Cultura & Lazer Titulo
Efeito repeteco
Sara Saar/ Luciane Mediato, Especial para o Diário
22/05/2011 | 07:00
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Na última década, a TV aberta perdeu gradativamente audiência, seja para o sofá vazio, seja para outros meios de comunicação. De 2001 a 2010, a quantidade de televisores ligados passou de 59% para 56%, uma queda expressiva de três pontos percentuais, segundo o PNT (Painel Nacional de Televisão).

O afastamento, além de fatores socioeconômicos e do fortalecimento das mídias concorrentes, também pode ser justificado por uma programação que tem exagerado no ‘mais do mesmo'. Exemplo, na teledramaturgia, é a enxurrada de remakes, apoiada por um sucesso aqui e ali, como é o caso de "Ti-Ti-Ti", exibida entre 2010 e 2011. Estão programadas para este ano, macrossérie inspirada em "O Astro", exibida nos anos 1970, e adaptação de "Guerra dos Sexos", que bombou na década seguinte. Criatividade, cadê?

Se é para revisitar momentos bem-sucedidos da TV, o telespectador tem preferido os originais. Isso explica em parte o êxito do Canal Viva, pertencente ao sistema Globosat. Em alguns momentos, chega a ter mais audiência que a própria Globo. "As cópias e as imitações dos canais não são um fenômeno apenas nacional. Os programas na verdade são formatos vendidos e adaptados conforme a necessidade e a época. E se a questão é a qualidade e os programas populares, acredito que a televisão nada mais é que reflexo da sociedade", afirma Carla Pollake, professora de Audiência e Recepção no curso de rádio e TV da Universidade Metodista de São Paulo.

As redes também contribuem para os desfalques de audiência da TV convencional. "O Facebook e o Twitter possibilitam interação. Os telespectadores estão se deslocando para espaços que trazem conteúdo com mais agilidade. Direta ou indiretamente, as pessoas acompanham a TV aberta", afirma o pesquisador de TV Claudino Mayer, da USP.

A TV fechada, que cresceu mais de 30% no País em 2010, atraiu parte deste público. Mas este número continua inexpressivo, diz Maria Aparecida Baccega, professora no mestrado em Comunicação e Práticas do Consumo, da ESPM. "Na medida em que a TV fechada foi mais expandida na Grande São Paulo, os espectadores começaram a ver outros programas, mas o número que migrou é inexpressivo em relação à TV aberta", explica. 

Carla também não acredita que a audiência dos canais tradicionais tenha sofrido baque com a TV a cabo. "Afinal, só 9 milhões de pessoas no País inteiro têm acesso." 

VIDA REAL

Muitos fatores contribuem para queda da audiência. "As pessoas trabalham muito mais. As mulheres, que eram a maioria dos telespectadores, estão inseridas no mercado de trabalho. O resultado disso é que os programas da manhã e da tarde vêm perdendo público. Além disso, as pessoas vêm desenvolvendo outras atividades fora de casa como estudar, ir ao cinema e teatro", diz a professora da Metodista.

Mesmo entre tantos repetecos, a produção brasileira ainda merece elogios. "Possibilita que o telespectador alivie as tensões do seu dia e discuta no outro. As telenovelas lidam com situações do cotidiano, alertam a população", acredita Mayer.

Em contraponto, ficam os programas que fazem a exploração máxima da violência. "Parece mercado de ofertas: vale quem grita mais alto", aponta. "Mas sempre haverá pessoas que gostarão disso. Houve uma mudança socioeconômica, não sociocultural", acrescenta o pesquisador.

Quem se importa com qualidade segue tendo como arma o controle remoto. "O telespectador tem total controle sobre o que assiste. Ele não é obrigado a ver o que está passando. Se não quiser, desliga a TV", opina.



CANAIS PAGOS TAMBÉM PECAM
A busca dos telespectadores pela programação da rede paga se deve a encontrar mais possibilidades de atrações. Mas o que se percebe é que as emissoras do meio também começam a apresentar obstáculos no momento de divertir o púlbico diante do televisor.

Se antes programas de vendas por telefone ou de ofertas dos mais variados produtos recheavam horários de alguns canais comuns, essas atrações agora já contam com espaço em emissoras especiais. Quem gosta de separar um tempo na madrugada, por exemplo, para relaxar diante de um seriado, um filme, um noticiário ou acompanhando qualquer evento esportivo tem o trabalho de se esquivar das ofertas de joias, roupas, carros, imóveis e, até mesmo, cabeças de gado.

O horário comercial também parece aumentar. Não é novidade que programas que têm cerca de 20 minutos de duração original tenham seus capítulos estendidos por quase 40 minutos devido ao longo tempo de intervalo. Em muitos momentos, o tempo dos anúncios da rede paga chega a ser absurdamente maior do que o existente na programação convencional. Alguns filmes ‘comuns' chegam a ter três horas de exibição.

Até mesmo a variedade de atrações parece ter sido deixada de lado nos últimos tempos. Seriados como "Friends", na Warner Channel, "C.S.I. Miami", transmitido pelo AXN, "Grey's Anatomy", da Sony, e "Law & Order", atração da Universal Channel, são alguns exemplos de cansativas repetições.

A popularização da TV a cabo mostra o potencial do Brasil para esse mercado. Porém, ao invés de justificar o dinheiro investido pelo público e valorizar seu trabalho, esse tipo de programação começa a copiar alguns dos itens mais irritantes da televisão aberta, que, ao menos, temos de maneira gratuita. (Luís Felipe Soares)




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