Setecidades Titulo Finados
Família e amigos
para superar o luto

Dividir trauma com pessoas próximas é fundamental para
seguir adiante; se a dor se agravar, é hora de buscar ajuda

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
02/11/2012 | 07:00
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O comerciante de Santo André Nei Artur Brandão, 52 anos, vive altos e baixos. Em alguns dias, fala sobre a morte do filho Américo de Pinho Brandão Neto, que sofreu acidente de carro no ano passado na Avenida Portugal, de forma natural. Em outros, é dominado pelo sentimento de dor e perda que acompanha a partida de entes queridos. "Superar é um processo diário. Cada um tem o seu tempo. Mas a ajuda da família e dos amigos do meu filho tem sido essencial para me manter de pé."

Perder quem se ama é algo que fatalmente acontecerá com todos. Mas lutos prolongados podem se tornar doenças psicológicas e precisam de acompanhamento especializado. Segundo a psiquiatra da Faculdade de Medicina do ABC Fernanda Piotto Fralonardo, o luto fisiológico, ou natural, dura até 30 dias. "Em quatro semanas a pessoa consegue conversar sobre o assunto e assimilar a perda. Claro que a dor permanece, mas ela diminui com o tempo até restar apenas as boas lembranças."

Geralmente, a pessoa que perdeu alguém sente que o dia da morte e a primeira semana foram os mais difíceis. Se as dificuldades para superar pioram e a dor se agrava, é hora de buscar ajuda. Conversar com amigos e familiares é essencial, mas, em alguns casos, não é o suficiente. "Muitas vezes a pessoa precisa de terapia, ou mesmo de remédios. São casos em que havia indícios de doenças como a depressão, que se agravaram com a morte."

É comum que quem está mais próximo note os sintomas. Se há perda de sono e apetite, falta de energia e motivação para fazer o trabalho habitual ou atividades que antes davam prazer, a psiquiatra indica que é hora de buscar ajuda.

PERDA DUPLA

Brandão precisou recorrer à terapia e ao tratamento medicamentoso a fim de superar o trauma. Américo tinha 19 anos e voltava de uma lanchonete de madrugada quando aconteceu o acidente, no dia 22 de maio de 2011. A perda desencadeou no comerciante sentimentos sobre a morte de seu pai, em 1990. "Meu filho nasceu um ano depois que meu pai morreu, e foi quem me deu forças para superar. Dei a ele o mesmo nome do meu pai. Quando ele morreu, a sensação foi de perda dupla."

A presença constante daqueles que antes estavam sempre com seu filho dá a Brandão forças para seguir. "Os amigos dele são supercarinhosos e não abandonaram a gente. É a presença dele que continua viva entre nós."

O apoio de pessoas próximas também foi essencial para que o jornalista Cosmo da Silva, 39 anos, superasse a perda da mãe, Maria do Socorro Quixadeira, em 2009. Com histórico de aneurismas na família e sofrendo de hipertensão, Maria do Socorro morreu após diversas idas e vindas ao hospital sem diagnóstico. "Ela gritava de dor na cabeça e só davam analgésicos. Quando o médico resolveu internar, era tarde." Ela chegou a ser operada, mas não resistiu.

Silva lembra que, no momento do sepultamento, foi como se o mundo desabasse. "Os dias vão passando e a gente se pergunta se fez tudo o que podia, se foi um bom filho." Os questionamentos, conforme a psiquiatra da Faculdade de Medicina, são normais no processo de luto.

A proximidade entre os irmãos foi o que ajudou Silva a se recuperar. "Minha irmã gêmea precisou do meu apoio porque ficou muito abalada. Além disso, tive amigos essenciais neste momento." Um deles, inclusive, partiu seis meses depois, vítima de enfisema pulmonar. "Sofri muito, mas hoje vejo que ele fez parte da minha vida exatamente quando eu mais precisava. Sou grato por isso."

FINADOS

Hoje, Dia de Finados, quando se lembra daqueles que se foram, os cemitérios públicos da região aguardam cerca de 170 mil visitantes, Missas, cultos, coral, revoar de balões e até show do grupo Fat Family estão na programação.




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