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Carminha e as Olimpíadas

Se tivéssemos instalado, lá pelos lados da Avenida Paulista...

Carlos Ferrari
01/08/2012 | 00:00
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Se tivéssemos instalado, lá pelos lados da Avenida Paulista, um boatômetro nacional, ou mesmo se houvesse conversímetros espalhados pelos corredores de escritórios, filas de bancos, mesas de bares, velórios e parada de ônibus, aposto sem medo de errar que os tais fictícios equipamentos, caso reais fossem, estampariam um placar totalmente favorável à novela das 21h, no pseudoranking de assuntos tratados pela população como um todo em um eventual exercício de comparação com o que se fala sobre os jogos de Londres.

Também tenho a impressão que apareceria entre os top 10 dos papos-cabeça da semana, a culpabilização da Rede Globo pelo baixo índice de conversa fiada sobre o desempenho dos atletas olímpicos e suas respectivas competições.

Como parte integrante dessa sociedade conversadeira, seguidor frequente das novelas globais, e igualmente apaixonado por esportes, venho trazer nesta semana um pouco de pimenta para essa prosa sobre mídia e conteúdo.

Primeiramente, mesmo reconhecendo o enorme poder da toda poderosa TV das novelas, do Didi e do Faustão, começo perguntando: onde fica, nessa nossa análise, o gosto popular?

Trago aqui uma reflexão do dramaturgo italiano Carlo Goldoni, que certa vez afirmou: "Discutir gostos é tempo perdido; não é belo o que é belo, mas aquilo que agrada."

Não pretendo simplificar um debate que sabemos ser para lá de complexo, mas sim dialogar com alguns discursos prontos, que a pretexto de erguerem bandeiras em defesa de um país melhor, acabam reforçando preconceitos e estigmatizando nosso povo e nossa cultura. Quem já não ouviu aquela conversinha terrível, que começa com seu interlocutor afirmando que só podia mesmo ser brasileiro para acompanhar tanta porcaria. O tal diferenciado geralmente conhece todo o conteúdo de novelas e reality shows e se diz vítima do controle remoto: "Só vi mesmo, pois estava passando de canal."

Voltando às Olimpíadas, cabe dizer que, se podemos lamentar a postura da TV do plim plim, que não informa o que se passa na terra da rainha com a mesma intensidade que faria nos tempos em que era detentora dos direitos de transmissão, também devemos assumir que somos um país de cultura monoesportiva e, eventualmente, dividimos nossa audiência com outra modalidade desde que ela se traduza em Brasil no podium.

Então, nem tanto ao mar nem tanto à terra. Antes de encontrarmos culpados e julgarmos a qualidade do conteúdo televisivo que recebemos diariamente, talvez caiba pensar um pouco na coerência daquilo que falamos e defendemos.




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