Política Titulo São Bernardo
Oposição derrota Marinho e veta ideologia de gênero

Oposicionistas se unem ao G-9 e barram inclusão
do termo no PME; o clima tenso marca a votação

Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
10/12/2015 | 07:00
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André Henriques/DGABC


O governo do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), saiu derrotado ontem da Câmara pela oposição, que, aliada ao G-9 (ala independente), impôs veto nominal à ideologia de gênero na redação do PME (Plano Municipal de Educação). A restrição ao ensino de diversidade sexual nas escolas estava em pacote de emendas modificativas foi aprovado por 21 dos 28 vereadores. O PT, com exceção de Tião Mateus, votou contra as emendas.

Marinho, que pressionava os vereadores pela aprovação da matéria sem alteração no texto original, poderá enviar rejeição às modificações solicitadas. Mas a Casa tem poder para derrubar a decisão do prefeito.

A sessão foi marcada por clima de guerra no plenário, que ficou lotado por manifestantes contrários à instituição da ideologia de gênero na matéria original. Comissionados do governo Marinho também marcaram presença na Casa, com protestos contra vereadores autores das emendas. Cerca de 300 pessoas ocuparam os assentos da Câmara, enquanto outras 200 ficaram do lado de fora. A entrada foi restrita e a GCM (Guarda Civil Municipal) foi acionada pelo Legislativo para realizar trabalho de segurança. Nenhum entrevero foi registrado.

Na semana passada, em meio a impasse na discussão da matéria, o Legislativo adiou a votação definitiva do plano. No decorrer da semana, vários embates foram proporcionados entre os parlamentares.


SESSÃO
Os oposicionistas Julinho Fuzari (PPS) e Pery Cartola (SD) utilizaram a tribuna para reforçar crivo às alterações. “Não podemos deixar que algo tão sério assim seja permitido e as nossas crianças fiquem desprotegidas”, disse Julinho. “A defesa é pela família. Não cabe a escola orientar sobre diversidade sexual”, discorreu Pery.

Na sequência, os oposicionistas receberam o apoio dos governistas João Batista (PTB) e Rafael Demarchi (PSD), que inflaram discursos de apoio à aprovação das emendas. Em cada fala, o público presente manifestava apoio efusivo, com gritos de ‘família’ e aplausos.

“Existem pegadinhas nesse plano que permitem a liberdade para o debate de gêneros. Sou aliado do prefeito, mas não alienado”, exclamou Batista. “O prefeito Marinho tirou o termo da redação, mas é fundamental que esteja proibido. Criança precisa ser protegida por lei. Se a Secretaria de Educação insistir em colocar a ideologia de gênero estará cometendo crime”, opinou Rafael.

Os petistas se restringiram a fala do líder da bancada, José Cloves, que, de forma sucinta, rebateu. “O PT é a favor da família”. O discurso foi acompanhado de vaias.

Presidente do Legislativo, José Luís Ferrarezi (PT) criticou o episódio. “O que aconteceu hoje (ontem) foram erros de todos os lados. Não vi ninguém discutindo a qualidade do ensino e as metas dos planos. Todos nós perdemos”, pontuou.

Bancadas racham durante análise do polêmico texto

A condução dos trabalhos legislativos em São Bernardo ontem foi marcada também pela falta de consenso entre as bancadas parlamentares. Unidos para impor veto à ideologia de gênero no PME (Plano Municipal de Educação), oposicionistas e integrantes do G-9 não convergiram nas justificativas pelo crivo às modificações.

Manifestando contrariedade, Hiroyuki Minami (PSDB), Antônio Cabrera (PSB) e Osvaldo Camargo (PPS) votaram contra o teor do PME. “O que vocês fizeram de errado foi aprovar esse plano. As emendas podem ser vetadas pelo prefeito. Tinham de rejeitar tudo hoje (ontem)”, pontuou Minami. “Está faltando muita coisa nesta matéria. Muito evasiva. Não tem qualquer qualidade esse teor”, adicionou Cabrera.

A reação dos oposicionistas forçou debate áspero. Integrante do G-9, Ramon Ramos (PDT) falou em compromisso em torno do posicionamento. “Se o prefeito Luiz Marinho vetar a emenda contra a ideologia de gênero, eu derrubarei sua decisão”, disse Ramon. A afirmativa foi endossada pelos demais vereadores. Oposicionista, Marcelo Lima (PPS) cobrou os colegas. “Cabe a todos se responsabilizarem em manter a decisão escolhida.”

No PT, a desarticulação ocorreu após Tião Mateus votar favorável às emendas da oposição. “Tenho posicionamento e sempre deixo isso claro no plenário. Muitos dos problemas que o partido enfrenta é pela falta de comunicação entre os vereadores”, afirmou.

Líder da bancada, José Cloves, que defendia a matéria sem alterações, negou que tenha deixado de votar por pressão da população. “Poderia ter votado ‘não’, mas somente deixei de registrar minha vontade porque achei inconstitucional. Apenas isso”, esquivou.

Ex-titular da Educação, Cleuza condena decisão de vereadores

Ex-secretária de Educação do governo do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), Cleuza Repulho (PT) utilizou seu perfil no Facebook ontem para condenar a decisão dos vereadores em impor emenda ao PME (Plano Municipal de Educação) que explicita veto nominal à ideologia de gênero no texto original.

“Um dia triste para quem acredita no respeito à diversidade. Durante seis anos e meio convivi com uma rede de Educação que acredita na escola pública e que a ousadia fazia parte do dia a dia. E convivi com uma Câmara de Vereadores que não está à altura desta rede. O retrocesso hoje (ontem) venceu a ousadia. Mas jamais vencerá a vontade de incluir e respeitar todas e todos”, escreveu a ex-titular.

Cleuza comandou a Pasta por seis anos, deixando a gestão em julho. Ela ficou grifada por problemas judiciais e é ré em processo movido pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) ABC, acusada de desvio de recursos públicos e formação de quadrilha. Segundo promotores, ela participou de esquema que superfaturou em pelo menos R$ 4 milhões compra de tênis e mochilas a alunos da rede pública. O Ministério Público chegou até a pedir prisão preventiva dela, o que foi negado em primeiro momento. O processo tramita no Fórum de São Bernardo.

Atual secretário de Educação, Paulo Dias (PT) também criticou a postura dos parlamentares. “Fiquei indignado com o comportamento de alguns vereadores, que espalharam muitas mentiras nos últimos dias. Colocaram em risco a vida de docentes, que jamais fariam tal coisa. Não tinha no texto a ideologia de gênero”.

PROCESSO ELEITORAL

Para Ferro, PT e Morando brigam pelo 2º lugar

Provável nome a ocupar a vaga de vice na chapa liderada pelo deputado federal Alex Manente (PPS) na corrida eleitoral ao Paço no ano que vem, o ex-vereador de São Bernardo Admir Ferro (PTB) provocou os apoiadores das candidaturas do deputado estadual Orlando Morando (PSDB) e do secretário de Serviços Urbanos, Tarcisio Secoli (PT), ao comentar a polarização entre ambos no processo eleitoral. Nas últimas semanas, aliados do tucano e do petista falaram em rivalizar na disputa pelo comando do Executivo sem a presença de Alex.

“Haverá sim uma polarização entre o PT e o PSDB na cidade. Será pelo segundo lugar. Nosso trabalho está sendo bem aceito e vem ganhando força a cada dia, diferentemente deles”, discorreu Ferro.

Pelo PSDB, a afirmativa partiu do ex-deputado federal Edinho Montemor, enquanto que pelo lado petista o comentário foi proferido pelo deputado estadual Luiz Fernando Teixeira. Os políticos acreditam em fragilidade no grupo de Alex.

“Os resultados das pesquisas não dizem isso. Pelo contrário. A aceitação vem crescendo a cada dia e por isso ocorre a preocupação deles”, adicionou Ferro, citando as sondagens publicadas pelo Diário em março e agosto, em que o popular-socialista aparece em liderança consolidada.

Depois de 25 anos de filiação no tucanato, o ex-parlamentar ingressou nas fileiras petebistas, em acordo firmado pela cúpula estadual, que é presidida pelo deputado Campos Machado (PTB). 

“Não estamos pautando essa discussão no momento (nomeação de vice). O trabalho está com foco na formalização da chapa de pré-candidatos a vereador e fortalecimento do partido. Temos nomes suficientes já para apresentar um bom time. E isso ainda não está fechado, porque estamos aceitando filiações”, acrescentou o petebista.

A legenda apoiou a candidatura petista nas duas últimas eleições, elegendo Frank Aguiar como vice-prefeito na chapa liderada pelo prefeito Luiz Marinho (PT). Atualmente, a sigla é somente representada pelo vereador João Batista, que pode deixar o partido para migrar ao PRB, também integrada ao arco de aliados de Alex.




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