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Quantidade de partos normais se mantém estável, mas longe do ideal

Na rede pública do Grande ABC, índice é de, em média, 56%; OMS recomenda 85%

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
09/09/2013 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O percentual de partos normais em relação às cesarianas na rede pública de Saúde de seis cidades da região se mantém estável desde 2011. Porém, ainda está longe do que preconiza a OMS (Organização Mundial da Saúde), que recomenda máximo de 15% de cesarianas. Na região, a intervenção cirúrgica ocorre, em média, em 44% dos partos. O restante (56%) é normal. Na rede privada, o número chega a 90% de cirurgias.

Em Santo André, onde 60% dos partos em 2012 foram normais, o diretor técnico do Hospital da Mulher, Gilberto Palma, diz estar próximo do limite para unidades que atendem situações de alto risco, que é de 40%. “Os 15% recomendados pela OMS não são realidade nem em países desenvolvidos. Lá, a taxa gira em torno de 20%.”

Palma garante que as equipes estão treinadas para tentar o parto normal sempre que possível. “Muitas mulheres não querem fazer (o parto normal) por causa do medo de sentir dor. Temos de fazer um trabalho de conscientização para que aceitem a natureza do ato.”

O diretor reconhece que, muitas vezes, principalmente em hospitais particulares, quem não quer o parto normal é o médico, por conta da demora e do valor menor pago por planos de saúde. “A mudança tem de partir de todos os lados.”

Em São Bernardo, o secretário de Saúde, Arthur Chioro, quer chegar ao máximo de 30% de cesarianas no HMU (Hospital Municipal Universitário). Em 2012, o índice foi de 37%. “Com a inauguração do Hospital de Clínicas, prevista para dezembro, o HMU se torna o hospital da mulher. Então, será possível alcançar a meta.”

O único município onde o número de cesáreas é maior que o de partos normais é Mauá. No ano passado, foram 2.027 cirurgias (57%) contra 1.534 procedimentos naturais (43%). Segundo a Prefeitura, isso ocorre porque os nascimentos são divididos entre o Hospital Nardini e a Santa Casa, que é particular, mas também atende o SUS (Sistema Único de Saúde).

Em 2012, o índice de partos normais no Nardini chegou a 57%. Na Santa Casa, conforme a administração, são 80% de cesáreas. A Prefeitura destaca que há convênio firmado com a instituição para estimular a redução na taxa de cirurgias. Já Rio Grande da Serra encaminha a totalidade dos partos para outras localidades.

 
 

Educadora perinatal questiona qualidade do atendimento

A educadora perinatal e doula Deborah Delage comemora o fato de o percentual de partos normais se manter estável na rede pública desde 2011, mas questiona a qualidade do atendimento prestado à gestante. Pesquisa divulgada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo aponta que uma em cada quatro mulheres sofre violência no parto.

“As agressões vão desde o não cumprimento da Lei do Acompanhante, restrição de movimentos até intervenções indesejadas, como a aplicação de ocitocina sintética.”

A ocitocina é um hormônio produzido naturalmente pelo organismo da mulher durante o trabalho de parto. Para acelerar o nascimento, porém, médicos injetam o remédio na veia durante o processo. “Isso aumenta a intensidade das concentrações e, consequentemente, a dor, e mostra a falta de paciência dos profissionais para respeitar o tempo da natureza.”

A educadora diz ser a favor da redução nas taxas de cesáreas, porque a cirurgia traz riscos para mulheres e bebês, mas alerta que não se pode querer o parto normal a qualquer custo. “A gestante precisa de assistência adequada, respeitosa. Se ela está amparada pelas pessoas que ama e com profissionais que confia e que respeitam seu tempo e suas decisões, tudo é mais fácil.”

 
 

Mulheres preferem procedimento natural

A dona de casa Rosana Mota Ferreira, 26 anos, não quer nem ouvir falar de cesariana. Na quarta-feira, seu terceiro filho, a menina Kelly Cris, nasceu de parto normal no Hospital da Mulher de Santo André, mesmo procedimento adotado com seus dois irmãos. “Foi a primeira vez que pari aqui. Me senti amparada quando ela estava nascendo e superbem depois. A recuperação é muito rápida”, diz a moradora da Vila Luzita.

A auxiliar administrativa Jéssica Lima da Costa, 21, concorda. Seu terceiro filho, Paulo César, nasceu na segunda-feira no mesmo hospital, mas depois de uma cesariana. “Meu primeiro filho foi de parto normal e foi muito melhor. Mas mesmo a cesariana aqui é melhor, porque quando tive o segundo bebê no hospital particular, foi horrível. Não me falavam o que iam fazer comigo. Aqui é diferente, tudo que os médicos e enfermeiros fazem, eles explicam direitinho.”

A bebê de Patrícia dos Santos, 25, Ketellyn, nasceu de parto normal às 9h de quinta-feira. Cinco horas depois, ela conversava com a repórter do Diário. “Estou ótima. Não vejo a hora de ir para casa”, brinca.

No mesmo quarto, outra Ketelyn, estudante de 17 e com um ‘L’ só, deu à luz seu primeiro bebê também por meio do parto normal. O soldador Thiago Soares Silva, pai de primeira viagem, achou que a companheira foi bem atendida na unidade de Saúde. “Eles prestam assistência a todo momento. Não tive coragem de ver o parto, mas sei que ela estava amparada.”

Ketelyn diz que parir a filha Sophia doeu muito, mas que depois de algumas horas a menina já estava bem, aninhada nos braços da mãe. “Ela quer mamar o tempo todo, então é bom que eu esteja me sentindo forte.” 




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