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Billings completa 79 anos e espera por flotação
Por Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
27/03/2004 | 18:07
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Na semana do dia 20 de abril, começam a ser lançados no braço Taquacetuba da represa Billings 10 m³/s de água flotada do rio Pinheiros. Aos 79 anos completados sábado, o reservatório enfrenta uma nova ameaça, na avaliação de ambientalistas, ou está prestes a ser salvo de simplesmente secar, segundo os defensores da reversão do Pinheiros para a represa. Após ter conseguido derrubar a liminar obtida pela Promotoria do Meio Ambiente de São Paulo, que ficou de pé de julho até duas semanas atrás, o governo ainda pode não conseguir iniciar os testes de flotação. A Promotoria exige locais de monitoramento no rio e análises de laboratórios independentes.

A flotação é um sistema de despoluição da água que consiste no despejo de produtos químicos para aglutinar a sujeira em suspensão em flocos. Uma injeção de ar faz com que os flocos flutuem e possam ser removidos na superfície. O objetivo é aumentar o volume de água na Billings. Com mais água, a usina hidrelétrica Henry Borden, em Cubatão, pode ampliar sua geração de energia.

“Sem o bombeamento, a Billings não existiria mais porque é abastecida por rios pequenos. Por ano, bombeamos em média 8 m³/s de águas para a represa. É esse bombeamento que a mantém”, disse o secretário estadual de Energia e Recursos Hídricos, Mauro Arce. Hoje, as águas do Pinheiros são despejadas na Billings apenas em casos de cheias. Nessas ocasiões, o volume bombeado chega a 250 m³/s. É essa água imunda e sem tratamento, bombeada em volumes brutais na época das enchentes, que sustenta a represa atualmente, segundo o Estado e os defensores da flotação.

O argumento parece simples: basta comparar os dados de capacidade e vazão da Billings e Guarapiranga. A Billings tem capacidade para 1,3 bilhão de água e produz 13 m³/s. O volume é considerado baixo pelos especialistas, já que na Guarapiranga, a relação é de 250 milhões para 12 m³/s trazidos pelos seus rios formadores.

O balanço hídrico esgrimido pelos técnicos do Estado, entretanto, não convencem os ambientalistas. Eles se preocupam que haja um aumento dos índices de poluição da represa por conta da flotação. “Qual a folga da capacidade de autodepuração do reservatório?”, questiona o especialista em gestão ambiental da Faculdade Senac, Renato Tagnin, ex-coordenador do Projeto Billings e ex-assessor da Secretaria Estadual do Meio Ambiente. Para Tagnin, a flotação é um risco: “Vai piorar a poluição da represa na estiagem e ainda haverá o problema de turbilhonamento.”

Os argumentos não param de pé, segundo o diretor de Engenharia, Tecnologia e Qualidade Ambiental da Cetesb (Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Ambiental), Lineu José Bassoi. “Considero justos os interesses dos ambientalistas, mas afirmo que a flotação não é solução para problemas de poluição da Região Metropolitana, mas sim a coleta, o afastamento e o tratamento de esgoto. A flotação é um processo complementar para viabilizar o uso da Billings com outra finalidade: geração de energia.”

Energia – Arce, entretanto, minimiza o interesse energético. Segundo ele, na primeira fase da flotação, não deve haver geração de energia na usina Henry Borden. Hoje, a produção da usina varia de 45 a 50 MW e a água que desce da Billings impede o assoreamento do estuário do rio Cubatão. Em 1983, o volume produzido pela usina era de 600 MW.

O revolvimento do lodo não irá ocorrer, afirma Bassoi. “A Billings concentra um morro de 300 metros de resíduos que a deixa com meio metro de profundidade em alguns trechos e, mesmo quando bombeamos 250 m³/s nos dias de cheia, não há turbilhonamento.”

Promotoria – O promotor público Geraldo Rangel de França Neto – que obteve a liminar paralisando os testes – afirmou que vai recorrer da decisão do Tribunal de Justiça que liberou a flotação. E reforçou: “O sistema não entrará em operação se não houver acordo entre o Estado e a Promotoria”.




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