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Atire a primeira pedra

Vamos deixar de hipocrisia: claro que o deputado federal Marco Feliciano é um sujeito horroroso

Carlos Brickmann
10/03/2013 | 00:00
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Vamos deixar de hipocrisia: claro que o deputado federal Marco Feliciano é um sujeito horroroso, que já deu declarações racistas e é processado no Supremo por estelionato. Mas não chegou sozinho à presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Teve ajuda de governistas e oposicionistas.

A bancada do PSC é composta por 15 parlamentares e, portanto, não teria direito a vaga nenhuma na comissão. Mas, numa Câmara como a nossa, cinco partidos se juntaram para quebrar o galho da legenda nanica de Feliciano. Funcionou assim: o PT da presidente Dilma, que sempre ocupou a presidência da comissão, resolveu trocar este cargo por outro; o PMDB do vice-presidente Michel Temer cedeu ao PSC duas vagas de titular e duas de suplente; o PSDB, que comanda a oposição (sim, formalmente existe um grupo que se intitula ‘oposição') cedeu duas vagas de titular; o PP de Paulo Maluf (que apoia a presidente Dilma) cedeu uma de titular; e o PTB, o mais coerente dos partidos, já que apoia quem quer que esteja no governo, cedeu uma de suplente. Com isso o PSC teve a possibilidade de eleger o inacreditável Marco Feliciano presidente da comissão.

Processo por estelionato, processo por homofobia, ambos no supremo, enviados pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Um vídeo notável, em que, como pastor, reclama do fiel que lhe deu o cartão de crédito sem a senha: http://youtu.be/Pyhw4-qVxCI. E ele ganhou o cargo assim mesmo. Mas lembremos: ele foi eleito pelo voto direto e secreto, por eleitores como nós.

O PROFETA DO NORTE

O grande escritor norte-americano Mark Twain escrevia sobre os Estados Unidos, mas certamente não permitia que seus pensamentos fossem limitados por fronteiras nacionais. É dele a frase: ‘Temos o melhor Congresso que o dinheiro pode comprar'.

BONS COMPANHEIROS

Pensando bem, é injusto falar mal de Marco Feliciano apenas porque disse que os descendentes de africanos são amaldiçoados, porque disse que quem dá poucos donativos à sua igreja terá pouca retribuição do Senhor, pelas acusações (que o Supremo examina) de homofobia e estelionato. Num local onde a folha corrida substitui o currículo, que se poderia esperar? Vejamos outras comissões da Câmara Federal. Para Constituição e Justiça, foram escolhidos dois condenados no caso do Mensalão, João Paulo Cunha e José Genoino, ambos do PT. Um dos suplentes é José Guimarães, também do PT - aquele cujo assessor foi preso no aeroporto transportando US$ 100 mil na cueca. Finanças e Tributação: presidente, João Magalhães, PMDB, da Operação João de Barro. Veja no Google ‘João Magalhães' Operação João de Barro", com 27 mil citações.

O presidente da Comissão de Meio-Ambiente é o senador Blairo Maggi, do PR. Grande agricultor, seus interesses podem conflitar com a defesa do meio ambiente. Mas quem está preocupado em pelo menos guardar as aparências?

RESPOSTA DO GOVERNO

A Secretaria da Segurança de São Paulo informa: ‘O respeitável colunista Carlos Brickmann errou ao criticar, por uma suposição, a formação do novo superintendente da Polícia Técnico-Científica. Diferentemente do que afirma o jornalista, o médico Paulo Argarate Vasques é, além de psiquiatra, especialista em Medicina Legal, como consta no currículo do profissional, publicado no site da Secretaria de Segurança Pública no dia 28 de fevereiro. Portanto, uma simples consulta ao site teria evitado o equívoco e, consequentemente, a desnecessária crítica'. Registrado. Mas a informação está num press-release. No corpo do site, que este colunista gravou no dia 5, informa-se que o cargo é ocupado pelo perito criminal Celso Perioli. Pena que não estivesse atualizado.

O MUNDO...

O deputado Gabriel Chalita, PMDB (ex-PSDB, ex-PSB), está sendo investigado sob a acusação de receber propinas na época em que foi secretário da Educação de São Paulo, entre 2002 e 2006. Foram propostos 11 inquéritos, nove dos quais rejeitados pelo Conselho Superior do Ministério Público; dois prosseguem. Mas um fato vem sendo esquecido: Chalita era secretário e homem de confiança do governador tucano Geraldo Alckmin. Que tem o governador a dizer sobre o caso? Que não sabia de nada, não pode: essa desculpa já tem dono.

...EM QUE VIVEMOS

O vereador e coronel Paulo Lucinda Telhada, PSDB, emprega em seu gabinete na Câmara Municipal de São Paulo dois assessores que contribuíram para sua campanha - um, Antônio José Fonseca da Silva, doou cerca de R$ 40 mil (seu salário, como assessor, é de R$ 21 mil mensais); Rodolfo Artur Teixeira Vieira doou aproximadamente R$ 19 mil, e seu salário é de R$ 18 mil. Lucinda Telhada contratou também seu primo David Denis Lobão para a assessoria (nada disso é ilegal - mas indica seu critério de fazer política). Lucinda Telhada comandou a Rota, a mortífera tropa de choque da Polícia Militar paulista. Mantém na Câmara seu estilo imperial: ‘Isso é uma coisa minha, eu não tenho que dar satisfação a ninguém'. E disse à repórter Lúcia Rodrigues, da Rádio Brasil Atual, que ela deveria tomar cuidado. Deveria mesmo: logo depois ela perdeu o emprego. 




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