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Prefeito vai virar nome de viaduto
Giba Bergamim Jr.
Do Diário do Grande ABC
18/12/2004 | 13:33
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O novo prefeito de São Caetano, Silvio Torres (PTB), definiu Luiz Tortorello como um homem que não permitia erros. Torres, que é cirurgião e obstetra há 40 anos, disse que o novo viaduto que ligará a avenida Guido Aliberti à avenida do Estado levará o nome de Luiz Tortorello, em homenagem ao líder morto. Ele argumentou que, por motivos éticos, preferiu não se pronunciar sobre o estado de saúde do amigo, que "jamais desistiu de viver". Leia trechos da primeira entrevista de Silvio Torres – concedida às 14h50 desta sexta – desde que assumiu a cidade em 6 de dezembro.

DIÁRIO – A cidade perde a maior liderança política de sua história. Como o senhor se sente?

SILVIO TORRES – Tortorello está conosco há tantos anos. Este é o final do terceiro mandato dele, portanto, ele criou realmente um nome muito importante na nossa política, na política regional, e, evidentemente, que ele criou uma liderança imprescindível para nós, que tocamos o destino da Prefeitura. É uma falta grande, num momento difícil, inclusive no fim do ano, época em que nós deveríamos estar festejando com as famílias e com a cidade. Mas estamos vivendo um momento de tristeza, que é a morte do prefeito.

DIÁRIO – Como é que o senhor soube da morte, e há quanto tempo?

SILVIO TORRES – Eu tive a informação faz meia hora, mais ou menos. Eu estava em casa, porque estava me preparando para ir para o Fórum. Porque hoje (sexta) nós vamos fazer a diplomação do prefeito José Auricchio, dos vereadores e do vice-prefeito. E vai haver, pois nós temos de comparecer porque tem um prazo legal do tribunal. Não podemos descumprir isso. Vamos fazer uma coisa simples, modesta, mas vamos ter de fazer.

DIÁRIO – Como é que o senhor está agora, e como foram esses dias sem o prefeito? Como o senhor acompanhou a questão da doença dele?

TORRES – O acompanhamento da doença do Tortorello vem ocorrendo há alguns meses, dois ou três meses. Nós sabíamos, de antemão, que ele tinha uma doença grave, doença de evolução absolutamente prevista, mas tudo o que se pode fazer num hospital de primeira qualidade, de primeiro mundo, como o Albert Einstein, foi feito.

DIÁRIO – Qual foi a doença, e como ela evoluiu?

TORRES – O problema é que o Tortorello, na verdade, faleceu de câncer gástrico, com as complicações normais da doença. Tudo aquilo que se fez e que se tentou, até certo limite, foi feito. Não quisemos ficar expondo ele (Tortorello) assim, por ele ser uma pessoa ilustre politicamente e querido como ele é na nossa cidade e na região. Eu, como médico, sabia o que estava realmente acontecendo. A doença é grave, não existe possibilidade de haver, numa situação dessa, uma reviravolta.

DIÁRIO – Qual foi a intenção ao não tornar público o quadro clínico de Tortorello?

TORRES – Eu, como prefeito em exercício, ando pela cidade, pelos hospitais da cidade, na rua. Se dissesse à população que havia chance de cura, criaria uma expectativa. E se falasse que realmente ele tinha uma doença de evolução inexorável, evidentemente que eu iria causar um mal-estar muito grande, e tentamos evitar isso na cidade.

DIÁRIO – A intenção era poupar a população dessa tristeza?

TORRES – Poupar a população somente não. Acho que nós deveríamos poupar mais a pessoa do prefeito Tortorello e da sua família. A gente tem de poupar a família também.

DIÁRIO – Como foram os seus últimos dias à frente da Prefeitura?

TORRES – Não houve absolutamente nada de anormal. A administração foi tranqüila, cada um ocupou o seu lugar. Todas as diretorias estiveram à frente do seu trabalho. Não houve interrupção nenhuma das diretorias. A única coisa que nos aborreceu foi exatamente essa evolução do Tortorello internado, esse questionamento da população, inclusive da mídia querendo saber. Porque não foi só de vocês (Diário). Fomos procurados inclusive pelo governador do Estado, com quem estive na semana passada. Ele quis saber a fundo o que estava acontecendo com o prefeito.

DIÁRIO – O problema já vinha num quadro evolutivo delicado. A partir de quando isso piorou e ocorreu a metástase?

TORRES – É claro que houve metástase. A pessoa que tem câncer vai morrer com as complicações que aparecem em virtude das metástases.

DIÁRIO – Isso ocorreu desde o primeiro dia de internação?

TORRES – Não. Isso (metástase) já vem há mais tempo. Na evolução do câncer gástrico, nós sabemos que a sobrevida do paciente, quando o câncer está numa fase incurável, é de, mais ou menos, dois anos e meio a três anos. As metástases pegam pulmão, coluna vertebral e diferentes segmentos, até chegar num ponto em que há uma falência plena dos órgãos.

DIÁRIO – Quando ele descobriu o problema?

TORRES – Nós tivemos notícia da evolução da doença faz mais ou menos uns três meses. Acho que o Tortorello talvez não tenha tido a oportunidade de encarar o problema. Talvez, não sei se por falta de informação. Mas, na verdade, o câncer gástrico é um câncer que tem um espaço grande para crescer, e quando o camarada percebe as complicações, é porque já está numa fase evolutiva avançada.

DIÁRIO – O senhor está há oito anos exatos na administração junto com o Tortorello...

TORRES – Junto com o Tortorello há oito anos e mais quatro anos na administração anterior dele, de 1989 a 1992.

DIÁRIO – Como o senhor analisa a figura do Tortorello?

TORRES – Um político extremamente inteligente, criativo, que mudou toda aquela expectativa que nós tínhamos em relação à nossa cidade, que hoje é de ponta, privilegiada, de qualidade de vida boa. Uma cidade administrada com muito carinho. Nós obedecemos sempre com muita perfeição a Lei de Responsabilidade Fiscal. Não devemos nada. E temos uma administração que serve de exemplo para muitas cidades. Essa é a liderança que nós estamos perdendo.

DIÁRIO – E o perfil do Tortorello como pessoa?

TORRES – Extremanente agitado, muito trabalhador, ativo e exigente. E isso eu estou dizendo porque nós tivemos uma convivência longa. Ele não permitia erro de ninguém. Essa era a realidade. O erro era impraticável na administração dele. Essa é a pessoa que conheci, que tive o contato durante esses anos, e que tive o privilégio de conviver.

DIÁRIO – E como ficará a cidade agora?

TORRES – No ponto de vista administrativo, a cidade esteve absolutamente normal e tranqüila. Não houve absolutamente degradação em nenhum aspecto da administração ou no setor público. Tudo o que se podia fazer na continuidade administrativa, nós fizemos. Embora a gente tenha sofrido esse abalo, que é um abalo violentíssimo, tenho certeza absoluta que nós vamos superar esse momento e vamos manter a administração dentro dos níveis de Tortorello.

DIÁRIO – Ele fez algum pedido?

TORRES – O pedido do Tortorello é o que ele sempre fez para todos nós. 'Trabalhar sem erro'. E é o que nós vamos continuar fazendo.

DIÁRIO – Qual é a prioridade do governo nos próximos dias?

TORRES – A inauguração da nova praça 1º de Maio, que nós vamos fazer no dia 23, às 19h30. Portanto, na antevéspera do Natal. Vamos inaugurar uma praça muito bonita. Ali nós não vamos prestar homenagem ao Tortorello, dando o nome dele à praça. Mas vou propor ao (prefeito eleito) Auricchio para que ele dê o nome do Tortorello ao viaduto que nós estamos construindo, que vai ligar a avenida Guido Aliberti e a avenida do Estado.

DIÁRIO – Como foi sua última conversa com o prefeito?

TORRES Na última vez em que estive com ele, a preocupação dele era com a administração. Estive lá no hospital, conversando durante uma meia hora a respeito da administração. Dei os parâmetros daquilo que estava acontecendo e ele ainda se preocupava com o andamento da administração, e se estava ocorrendo tudo normal. Eu disse a ele que ficasse tranqüilo, porque estava tudo encaminhando.

DIÁRIO – Ele tinha esperanças, mesmo sabendo da gravidade?

TORRES – Não sei bem se o Tortorello sabia da gravidade. Mas o doente nunca perde a esperança durante a doença. Nunca toquei no assunto de câncer com ele. Ele despachou, sim senhor, eu assisti inclusive as assinaturas de posse. Ele estava lúcido, vou dizer para você, até ontem. Não estive lá ontem (quinta), mas quem o viu conversou com ele. E ele mostrou ainda que estava vivendo a cidade.




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