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Lula afirma se sentir ‘prisioneiro’, ataca imprensa e vê autoritarismo

Após prestar depoimento à PF, ex-presidente critica o fato de ter sido alvo de condução coercitiva e pede para que PT não abaixe a cabeça

Kelly Zucatelli
Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
05/03/2016 | 07:00
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou veementemente a atuação da PF (Polícia Federal) na manhã de ontem que o submeteu à condução coercitiva (quando o investigado é obrigado a depor), para prestar depoimento sobre denúncias de irregularidades que envolvem a ele próprio e a sua família, na 24ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Aletheia. Em coletiva de imprensa, concedida à tarde na sede do diretório nacional do PT, no Centro da Capital, o ex-presidente disse ter se sentido “prisioneiro”, atacou alguns veículos de comunicação e reclamou da “arbitrariedade” do Ministério Público e da Justiça Federal.

Nitidamente abalado e com a emoção aflorada, Lula disse que vivenciou ontem o “dia da indignação, do autoritarismo do judiciário e da falta do respeito democrático”. O ex-presidente frisou diversas vezes que que não precisaria ser conduzido obrigatoriamente para depor. “Seria tão simples ter me convidado para prestar depoimento, que eu iria. Neste ano já fui prestar três depoimentos em Brasília, para me fazerem as perguntas que me fizeram antes. Eu não me recusei a ir à Brasília para prestar depoimento três vezes e eu jamais me recusaria a falar aqui (em São Paulo)”, criticou. “Eu estou indignado com o comportamento de determinados meios de comunicação. Hoje quem condena as pessoas pessoas são as manchetes.”

Ladeado de deputados e senadores do PT e de outros partidos aliados ao governo e de lideranças de vários movimentos sociais, Lula classificou a decisão do juiz federal Sérgio Moro como “espetáculo de pirotecnia” e se queixou do vazamento de informações à imprensa sobre as investigações. “Enquanto os advogados não sabiam de nada, a mídia já noticiava. O juiz Moro poderia ter me chamado em Curitiba, em Brasília, que eu ia”, desabafou.

Com palavras fervorosas, Lula por diversas vezes arrancou aplausos dos partidários, principalmente quando pediu desculpas à mulher, a ex-primeira-dama Marisa Letícia – que não estava presente na sala. “Quero pedir desculpas à Marisa e aos meus filhos pelos transtornos que eles passaram. Não há nenhuma explicação (do) porque foram atrás dos meus filhos. Hoje parece que ser amigo do Lula virou coisa perigosa”.

Lula também citou as políticas sociais promovidas em seu governo e no da presidente Dilma Rousseff (PT), para justificar o “preconceito” contra ele e o PT . “A elite brasileira é muito conservadora, ela tem complexo de vira-lata e não vai permitir que os pobres cresçam. Mas nós crescemos e chegamos à Presidência (da República). Provamos que os pobres não eram os problemas”.

 

DEPOIMENTO

Sobre seu depoimento no escritório da PF em Congonhas, Lula revelou que foi questionado pelos delegados sobre o sítio em Atibaia, no Interior, o triplex no Guarujá, no Litoral, sobre suas palestras, ministradas por meio do Instituto Lula, e até sobre vinhos. “Um apartamento que eles dizem que é meu mas que não é. Quero saber quem vai me dar esse apartamento e esse sítio quando esse processo terminar. Não são meus porque eu não comprei”, esbravejou o ex-presidente.

Os agentes da PF chegaram à casa de Lula, em São Bernardo, por volta das 6h e, antes das 7h, ele foi levado pelas autoridades. Segundo relatos, ele estava tranquilo desde a abordagem até a condução coercitiva. Quatro carros entraram na garagem do prédio e cerca de dez agentes ficaram na portaria do edifício.

Lula também citou Dilma, a quem solicitou “liberdade para governar”. O ex-presidente encerrou o discurso pedindo que o PT levante a cabeça e fez alusão a possível candidatura à Presidência em 2018. “A partir da semana que vem quem quiser um discurso do Lula, eu irei. Se queriam matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo e a jararaca está viva como sempre esteve.”

 

 

 

Defesa do petista diz que tomará ‘medidas’

 

O advogado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Cristiano Zanin Martins, afirmou que a defesa do petista vai “tomar todas as medidas” para questionar a ação da PF (Polícia Federal) na manhã de ontem, a qual submeteu o ex-presidente à condução coercitiva para prestar esclarecimentos à Operação Lava Jato.

Zanin disse que o fato de o ex-presidente Lula já ter prestado outros depoimentos faz com que a condução coercitiva (quando o depoente é obrigado a prestar esclarecimentos) colida “frontalmente com a Constituição Federal” e seja “flagrantemente ilegal”. Na análise da defesa do ex-presidente, não havia motivos para forçar o petista à prestar informações, uma vez que Lula, segundo o advogado, não foi intimado. “Foi uma medida invasiva, que afronta o próprio STF”, criticou Zanin, em referência à ação que tramita no Supremo Tribunal Federal e que pede aos ministros que analisem qual instância do Ministério Público (federal ou estadual) tem competência para conduzir as investigações.

A defesa de Lula relatou, de forma breve, quais foram os questionamentos feitos pela PF à Lula. Segundo o advogado, o ex-presidente foi questionado sobre supostamente ser proprietário de triplex no Guarujá, no Litoral, e de sítio em Atibaia, no Interior, imóveis estes que possuem participação das empreiteiras OAS e Odebrecht, ambas acusadas de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras. “As perguntas (feitas à Lula) foram as mesmas. Inclusive, o delegado chegou a dizer que sabia que ele (Lula) já havia respondido em outra ocasião a uma questão, mas que a faria novamente”, informou o advogado do ex-presidente.

Zanin falou com a imprensa após o pronunciamento de Lula, que discursou, mas não quis responder aos questionamentos dos veículos de comunicação. Perguntado sobre detalhes das prováveis iniciativas que serão tomadas contra a condução coercitiva autorizada por Moro, o advogado do petista foi taxativo: “Ainda estamos analisando (o que fazer)”.




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