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Contaminação ameaça 119 áreas no Grande ABC
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
13/03/2005 | 17:22
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O Grande ABC tem 119 áreas contaminadas. Uma delas pode ser sua vizinha. A cidade recordista em abrigar esses locais que têm dejetos prejudiciais à saúde é São Bernardo, com 49 (41,1%) terrenos, seguida por Santo André, com 35 (29,4%). Em maio de 2002, quando o Diário publicou a primeira reportagem a respeito, a lista da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), responsável pelo mapeamento, trazia 44 locais. Em dezembro do ano passado, outro levantamento indicava a existência de 114 áreas com focos de contaminação. Em todo o Estado de São Paulo são 1.336 terrenos contaminados. Dezenove áreas foram limpas, nenhuma na região.

Desse total de 119 áreas localizadas no Grande ABC, 61 (onde funcionam empresas, indústrias e órgãos públicos) já contam com projeto de descontaminação em andamento; sete limitaram-se a apresentar uma proposta de remediação da área afetada; e 51 omitiram-se. Setenta das 119 áreas contaminadas, cerca de 58%, são postos de combustíveis.

O deputado estadual Donisete Braga (PT), presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa, diz que se a limpeza das áreas poluídas continuar a ser feita nessa velocidade, serão necessários 211 anos para concluir o serviço.

Entre os nomes de poluidores, relacionados pela Cetesb, aparecem muitas empresas importantes para a economia da região como: Alcoa, Cofap, Petroquímica União, Rhodia, Solvay, Colgate Palmolive, Esso, Rolls Royce, Sherwin Williams, Basf, Ipiranga, Wickbold, Recap, TRW. Estão relacionadas ainda duas montadoras – General Motors e Daimler Chrysler; uma empresa estatal – Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica, ligado à Secretaria Estadual de Recursos Hídricos); a Prefeitura de São Bernardo; e as Indústrias Químicas Matarazzo, em São Caetano.

Alvarenga – A Prefeitura de São Bernardo aparece na relação da Cetesb desde 2002 em virtude do Lixão do Alvarenga. O hiperdepósito de lixo, localizado na estrada do Alvarenga, ocupa uma área de 40 mil m² na divisa entre os municípios de Diadema e São Bernardo. A montanha de lixo escorre de um município para o outro e fica a 200 metros do maior reservatório de água do Estado, a represa Billings.

Por 30 anos, houve ali uma contínua movimentação de caminhões e caçambas. Os detritos provocavam focos de combustão espontânea, em razão da alta concentração de gases.

As duas prefeituras tomaram decisão conjunta e interditaram o depósito em 16 de julho de 2001. Na época, o então secretário estadual do Meio Ambiente, Ricardo Tripoli, falava que as prefeituras deveriam elaborar um plano de recuperação ambiental para a área. O secretário de Habitação e Meio Ambiente de São Bernardo, Osmar Mendonça, afirma que os planos para transformar o lixão em um parque ecológico esbarram em problemas jurídicos.

O Aterro em Santo André do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica, órgão ligado à Secretaria Estadual de Recursos Hídricos) começou a operar em 1986 quando equipes operacionais da estatal retiraram material do solo nas proximidades do ribeirão dos Meninos. O local fora contaminado por BHC (agrotóxico altamente tóxico e cancerígeno usado nos anos 50 e 60), originário das Indústrias Químicas Matarazzo.

Na época, o proprietário da fábrica de balas Juquinha, Giulio Sofio, cedeu um terreno de sua propriedade na Vila Metalúrgica, para que a terra retirada do ribeirão pelo Daee fosse depositada ali.

Sofio tinha a intenção de igualar o terreno e não imaginava que a terra estivesse contaminada. Quando se percebeu que havia BHC e outros produtos químicos perigosos no entulho, a área foi interditada. O caso se transformou em batalha jurídica, vencida pelo industrial, que ganhou ação indenizatória.

Hoje, ao lado do Aterro do Daee, foi construído um condomínio fechado de casas e apartamentos, onde vivem cerca de 500 famílias. Os resíduos químicos perigosos foram acondicionados em poços de contenção, em terreno vizinho aos conjuntos residenciais Ipê e Flamboyant. A Cetesb garante que não há risco para os moradores.

O terreno contaminado da Matarazzo, na rua Mariano Pamplona, 220, em São Caetano, ganhou as manchetes depois que a Prefeitura de São Caetano decidiu construir um viaduto, ligando a avenida Guido Aliberti ao bairro Fundação. Uma das artérias que conduz ao viaduto sai da avenida dos Estados e passa justamente em cima da área contaminada por BHC e mercúrio.

Quem caminha pelas vizinhanças da nova construção tem a sensação de percorrer um cenário de guerra. Por onde se olha, se vêem prédios demolidos, ou parcialmente derrubados, com as entranhas à mostra.

Mauá – Outra área que tem freqüentado as manchetes dos jornais é o Residencial Barão de Mauá, localizado no Parque São Vicente, em Mauá, onde vivem cerca de 4 mil pessoas em 1.760 apartamentos. Dos quais pelo menos 1.024 construídos sobre um depósito de lixo industrial clandestino, que pertenceu à Cofap.

Relatório do Ministério da Saúde aponta que o projeto de remediação dos gases em formação no subsolo não tem sido eficiente, pois aspira e trata apenas 15% dos poluentes. A recomendação é a evacuação dos 1.024 apartamentos, por causa de riscos iminentes de explosão. A Justiça decidirá nesta semana o destino das famílias.



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