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Pais enfrentam desafios para criar filhos sem a presença da mãe

No dia dedicado a eles, pães (pais e mães ao mesmo tempo) da região contam suas histórias

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
11/08/2013 | 07:00
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Acervo pessoal


Pais que cuidam dos filhos sozinhos – seja por horas, dias, anos ou para sempre, no caso de separações ou morte – enfrentam diariamente o desafio de educar as crianças sem a presença materna. Hoje, data em que se comemora o Dia dos Pais, homens que vivenciaram essa situação contam como lidam com algo que a mulher já faz sozinha há muito tempo: proteger e educar os filhos.

O procurador Miguel Horvath Júnior, 43 anos e morador de São Bernardo, viu-se há um ano diante de uma grande mudança. A mulher adquiriu dengue hemorrágica durante a viagem de férias da família a Fortaleza e não resistiu. Pai de Giulia, 7, e Maressa, 11, ele passou a enfrentar o desafio de, além de trabalhar fora, manter a rotina de estudos e do lar para as meninas. “Criar filhos sozinho é um desafio árduo para os homens, mas muito interessante. Faz com que nós, pais, aprendamos a desenvolver certas percepções que ficam escondidas quando não exercitadas.”

A maior dificuldade de Horvath foi ajustar sua rotina de trabalho à da casa. “Acompanhar os estudos e tarefas é complicado, pois exige disciplina. Também tive dificuldades com questões de higiene, pois elas são meninas e isso se torna mais complicado.” Contar com a ajuda de familiares e contratar uma pessoa para ficar com as meninas à noite, quando o procurador vira professor, foram mudanças na rotina familiar após a partida da mãe.

O lado psicológico também é importante, conforme Horvath. “Sempre fiquei de olho e fiz questão que elas tivessem acompanhamento profissional. Superar a perda da mãe não é fácil.” A família, que é evangélica, teve o apoio da igreja para seguir em frente.

Como parte desse processo, pai e filhas viajaram juntos no mês passado pela primeira vez sem a mãe. “Fomos para a Disney e elas aproveitaram bastante. Fiz isso porque não queria que elas ficassem traumatizadas em relação a viagens por causa da partida da mãe.”

VIDA NOVA

O policial federal de Santo André Dennis Russo Ferrão, 41, passou por situação semelhante há exatos três anos. A mulher morreu ao fazer um transplante de fígado e ele ficou responsável pela criação de Andrey, 14, e Dhara, 9. “Meu trabalho e minha vida não tinham rotinas, horários, e sempre viajei muito. O primeiro ano após a morte da minha mulher foi difícil, até que consegui mudar da casa em que vivíamos, ficar um tempo de licença pra reordenar tudo, levar e buscar as crianças na escola, reorganizar a rotina mesmo.”

A alimentação era à base de miojo e muita comida pronta, e a família usava copos e pratos descartáveis. “Era mais fácil jogar fora que lavar”, relembra Ferrão. As tarefas de casa também foram divididas entre eles, o que ajudou os filhos a amadurecerem depressa, na opinião do policial.

Para afastar o pensamento da perda da mãe, Ferrão procurou mantê-los ocupados com hábitos saudáveis, como esportes. “Foram ainda muitas idas a psiquiatra e psicólogos, e apoio de parentes, amigos, e da própria escola deles.”

Após um ano e meio, ele se apaixonou e resolveu se casar novamente. “Conheci minha atual mulher no momento em que ela havia perdido o pai, e logo nos identificamos. E eu que dizia que nunca mais queria casar, após quatro meses estava no altar. Meu lar foi refeito. Minha filha ganhou novamente uma referência feminina, ela que já se inspirava em minhas roupas camufladas. E a vida voltou a ter equilíbrio.”

As dificuldades ficaram para trás, mas Ferrão mudou. “Ser mãe e pai ao mesmo tempo nos traz outra perspectiva. Eu os deixava na escola e os via ali, tão pequenos, carregando seus futuros dentro daquelas mochilas, sem ter ideia do que seria o nosso futuro como família. Mas tudo isso nos ajudou a crescer e nos uniu ainda mais.”

Morador de Mauá estimula lado ‘materno’ ao ‘amamentar’ filha

“É a mulher quem carrega a criança, mas, para mim, o casal fica ‘grávido’. Tanto que engordei 15 quilos durante a gestação da Jéssica.”

É assim que o funcionário público de Mauá Rodolfo Francisco Ribeiro Marga, 26 anos, enxerga a maternidade após o nascimento da filha Valentina, hoje com 1 ano e 10 meses. Maternidade, sim, pois, para ele, isso também é coisa de pai. Tanto que Rodolfo chegou a ‘amamentar’ Valentina quando ela tinha três meses. Mas espera aí, como assim amamentar?

A companheira de Marga, Jéssica Leite Bonizzi, 22, precisava fazer um exame, e o único laboratório do convênio ficava em Osasco. Ela foi até lá achando que conseguiria voltar rápido, mas caiu uma chuva torrencial que alagou vários pontos da cidade. Enquanto isso, em Mauá, Valentina abria os olhinhos no berço e não queria mais dormir. “Ela começou a chorar sem parar. Tentei acalmá-la com brinquedos, TV, colo, massagem, e nada”, relembra o pai.

No desespero, um ‘anjinho’ surgiu na mente de Marga e disse: dá o peito para ela. “Logo veio o ‘diabinho’ e respondeu: ‘Tá maluco? Que peito?’”. Mas a ideia estava ali e foi justamente o que ele fez: aninhou a filha no colo e ofereceu o mamilo.

No começo, Valentina achou estranho, mas foi parando de chorar. “Ela me olhava fixo, e colocou a mão no meu peito, sentindo o coração. Foi um momento de muita conexão com minha filha, e vivenciei um pouco do que amamentar representa para a mulher, embora não tivesse o leite.”

Para Marga, dar de mamar vai muito além da alimentação, e representa amor, carinho e ligação com a filha, que ele também carrega em sling (acessório de pano feito especialmente para levar o bebê junto ao corpo) por aí, o que ela adora.

Assim que Jéssica chegou em casa na ocasião, se surpreendeu quando o pai contou como tinha acalmado a bebê. “Pedi para ele fazer de novo e tirei foto. Depois, postamos num grupo no Facebook durante a Semana do Aleitamento Materno.”

A foto gerou polêmica: houve quem aprovasse e achasse bonita a atitude de Marga, mas alguns, inclusive mulheres, criticaram. “Não vejo problema em mostrar o carinho que sinto pela Tina. Vivemos hoje num mundo de desamor, e as pessoas acham estranhas as demonstrações de afeto. Eu não acho. Vivencio a conexão com minha filha o tempo inteiro, em todos os sentidos, e sou sim materno. Não tenho vergonha disso”, garante. 




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