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Estado orienta escolas a apontar faltas de alunos; Apeoesp questiona

Subsede de Santo André entende que medida vai incentivar a evasão escolar

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
04/11/2020 | 00:01
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Integrantes da subsede de Santo André da Apeoesp (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) questionam orientação da Seduc (Secretaria de Educação do Estado), por meio de comunicado enviado às unidades escolares em 15 de outubro, para que sejam lançadas faltas dos alunos que não têm participado das atividades remotas. A alegação é que isso vai ocasionar a retenção de estudantes que não têm aderido às aulas a distância e aumentar a evasão escolar.

Segundo o professor de história e conselheiro da Apeoesp em Santo André Raphael Bueno Bernardo da Silva, a orientação tem agravado “o já difícil ano letivo de 2020”, porque vem após a secretaria ter sinalizado, em um primeiro momento, que não haveria retenções este ano. “Ainda estamos no ensino remoto, mas as dificuldades das famílias e das comunidades continuam. Muitos estudantes não conseguem fazer as atividades, seja por falta de internet, seja por falta de mediação da escola e do professor”, relatou. “A partir do momento em que o Estado orienta a lançar faltas, cresce o receio de repetência e evasão escolar”, ponderou.

Para o professor, o mais adequado seria permitir que estes estudantes recuperem o conteúdo quando for possível. “Não podemos ficar pensando em retenção ou faltas, mas, sim, em manter (o ano letivo) em aberto, inclusive para o ano que vem. Nem que seja para recuperar o estudante somente em 2021, unindo de fato os dois anos letivos em um ciclo só”, opinou. Silva lembrou que, de acordo com as regras do governo estadual, alunos com 75% de faltas são automaticamente retidos e não passam de ano.

Professora de geografia na rede estadual há 23 anos, Adriana Silva, 48, afirmou que a orientação tem causado confusão onde leciona, com docentes lançando as faltas e outros ainda aguardando. Na sua avaliação, seguir a determinação da Seduc vai agravar a evasão. “Ao longo do ano, creio de 60% dos alunos participaram. Temos feito busca ativa, entrado em contato com as famílias, alguns vêm à escola buscar as atividades, entregam e os coordenadores nos enviam foto”, explicou. “Avalio que é um grande erro fazer desta forma e está gerando muitos conflitos, na medida em que se coloca as faltas, a evasão vai ser muito grande”, reforçou.

O documento enviado às escolas , além de orientar sobre a atribuição de notas e faltas, também destaca a necessidade de empregar esforços para contatar os alunos e considerar que todo e qualquer esforço dos estudantes deve ser valorizado. Com relação aos estudantes que não entregaram nenhuma atividade até as datas previstas para os lançamentos, depois de terem sido empreendidos todos os esforços relacionados à busca ativa por parte da unidade escolar, deve-se fazer o apontamento de que não há nota e lançar as faltas relativas às atividades propostas. 

Em outubro, o Diário publicou que a pesquisa TIC Educação, feita pelo Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), sob os auspícios da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), divulgada em junho, mostrou que 39% dos alunos de escolas públicas urbanas não contam com meio de acesso à internet. O estudo foi feito em 1.000 escolas urbanas e 1.400 escolas rurais em todo o Brasil, no ano passado.

Questionada, a Seduc informou, por telefone, que o documento não visa causar evasão e, sim, atuar na busca ativa dos alunos e que isso está claro no texto.




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