma descrição do livro "Pequenos Poemas em Prosa" que Charles Baudelaire escreveu lá no seu século 19. Mas não é. Trata-se do lançamento "Contos Mais que Mínimos" (Tinta Negra, 96 págs., R$ 23), da escritora e jornalista Heloisa Seixas.

Há outras semelhanças - sempre guardando as devidas proporções - entre as duas obras. São, ambas, seletas de textos escritos durante cerca de dez anos. Alguns deles, no caso de Baudelaire, publicados em jornais. Já os de Heloisa, todos.

Em dois periódicos, um paulista e um carioca, a escritora manteve coluna com seus minicontos (ou minicrônicas). Agora, 60 deles estão reunidos no livro divididos em cinco capítulos temáticos.

É uma boa dica para os novos leitores, esses dos tempos de Twitter e correria. Cada conto ocupa uma única página e tem cerca de 500 caracteres. Mas é também uma leitura indicada para quem gosta de se sentar embaixo de uma árvore e saborear um texto bem escrito.

Pode até ser mais recomendado para o segundo tipo de leitor, até porque a maior parte dos contos não termina no ponto final. A história continua na cabeça. É como se olhar uma fotografia e ficar imaginando os momentos antes e depois do registro.

A divisão dos capítulos contempla assuntos como amor e morte, fantasmas, o ofício do escritor e a solidão. Traz personagens sem nome e alguns conhecidos, como Octavio Paz e Carlos Heitor Cony. "Contos Mais que Mínimos" tem belas ilustrações em linoleogravura assinadas por André Beltrão.

Heloisa Seixas já publicou romances, entre eles "A Porta" (1995), "Diário de Perséfone" (1998) e "Pérolas Absolutas" (2003), além de livros de contos e obras infantil ("Histórias de Bicho Feio", de 2006) e juvenil ("Uma Ilha Chamada Livro", de 2009). Pretende agora lançar-se na dramaturgia.

Trechos

"A Insustentável Leveza"

Com o dedo indicador, o escritor aperta a última tecla - o ponto final. Dias, semanas, meses de prazer e dor, a embriaguez da fartura alternando-se com momentos de esterilidade em que mirava as palavras por escrever como se fossem as areias de um deserto. Nunca vou chegar lá, pensava. Mas chegou. Seu livro está pronto. E agora? Agora, não está feliz. Sente-se frágil, vazio, leve demais. Pensou que, prendendo-os no papel, se veria livre de seus fantasmas. Mas, suprema ironia, agora que deles se livrou, está oco e só. Quer seus espectros de volta.

"A Casa das Bonecas"

Tive uma sensação imediata de desconforto ao entrar na loja. Por toda parte, sobre balcões e prateleiras, havia dezenas de bonecas, seus pequenos corpos inertes amontoados.

O dono da loja não estava à vista e eu, que desde pequena sempre tivera medo de bonecas, me senti oprimida. Eram bonecas de vários tipos, todas muito antigas, com seus rostos de biscuit, cabelos opacos e seus olhos de cristal - fixos, mortos.

De repente, senti como se alguém me observasse pelas costas. Virei-me, devagar. E o terror me gelou os ossos. Vi, com toda nitidez, um daqueles olhos de cristal piscar para mim.

Outros Lançamentos

"As Redes Secretas do Poder"

Tudo o que acontece em nossas vidas é mera obra do destino ou estamos sob controle de alguém? O historiador argentino Pablo Allegritti mergulhou em estudos para desvendar sociedades secretas que conspiram e exercem seu poder. O resultado é o livro As Redes Secretas do Poder (Planeta, 384 págs., R$ 42), que observa organizações - religiosas, maçônicas, militares etc. - de todo o mundo. "Um totalitarismo encoberto e uma constelação de mentiras, escondidas magistralmente por trás de uma farsa democrática, nos quais cada pessoa ficaria presa ou dominada, psicológica e geneticamente".

"A Filosofia de O Símbolo Perdido"

Na onda da ficção de Dan Brown, O Símbolo Perdido, o mercado editorial lançou vários livros. Um deles é este, A Filosofia de O Símbolo Perdido - Guia de Curiosidades (Lua de Papel, selo da editora Leya, 224 págs., R$ 25), de Thomas R. Beyer. A intenção do autor é, assumidamente, ajudar os leitores a compreenderem melhor a obra de Dan Brown. O título expõe detalhes interessantes da maçonaria, que teria colocado 14 presidentes na Casa Branca entre os 24 da história dos Estados Unidos. Lembra também que, visto de cima, o Monumento a Washington tem o formato de uma pirâmide egípcia.

"A Guardiã da Meia-noite"

No meio da enxurrada de lançamentos sobre vampiros, está uma história que se passa durante a Segunda Guerra. O império nazista pretende se livrar dos impuros ou indesejados, e os vampiros estão no alvo. Mas um grupo deles desloca-se de Londres para Berlim com a missão de evitar os terríveis planos de Hitler. Cheia de poder, a bela vampira Brigit também viaja, mas precisa superar a distância de seu amado Eamon. Durante a missão, o grupo percebe que os nazistas estão mais preparados que se imaginava. A Guardiã da Meia-noite (Planeta, 336 págs., R$ 40) é o livro de estreia de Sarah Jane Stratford.




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