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Em Ribeirão Pires, Quarta Divisão tem até castelo

De propriedade do músico Robson Miguel, construção foi projetada para homenagear o violão

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
12/07/2014 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


 Há 125 anos, o Brasil deixou a monarquia, com seus reis e rainhas e toda a pompa digna da realeza. Mas, no bairro Quarta Divisão, em Ribeirão Pires, imóvel situado na Rua do Castelo remete aos tempos medievais. Trata-se justamente de um castelo, de propriedade do violonista Robson Miguel, 54 anos. Em área de 2.056 m² construídos há, além de cômodos tradicionais, como 13 banheiros e nove quartos, locais e itens inusitados como peças para tortura, calabouços, forca, roda de estiramento, labirintos, passagens secretas, túneis e um buraco negro com 106 metros de extensão, instalado a 30 metros abaixo da terra.

A construção é uma homenagem ao instrumento preferido do músico. “Quando me formei em violão clássico no Conservatório São Caetano, em 1975, perguntei ao meu professor como os violonistas medievais ficaram famosos. A resposta foi que eram músicos da corte. O violão nasceu em castelos, era tocado para reis e rainhas. Foi assim que despertou meu desejo de visitar um forte onde o violão já tivesse soado para os monarcas”.

Com o sonho em mente, Robson passou uma década juntando o dinheiro que ganhava dando aulas de música. Ele, inclusive, teve alunos famosos, como o sambista Péricles. Em julho de 1985, o violonista foi a Málaga, na Espanha, no primeiro dos 78 castelos que visitaria.

Após conhecer cada estrutura, o capixaba de nascimento fez, ele próprio, a planta de sua fortaleza. O bairro Quarta Divisão não foi escolhido por acaso. “Ribeirão Pires abriga áreas verdes e ambiente semelhante aos dos castelos da Europa, que eram feitos em vales”, explica ele, acrescentando que no entorno estão localizadas as primeiras nascentes do Ribeirão Pires, rio que deu nome à cidade.

Quatro equipes de pedreiros trabalharam na obra, inaugurada em 28 de agosto de 1999. No amplo espaço onde mora com a mulher, We’e’na Miguel, índia da etnia Tikuna, do Amazonas (saiba mais ao lado), há divisões que remetem às histórias de reis, indígenas e negros, já que Robson Miguel é cafuso – mistura de negro com índio. Há também a trajetória do artista, que gravou 27 CDs, 19 DVDs e fez carreira internacional.

O castelo tem outra particularidade: Robson esperou o dia e a hora de seu nascimento (28 de agosto, às 12h10) para construir orifício no cume do teto em forma de violão e determinar, com precisão, a incidência da luz do sol em cima do ataúde onde serão guardadas as cinzas do músico depois que ele morrer, conforme o seu desejo. Foram necessários três anos de observação para demarcar o espaço exato e, a partir daí, todos os anos, na data e horário de seu nascimento, o sol bate naquele local. “Minhas cinzas ficarão em um estojo em forma de violão. Vou virar um violão.”

Bairro sedia organizações de proteção e defesa de animais

No bairro Quarta Divisão, os animais têm defensores que não medem esforços para protegê-los e encontrar um lar cheio de amor que possa abrigá-los.

Primeira ONG (Organização Não-Governamental) do Brasil, o Clube dos Vira-Latas está sediado lá. Os 500 cães que se encontram no local são vítimas de maus-tratos, sendo muitos mutilados e até abusados sexualmente. “Temos uma cachorra que, quando um homem se aproxima dela, ela encosta a parte traseira na parede e não tem quem a tire de lá”, conta a presidente Cláudia Demarchi, 48 anos.

Em 13 anos de trajetória, 8.000 animais foram adotados na ONG, que se mantém por meio de doações e parcerias.Informações podem ser obtidas pelo e-mail contato@clubedosviralatas.org.br.

Outra entidade é a Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Ajudanimal, administrada por Maria Cecília Bentini, 54. Com custo mensal de R$ 100 por animal, também oriundos de doações, ela abriga 203 cães e 41 gatos.

Em ambas as instituições, os bichinhos que vão para adoção são castrados e vacinados. “Amigo a gente não compra, adotar é um ato de amor”, ressalta Maria Cecília. Para saber mais sobre o seu trabalho da Oscip, o contato é ajuda@ajudanimal.org.br.

Índia Tikuna do Amazonas preserva cultura brasileira

Se, por um lado, o castelo do bairro Quarta Divisão remete à Europa, por outro a brasilidade fixa suas raízes com a índia We’e’ena Tikuna, 25 anos. Ela é representante da etnia Tikuna, do Amazonas, a maior população indígena do Brasil, com 46 mil pessoas. O nome da jovem, na língua de seu povo, significa onça nadando para o outro lado do rio.

We’e’ena, que é casada com o violonista Robson Miguel, viveu em comunidade indígena no município de Tabatinga, no Estado amazonense, até os 12 anos, quando se mudou para Manaus com os pais e cinco irmãos. “Quando entrei na escola, não sabia falar a Língua Portuguesa. A adaptação foi difícil, sofria bullying. Foi um choque cultural.”

Já adaptada, formou-se em artes plásticas e, em apresentação de dança típica na abertura de um show de Robson Miguel, iniciou o romance que a traria para o Quarta Divisão.

Chegando ao bairro, passou por outra fase de adaptação. “O Amazonas é extremamente quente e aqui é muito frio”, fala ela, que atualmente está no 2º ano de Nutrição. “Faço esse curso para resgatar o alimento indígena e pretendo fazer projetos dentro das aldeias. Mesmo morando na cidade grande, nunca deixo de preservar a cultura. Levanto a bandeira indígena, não importa a circunstância.”

Ações e projetos visam promover melhorias em ambiente rural

O ambiente do bairro Quarta Divisão é bastante rural. Há algumas casas e chácaras, mas o predomínio é de ruas de terra e mata. A região abriga famosa atração da cidade: a Pedra do Elefante. A 977,7 metros do nível do mar, é o ponto turístico mais alto de Ribeirão Pires, proporcionando vista panorâmica de cidades vizinhas e sendo utilizada para prática de rapel e escalada.

O bairro tem população de aproximadamente 4.250 pessoas. As crianças contam com três escolas municipais: EM Maria Bernadete Seixas; EM João Midolla e EM Francisca Ferreira Santiago. Uma USF (Unidade de Saúde da Família) atende aos moradores das 7h às 16h. Tem 93 ruas, totaliza área de 147,5 m² de vias. Deste total, 24% não tem pavimentação e 76% é asfaltada ou de paralelepípedo.

De acordo com a Prefeitura, estão em andamento obras de pavimentação das ruas Osório Valeriano Martins e Manoel Augusto de Barros. Além disso, o Executivo aguarda análise técnica da Caixa Econômica Federal para dar prosseguimento à construção da Praça de Esportes e Cultura. A ação integra o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) 2. O objetivo é integrar, num mesmo espaço físico, programas culturais, esportivos, qualificação para o mercado de trabalho, serviços sócio-assistenciais, políticas de prevenção à violência e inclusão digital, de modo a promover a cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social.




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