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Mercado fraco ameaça veículos compactos
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
27/03/2004 | 19:17
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A indústria automotiva brasileira tem condições de se consolidar como uma plataforma mundial de exportação de carros compactos, por possuir escala de produção competitiva nesse segmento de veículos, um parque industrial que tem se modernizado e a forte vantagem do custo de mão-de-obra, que é até seis vezes menor do que em países líderes na produção desses veículos.

No entanto, o Brasil pode perder essas condições se não enfrentar o problema da demanda interna fraca, que impede a redução da ociosidade das fábricas, próxima de 45% da capacidade instalada, e também pode dificultar novos investimentos para a fabricação dos veículos populares. A avaliação é de especialistas e de representantes do setor.

Estudo da consultoria Trevisan aponta a vocação do país como plataforma do compacto por diversos fatores. Um deles é que o mercado nacional do segmento corresponde a 86% da produção (incluindo os carros mil e outros com motorização mais elevada) e também a 86% das vendas internas, o que incentiva a criação de centros de excelência locais.

Além disso, esses modelos correspondem a 88% das exportações de autos. Mas, apesar de ser um dos maiores produtores mundiais de compactos (cerca de 1 milhão de unidades por ano), atrás apenas de Japão, França e Espanha, as vendas externas brasileiras desses modelos são apenas 10% do volume produzido. A Coréia do Sul, com escala muito menor (112 mil unidades por ano), exporta mais de dois terços de sua produção desse tipo de automóvel.

Dados da IMFMetal (Federação Internacional dos Metalúrgicos) indicam que o metalúrgico brasileiro recebe (salário líquido) US$ 3 por hora enquanto o francês e o espanhol, US$ 10, o japonês, US$ 18, e o coreano, US$ 7. Para o presidente da FEM-CUT (Federação dos Metalúrgicos da CUT), Adi dos Santos Lima, o valor da mão-de-obra é um atrativo, junto com uma boa logística de produção e oferta de matéria-prima.

Já o diretor da Trevisan, Richard Dubois, observa que o trabalhador brasileiro é mais caro do que o mexicano (US$ 2,76), húngaro (US$ 2,45) e o turco (US$ 1,95), países que têm produção que concorre com o veículo brasileiro e que estão perto de mercados potenciais. “O grande atrativo é o investimento que já foi feito. A questão é girar o mercado. Se chegarmos a 85% de utilização da capacidade, poderemos gerar mais de 750 mil empregos (na cadeia automotiva e em outras atividades).”

Dubois acrescenta que há instrumentos para reativar a indústria. “O financiamento é a arma mais rápida que temos, mais importante do que a redução de impostos.” Ele avalia que para reduzir a ociosidade das fábricas é preciso atingir novas camadas da população, por meio de financiamento mais acessível.




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