Cultura & Lazer Titulo
'Casa-Grande & Senzala' vira história em quadrinhos
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
15/07/2001 | 17:30
Compartilhar notícia


Clássico da sociologia brasileira, o livro Casa-Grande & Senzala ganha cores na versão em quadrinhos que chega às livrarias especializadas 20 anos depois de sua edição em preto-e-branco publicada pela Ebal (Editora Brasil América). Os desenhos de Ivan Wasth Rodrigues foram colorizados pelo artista Noguchi, a partir de uma pesquisa cromática feita em aquarela, depois transposta para o traço característico das HQs.

A edição atual da ABEGraph e Letras e Expressões tem duas opções de capa e de preço: dura (R$ 48) e em papel cartão (R$ 15). Editada no ano passado para comemorar o centenário de nascimento de Gilberto Freyre (1900-1987), autor do livro publicado em 1933, é o primeiro álbum de uma série que a editora pretende por no mercado sobre obras que explicam o Brasil. Trabalho herdado da Ebal que, por motivos econômicos, não tocou o projeto.

Em um texto reproduzido no livro, Freyre ressalta sua simpatia pelos quadrinhos como meio de levar às crianças – e também aos adultos – certos compêndios literários que, por falta de tempo ou de acesso, não teriam como obtê-los.

Sob orientação do próprio Freyre, Estevão Pinto, já morto, resumiu todo o volume de texto do sociólogo nas 52 páginas da edição em quadrinhos. Rodrigues, o desenhista, pesquisou as imagens entre os artistas que retrataram os primeiros séculos do Brasil, como Jean-Baptiste Debret. Também foram utilizadas reproduções de fotos (creditadas na obra). Estevão Pinto também preparou com Rodrigues a versão de Singularidade da França Antártica – A que Outros Chamam de América, do frade francês Andres Thevet, vindo com os invasores franceses no século XVI. As aquarelas, informa Rodrigues no prefácio da edição, estão prontas.

Os quadrinhos não fogem do principal aspecto da obra de Freyre: explicar a formação social do povo brasileiro, único em sua mestiçagem, por meio da democracia racial. A tese da dissolução das contravenções sociais e da fusão racial de índios, brancos e negros como modelo para o mundo estão estampadas tal qual Freyre as colocou em seu livro.

Mas não faltaram polêmicas a essa tese, que ainda não é unânime. A diluição dos estamentos sociais entre a casa-grande (morada do senhor de engenho) e a senzala (habitação de escravos), em virtude da aglutinação sexualizada em torno do núcleo patriarcal, atualmente é criticada pelo movimento negro brasileiro. O motivo principal é o estereótipo da sensualidade da mulher negra.

Freyre também não escapa das críticas dos intelectuais de esquerda por seu conservadorismo e por sua adesão ao movimento de 1964. Freyre virou ícone da esquerda a partir de 1933, ao provar que uma raça não precisava ser superior à outra (eram os tempos de Hitler e do nazi-fascismo). Também foi alçado pela direita, quando o ditador português Alberto Salazar usou as idéias de Casa-Grande & Senzala para atacar a independência das colônias africanas.

Casa-Grande, enfim, é uma obra que, por pretender alcançar as bases da formação de nossa sociedade, figura entre os livros fundamentais para se entender o Brasil, ao lado de Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, e Os Sertões, de Euclides da Cunha.

Em quadrinhos, os textos resumem as idéias básicas da obra e os desenhos de Rodrigues são as imagens expostas no texto por Freyre: hábitos, costumes, moda, gastronomia e sensualidade, especialmente da mulher morena mestiça. Pode ser encomendado nas lojas Comix Book Shop (tel.: 3088-9116), Banca Flávio (tel.: 287-6790) e Super-Revista em Quadrinhos (tel.: 5579-4762).




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;