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Alemão prepara exposição de gravuras em S.Caetano
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
13/03/2005 | 17:46
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Ele se chama Roberto Gyarfi, mas a maioria o conhece como Alemão. Atualmente com ateliê em Santo André, depois de passagem por São Bernardo, esse paulistano de 51 anos é um dos mais respeitados mestres impressores do país, responsável por dar vida a obras de nomes que figuram entre os mais conceituados da história da arte brasileira – o concretista andreense Luiz Sacilotto entre eles, para ficar apenas em um exemplo. É um litógrafo de mão cheia, técnico que realiza gravuras a partir de matrizes de pedra. Os traços e as cores são ditados pelos artistas; quem dá forma às idéias é ele. Por meio da boa influência que Alemão tem com artistas de renome, divulga o nome do Grande ABC além dos horizontes das sete cidades da região.

A novidade que envolve Alemão é uma exposição de gravuras na Pinacoteca de São Caetano marcada para a partir do próximo dia 17. A mostra é composta por obras impressas por ele e também por trabalhos do gênero pertencentes ao acervo da cidade. Estarão em exibição composições de grandes nomes como Livio Abramo, Carlos Oswald e Maria Bonomi. Obras do jovem artista Henrique Camargo, de São Bernardo, uma das “crias” de Alemão, também têm espaço.

Uma das idéias mais defendidas pelo mestre impressor é a de trabalho coletivo, tendo como fim a justiça social. Por isso ele atua desde 2000 como voluntário na Usina de Triagem e Reciclagem de Papel, de Santo André, onde cerca de 35 jovens carentes do município aprendem a fazer papel e a criar produtos a partir desta matéria-prima. Muitos dos adolescentes que passam por lá conquistam vagas no mercado de trabalho. Alemão os ensina a fazer gravuras, em prensas cedidas por ele.

Outro ponto de vista defendido por Alemão diz respeito à regionalidade. Ele acredita que as cidades do Grande ABC, se atuassem em conjunto e com propósitos comuns, seriam fortalecidas. Diz isso em relação principalmente à cultura, que é a sua área.

Desde que se transferiu de São Paulo para o Grande ABC, em 1998, Alemão fala de um “pólo de gravura”. “Seria um lugar para oferecer oficinas, uma ótima forma de beneficiar pessoas carentes, desviá-las dos males aos quais são submetidas em áreas periféricas. Poderíamos descobrir muitos artistas, gente que tem talento, mas não sabe, não tem chance de saber. Penso que para isso se realizar deveria haver uma política pública. Não creio que a idéia seja viabilizada por meio da iniciativa privada. Na verdade, não acredito em interesse nem de prefeituras nem de empresas”, afirma.

“E para manter esse pólo o custo seria pequeno. Bastaria um espaço, gente para trabalhar e matéria-prima. Poderia colocar minhas prensas para serem usadas nessa iniciativa”, diz.

No ateliê de Santo André, instalado em 2002, Alemão preserva um grande patrimônio histórico: cerca de 400 pedras litográficas datadas a partir dos anos 1930. Parte da história da propaganda brasileira mora ali: por meio dessas matrizes em pedras alemãs eram impressos por exemplo rótulos de produtos. “Eram feitos também cheques, notas provisórias, ‘santinhos’...”, afirma.

Alemão cuida como pode dessas pedras adquiridas por ele nos anos 1980. Mas elas não têm um local adequado para serem guardadas: estão no quintal da casa-ateliê. Ficam lá e são vistas por poucas pessoas, enquanto poderiam ser exibidas. “Se fosse criado esse pólo de gravura, elas também poderiam ir para lá”, afirma. Colaborações são bem-vindas.



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