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Internação domiciliar atende 1.448 pacientes

Assistência reduz riscos de contrair infecção hospitalar

Por Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
19/12/2011 | 07:00
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Ficar doente e acamado ninguém quer. Exige atenção especial, cuidador em tempo integral, disposição, avaliação médica periódica e muito amor no trato. Mas essas obrigações podem ser suavizadas por meio de iniciativas como a do Programa de Internação Domiciliar, que hoje funciona em quatro das sete cidades do Grande ABC e atende a 1.448 pacientes em domicílio. O nome pode variar de uma cidade para outra, mas a proposta é a mesma. Na região, os programas são mantidos pelas prefeituras de Santo André, São Bernardo, São Caetano e Mauá.

O objetivo é oferecer atendimento humanizado na casa do doente com assistência de profissionais da Saúde e priorizar a qualidade de vida do paciente longe dos leitos hospitalares. Entre os pacientes inclusos no programa estão portadores de doenças crônicas, cardiovasculares, degenerativas (como Alzheimer e Parkinson), com sequelas de derrames, doenças pulmonares, etc.

A impossibilidade de locomoção é requisito para ser beneficiado, e as visitas são feitas semanalmente. É preciso ter quadro clínico estável e um cuidador à disposição todos os dias. As equipes são formadas, geralmente, por médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas, nutricionistas e assistentes sociais. A indicação do paciente para inclusão no programa é feita pelo médico e não pode ser solicitada pela família.

No Grande ABC, a cidade com maior número de acamados atendidos em casa é Santo André, com 666, seguida por Mauá (404), São Caetano (258) e São Bernardo (120).

ROTINA

A equipe do Diário acompanhou a visita de uma equipe à casa da aposentada Geni Berlamina de Andrade, 83 anos, que mora no bairro Botujuru, em São Bernardo. Ela desenvolveu Mal de Alzheimer há cerca de cinco anos. Em casa, recebe cuidados semanais dos profissionais. Dependendo da gravidade, a equipe se desloca até duas ou três vezes na mesma semana para avaliação médica da paciente.

Normalmente a visita dura cerca de meia hora. São verificados sinais vitais, pressão, condição da urina, qualidade da dieta alimentar e medicação aplicada. Os familiares interagem a todo momento com a equipe, o que torna o atendimento intimista e especializado.

O vínculo e a identificação com os profissionais são fundamentais para alcançar o controle da doença e incentivar a recuperação. A perspectiva de vida do paciente aumenta e não há risco de contrair infecções hospitalares. "No hospital você é um número. O ambiente é frio. Aqui os pacientes têm nome, endereço e comodidade. O clima é diferente. Além disso, conseguimos liberar leitos nos hospitais e mesmo assim manter os pacientes amparados", disse a coordenadora do PID de São Bernardo, Rose Magalhães, que participou há 20 anos da primeira experiência brasileira do programa, em Santos, no Litoral.

Médico do PID exalta qualidade de vida

O médico que visita a aposentada Geni Berlamina de Andrade, 83, em São Bernardo, avalia que a proximidade com o paciente é o diferencial para controle das doenças. "No hospital, um médico toma conta de várias pessoas ao mesmo tempo. O Programa de Internação Domiciliar traz qualidade de vida e conforto ao acamado. Temos mais tempo para a consulta", disse o generalista Erico Fillev, que atende de segunda a sexta-feira de oito a dez pacientes em domicílio.

Quem toma conta há 15 anos da aposentada é a nora, Damiana Cristina, 42. Há um ano ela deixou de se deslocar até três vezes por semana ao Pronto-Socorro Central para buscar atendimento à sogra. O percurso era desgastante e comprometia a agenda da família. "É outro nível. As equipes são abençoadas e todos cuidam bem dela. Nos tornamos amigos. Espero que outros pacientes na mesma condição possam receber esse cuidado", elogiou a dona de casa.

Os acamados têm retaguarda do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência caso haja necessidade de transporte para realização de exames e consultas de urgência.

Cerca de 60% dos pacientes atendidos em São Bernardo são idosos, de acordo com a coordenadora do programa. Também são assistidos pacientes oncológicos e crianças que necessitam de cuidados paliativos.

Cada equipe do PID de São Bernardo atende 30 pacientes. A Prefeitura planeja dobrar os beneficiados até o ano que vem e ampliar de quatro para dez o número de equipes. Por mês, são desembolsados R$ 60 mil para manter o programa.

Segundo o secretário de Saúde de São Bernardo, Arthur Chioro, a integração do PID possibilita a redução de gastos com manutenção do leito hospitalar. O valor depende da enfermidade e dos cuidados exigidos pelo paciente. "Parte do custo é assumido pela família, que fornece alimentação e troca de roupas, por exemplo. Só a melhora da qualidade de vida do paciente justifica a saída do hospital. Todos lucram. O paciente, que volta ao convívio familiar, e a família, que pode tentar retomar a vida cotidiana."

União promete investimento até 2014

A presidente Dilma Rousseff (PT) lançou no início de novembro o programa Melhor em Casa, que prevê ampliação do atendimento domiciliar do Sistema Único de Saúde com investimento de R$ 1 bilhão em Estados e municípios até 2014. O objetivo é o mesmo: levar atendimento médico às casas de pessoas com necessidade de reabilitação motora, idosos, pacientes crônicos sem agravamento ou em situação pós-cirúrgica. A meta do governo federal é que, até 2014, o programa tenha 1.000 equipes de atenção domiciliar e 400 de apoio em todo o País. As prefeituras da região que contam com o programa estão se adequando ao PID e aguardam repasse de verba para ampliar a cobertura do programa.

Em Santo André, o projeto foi criado em 1997, mas foi reformulado em 2009. Existem três equipes, que contam com outros profissionais de retaguarda, como psicólogos, fonoaudiólogos e dentistas, acionados quando há necessidade.

Dos 666 pacientes, 161 são dependentes de equipamentos de oxigenoterapia, que demandaram investimento de R$ 120 mil da Prefeitura neste ano. A aquisição dos 100 cilindros portáteis de oxigênio auxilia portadores de insuficiência respiratória e evita complicações cardíacas.

Em São Caetano, a iniciativa é conhecida como Programa de Atenção Domiciliar, que existe há dez anos e atende a 250 pacientes. O PID foi incorporado apenas em abril, e outros oito pacientes foram incluídos. Ao todo, o custo mensal para manter os dois projetos é de R$ 50 mil.

Em Mauá, a administração não informou as despesas para custear o projeto, implementado em 1998.




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