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Início de operação da Suzantur em Sto.André é marcado por problemas

Empresa, que acumula pendências judiciais, substitui a Expresso Guarará na operação de linhas que atendem 50 mil passageiros da Vila Luzita por dia

Por Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
09/10/2016 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


O primeiro dia de operações do transporte público em Santo André sob gestão da Suzantur, que substitui a Expresso Guarará, em processo de falência, foi marcado por série de problemas operacionais e logísticos. Desde as primeiras horas de ontem, data validada pelo prefeito Carlos Grana (PT) para o início do contrato emergencial de 15 linhas de ônibus que atendem a região da Vila Luzita, usuários inflamaram reclamações, citando atrasos em itinerários, ausência de bilhetagem eletrônica e confusão com a identificação dos carros – estavam nas cores vermelha e branca e com adesivo da Prefeitura de Mauá, onde a viação opera desde 2013.

A Prefeitura de Santo André oficializou a entrada da Suzantur no município, por meio de contrato emergencial assinado apenas ontem. O documento é alvo de questionamento tanto do Ministério Público quanto da Justiça. O juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública de Santo André, Genilson Rodrigues Carneiro, acatou denúncias do advogado e presidente do DEM andreense, Fernando Marangoni, sobre possíveis fraudes na elaboração do acordo. A empresa também é investigada por possíveis irregularidades em Mauá, sob gestão do prefeito Donisete Braga (PT), e em São Carlos, no Interior, onde assumiu o sistema de transporte público neste ano.

A equipe do Diário acompanhou o primeiro dia de trabalho da Suzantur e, de imediato, por volta das 4h, flagrou que muitos veículos estavam estacionados na garagem da empresa em Mauá, localizada na Avenida Eugênio Negri, no Jardim Zaíra. O veículo de numeração 1.115 deixou as dependências da cidade mauaense com o sistema de itinerário apagado, sendo flagrado momentos depois no Terminal da Vila Luzita.

Entre os usuários, que esperavam pela utilização do transporte entre 5h e 6h, a principal reclamação estava na falta de identificação dos ônibus e nos atrasos. “Estou esperando há 20 minutos. Não costuma ter isso. Agora, o pior foi achar o caminho aqui no Terminal. Apareceram esses ônibus vermelhos, ficou confuso”, relatou a enfermeira Maria das Dores Izidoro, 60 anos, usuária da linha 125, que estava indo para plantão na UPA (Unidade de Pronto-Atendimento) do Jardim Santo André.

Encanador e morador da Vila Luzita, André Vieira Ferreira, 23, chamou a atenção da equipe do Diário ao mostrar que o coletivo, que tinha como destino o Recreio da Borda do Campo, não possuía o sistema de bilhetagem eletrônica instalado, impedindo o uso dos passageiros por meio do cartão andreense de transporte. “O jeito foi entrar pela parte de trás e, depois, pagar a passagem na bilheteria do terminal. Muito ruim. Foi uma perda de tempo que me atrapalhou muito, já que ainda vou trabalhar”, pontuou.

Depois de prestar expediente em padaria do Centro de Santo André no período da madrugada, onde é padeiro, Ailton Pereira Rocha, 32, enfatizou que queria um retorno tranquilo para sua residência na Estrada do Pedroso. “Você vem cansado do trabalho e vê o terminal todo bagunçado, ônibus de Mauá estacionado no meio. Estou perto de casa, mas preciso pegar ônibus, mas está atrasado”, considerou.

Dentro das dependências do Terminal da Vila Luzita, o clima era de apreensão. Muitos fiscais circulavam de forma apressada entre os extremos do local buscando orientar e garantir o fluxo dos usuários, mesmo não sendo um dia de alta concentração de público.

Responsável pela SATrans, coronel Fábio Leite acompanhou de perto o primeiro dia de operações e buscou justificar as reclamações apresentadas. “De segunda-feira para hoje, a empresa tinha de preparar 71 carros para o começo do trabalho (número inferior aos 84 ofertados pela Guarará). Pouco tempo. Então, aceita-se o carro mesmo ainda não tendo identidade visual. O importante é ter condições mecânicas para transportar a população. Está no contrato o prazo de 30 dias para essa adequação no modelo. A parte boa é que são os mesmos funcionários (da Expresso Guarará) que já conhecem a linha”, esclareceu.

Em relação à bilhetagem, o coronel falou em questões pontuais. “Há o funcionamento em alguns e em outros não. Cabe monitoramento e controle junto à empresa. Precisa ter solução, porque o usuário não pode ser prejudicado”, adicionou.

Sobre o estacionamento dos carros, o coronel explicou que o Terminal da Vila Luzita e um terreno na Avenida Dom Pedro I estão sendo utilizados para esta finalidade, porém evitou avaliar o procedimento. “Isso precisa ser verificado com a empresa”, argumentou.

A equipe do Diário entrou em contato com o proprietário da Suzantur, Claudinei Brogliato, mas não conseguiu efetuar questionamentos. “Não posso falar com você agora”, respondeu Brogliato.

Justiça vê indício de irregularidades em certame e pede esclarecimentos

A contratação da Suzantur em caráter emergencial por parte da Prefeitura é alvo de investigação da Justiça. Um dos indícios de irregularidade observados é o fato de o certame ter sido aberto no dia 28 de setembro, às vésperas das eleições municipais disputadas pelo prefeito Carlos Grana (PT).

O Paço tem de explicar à Justiça a razão da ausência de publicação no Diário Oficial sobre o interesse de abrir o processo público, ação realizada pela administração apenas na sexta-feira. Outro indício de ilegalidade foi o conhecimento de terceiros a respeito da vencedora do certame, a Suzantur, antes mesmo de o processo ser instaurado.

FALÊNCIA

Após tumultuados 16 anos de operação, a Expresso Guarará, deixou de operar em Santo André na sexta-feira. A empresa entregou pedido de falência ao Paço no mês passado devido a dificuldades financeiras, evidenciadas após a morte do fundador da viação, Sebastião Passarelli, em 2014.  




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