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Maioria longe de ser representada

Mulheres, maior parte do eleitorado do Grande ABC, destacam insatisfação com política atual

Por Daniel Tossato
20/08/2018 | 07:20
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Claudinei Plaza/DGABC


Se o eleitorado médio do Grande ABC tivesse que ser personificado, ele seria uma mulher, com idade entre 45 e 59 anos e com o Ensino Médio completo. Levantamento realizado pelo Diário mostra que dos 2,1 milhões de pessoas que formam o eleitorado no Grande ABC, 1.109.491 são mulheres (53% do total), de 45 a 59 anos (25,5%) e que não alcançaram a universidade (27,7%). Como esse perfil está muito longe de representado na Câmara Federal ou na Assembleia Legislativa, eleitoras ouvidas pelo Diário relatam o desalento com a política.

A bancada regional hoje é formada por Vicentinho (PT), Alex Manente (PPS) – esses dois federais –, Luiz Turco, Ana do Carmo, Luiz Fernando Teixeira e Teonilio Barba – todos do PT e estaduais. A que mais se assemelha à maior incidência de eleitores do Grande ABC é Ana do Carmo. Mulher e com Ensino Médio completo, a petista tem 63 anos. Está no seu quarto mandato na Assembleia e, neste ano, disputa uma cadeira na Câmara.

“Realmente não me sinto representada pelos políticos atuais. Isso poderia ser diferente se houvesse mais mulheres”, avalia Rosângela Aparecida Azevedo, 49, faturista de Santo André. Ela procura sempre votar em candidatas do sexo feminino, mas admite que nas últimas eleições anda desiludida. “As mulheres lidam melhor com os problemas. Isso seria um grande diferencial no Parlamento.”

Dos 133 candidatos a deputado estadual e federal, na região, apenas 38 são mulheres.

Segundo o cientista político Eduardo Viveiros, a falta de mulheres neste meio se deve ao fato de não haver pauta política voltada a elas. “Temos somente de 10% a 12% de políticas mulheres. Isso realmente é muito pouco, tendo em vista que a mulher é também uma das maiores fatias da população brasileira.”

Para efeito de comparação, das 142 cadeiras nas Câmaras Municipais da região, apenas quatro são ocupadas por mulheres: Elian Santana (SD, Santo André), Bete Siraque (PT, Santo André), Ana Nice Martins (PT, São Bernardo) e Suely Nogueira (MDB, São Caetano).

Viveiros aponta outro problema que repele o ingresso delas no cenário eleitoral nacional: a estrutura machista da sociedade brasileira. “Durante muito tempo elas ouviram que política não é coisa de mulher. Há ainda um fato delicado, já que muitas das estão eleitas em algum cargo não atuam em benefício das próprias mulheres”, alerta.

A indignação com a classe política atual, que se vê envolta em escândalos de corrupção, também acabou por tirar a iniciativa da mulher na participação das eleições, na visão de Ivonete Assumpta, 54, de Santo André. “Confesso que não estou pensando em votar nessas eleições. No pleito passado, acabei votando em uma mulher (Dilma Rousseff, PT), mas desta vez acho que nem isso vou fazer. Estou decepcionada.”

Ana Cristina da Silva, 50, também andreense, é outra a apresentar desilusão com a política no geral. “Acho que os políticos estão mais interessados em resolver a própria vida do que ajudar a população”. Apesar de não escolher o candidato pelo sexo, ela afirma que já votou em mulheres e que não teria nenhum problema em repetir o feito. “Se achar que ela tem boas propostas, voto sem problemas.”

Viveiros ressalta que há partidos políticos no Brasil que tentam suprir a lacuna de candidaturas femininas, mas alerta: “Cabe aos eleitores perceber se este discurso não é marqueteiro”. 




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