Um cinema plural, evidentemente. E também um cinema consciente de si, como arte e retrato. Qual cinema quer Arraes com Lisbela e o Prisioneiro? Um vaudeville talvez, numa exegese impulsiva que se oriente apenas pelo cômico romance da filha do delegado (Débora Falabella) e do trambiqueiro forasteiro (Selton Mello). Mas Arraes introduz ali a perspectiva do cinema enquanto idealização. A mocinha projeta o amor perfeito a partir dos filmes a que assistiu no cinema e o diretor assimila essa informação, de fantasiar a realidade, que emanam das retinas de Lisbela para o colorido de seu próprio longa-metragem. Lisbela é cinema ciente de seu poder de disciplinar o imaginário, um divertido mea culpa.
E qual o cinema que o veterano Pereira dos Santos pretende com Raízes do Brasil? A princípio, um retrato do intelectual Sérgio Buarque de Holanda e, como tal, incorpora as realizações do retratado. Mas o documentário divide os feitos de Sérgio em duas partes: os emocionais e os intelectuais. Não é o homem que se adapta ao filme; é o filme que deve ignorar modelos e formatos para se adequar à subjetividades do homem, que neste caso conduziu a sociologia para entender a transição brasileira de colônia a república e lia tiras de Luluzinha nas horas vagas. Ah, e que foi pai de Chico Buarque.
23ª Mostra de Cinema Brasileiro de São Bernardo – Exibições dos filmes Lisbela e o Prisioneiro (sábado, às 20h; domingo, às 16h) e Raízes do Brasil – Uma Cinebiografia de Sérgio Buarque de Holanda (sábado, às 16h; domingo, às 20h). No Teatro Cacilda Becker – praça Samuel Sabatini, 50 (Paço Municipal), São Bernardo. Tel.: 4330-3444. Ingr.: R$ 2.
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