Cultura & Lazer Titulo Literatura
Fanfarrão desvairado

Livro traz um Mário de Andrade, que partiu há exatos 75 anos, apaixonado por Carnaval e pelo País

Miriam Gimenes
24/02/2020 | 22:19
Compartilhar notícia
Divulgação


Adjetivo usado para quem gosta de bagunça nos dias atuais, se fosse vivo, o escritor modernista Mário de Andrade poderia ser classificado como um fanfarrão. Habitué dos grandes salões de Carnaval, não só em São Paulo como também no Rio de Janeiro e Recife, um dos ícones literários brasileiros – que partiu há exatos 75 anos – não perdia a uma festa onde esvoaçavam confete e serpentina.

Essa sua faceta entre tantas outras é mostrada no livro Em Busca da Alma Brasileira – Biografia de Mário de Andrade (Sextante, R$ 49,99), de autoria do jornalista Jason Tércio. Na obra, o biografado é retratado como ousado e tímido, recatado e escandaloso, confessional e comedido, modesto e vaidoso, apolíneo e dionisíaco, singular e plural.

A ideia de pesquisar a fundo sua história surgiu para o escritor por causa da admiração. “E para melhor se entender a sua obra e o seu projeto cultural. Ele não foi apenas autor de romances, contos e poesias (veja Quando eu Morrer, à dir.), mas também um militante cultural. Então a biografia focou o seu papel histórico, seu processo criativo e também a sua vida íntima, os conflitos psicológicos, as aventuras amorosas etc. E para isso eu tive de fazer uma revisão da história do Modernismo.”

Para tanto, Tércio mergulhou na obra e vida do autor de Pauliceia Desvairada por uma década. E revela que antes da pesquisa tinha a imagem oficial de Mário, ‘um intelectual metódico, austero, que só vivia no gabinete e na missa, católico praticante, com muitas doenças, homossexual e um dos integrantes do Modernismo.’ “Ele era metódico sim, disciplinado e católico, um intelectual com profundo amor ao Brasil, mas ao mesmo tempo era festeiro, bem-humorado, boêmio, gostava de Carnaval, e era bissexual, porque encontrei várias evidências de relacionamento dele com mulher.”

Na publicação, o autor fez não só essas, mas várias correções históricas na vida do escritor. “Os equívocos corrigidos são de que Mário ignorou o samba carioca, que ficou nacionalista só a partir de 1924, que Oswald de Andrade foi o pioneiro da vanguarda modernista no Brasil, que a Semana e o Modernismo foram um projeto das elites do café – mostro que foi um movimento de classe média –, que o grupo alugou o Theatro Municipal para a Semana, mas não foi alugado”, exemplifica. Para Tércio, a pesquisa sobre Mário, como escreveu na introdução da biografia, nunca terminará. “Ele era um oceano, onde quanto mais se mergulha, mais coisas se descobrem”, finaliza.   




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;