Turismo Titulo Portugal 3
A magia de Sintra

Classificada por Lord Byron e Glauber Rocha como a mais linda do mundo, vila parece cenográfica

Soraia Abreu Pedrozo
03/03/2016 | 07:00
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Ari Paleta/DGABC


 Poucos destinos, aos quais nos aventuramos pelo mundo afora, são tão memoráveis quanto Sintra. Que lugar mágico. Parece cenográfico, mas não é. Ali realmente viveram muitas gerações da Família Real Portuguesa, desde o século 12. Por se localizar em área montanhosa, a cidade era o refúgio ideal para os calorosos meses de verão. Às vezes, os monarcas passavam até quatro meses do ano na serra, também chamada de Monte da Lua. O local abrigou, ainda, escritores como o expoente do Romantismo Lord Byron, poeta inglês que classificou Sintra como “a vila mais bonita do mundo”, e Hans Christian Andersen, autor dinamarquês de clássicos como O Patinho Feio e A Pequena Sereia, e que disse que custou separar-se de toda a beleza de Sintra. O cineasta brasileiro Glauber Rocha, autor de Deus e o Diabo na Terra do Sol, que também a considerava como “o lugar mais bonito do mundo”, escolheu a cidade para passar seus últimos dias. E Eça de Queiroz, ícone da literatura portuguesa, que elegeu a cidade como cenário de suas obras, como Os Maias, e destino de muitos verões.

A apenas 40 minutos de Lisboa, de comboio (trem), saindo da estação ferroviária do Rossio, no Centro, é possível dar início a esse passeio dos sonhos. Mesmo nas estações mais quentes do ano, no fim da tarde cai uma neblina e o sol forte costuma dar lugar a um ventinho gelado. Por isso, é bom começar a visita logo cedo, para aproveitar melhor o dia. Com roupas e calçados confortáveis, pois anda-se muito por lá, além de blusa a tiracolo.

Ao descer na estação central da Vila de Sintra, a ‘cidade romântica’, basta caminhar um pouco até o ponto de autocarros (ônibus) hop-on/hop-off, daqueles que você paga e pode subir e descer quantas vezes quiser no dia ao apresentar seu bilhete (cinco euros). Existem dois destinos possíveis, com a linha 434 (Circuito da Pena) e a 435 (Villa Express Quatro Palácios). Para quem está pela primeira vez no local, o ideal é debutar pela 434, que começa a circular às 9h30, pois então será possível conhecer, no mesmo dia, os cartões-postais Palácio Nacional de Sintra, Castelo dos Mouros e o Palácio da Pena. E, na volta, ainda passear pelas charmosas lojinhas e pelos restaurantes locais.

A primeira parada é o Palácio Nacional de Sintra, também chamado de Palácio da Vila. O casarão data do domínio muçulmano na Península Ibérica no século 11, portanto, possui forte influência árabe em sua decoração, com belíssimos azulejos específicos para cada um de seus cômodos. Os tetos das salas são capítulo à parte, com arquitetura única. Chamam atenção as duas chaminés cônicas brancas de 33 metros de altura, assim como a cozinha enorme, voltada ao preparo de banquetes. O local também conta com muitos traços manuelinos, criados por Dom Manuel I, que misturam itens como a cruz da Ordem de Cristo (aquela das caravelas portuguesas), alcachofras, algas, conchas, gárgulas e sereias. A entrada custa dez euros. É possível comprar ingresso combinando as três atrações principais, basta perguntar pelo valor na bilheteria do palácio.

FORTALEZA
Ao tomar o ônibus novamente, o próximo destino, após muitas curvas íngremes que exigem destreza do motorista, é o Castelo dos Mouros, composto por muralha datada do século 10 após a conquista muçulmana, a 400 metros de altitude. Embora eu nunca tenha visitado a Muralha da China, me senti em uma miniatura de uma das sete maravilhas do mundo. É cansativo percorrê-la, devido aos irregulares e estreitos degraus de pedra que permeiam a fortaleza, mas a vista compensa. É de tirar o fôlego, literalmente. De lá, é possível observar de forma panorâmica toda a vila e arredores, até o Cabo da Roca, no Oceano Atlântico, o ponto mais ocidental da Europa. Ou, como escreveu o poeta português Luís de Camões, é “onde a terra se acaba e o mar começa”. Ao olhar para cima, tem-se mirante perfeito para admirar o Palácio da Pena. São oito euros para visitá-lo.

O destino seguinte, inclusive, é o Palácio da Pena, ainda com mais altitude, a 500 metros de altura do solo. Soberano, com suas cores fortes, em vermelho e amarelo, nasceu como uma capela dedicada a Nossa Senhora da Penha no século 12, mas foi no século 19 que transformou-se no icônico castelo. Para chegar até lá, ao descer do ônibus, é preciso tomar outra condução, que percorre o interior do Parque da Pena – é possível fazer o percurso de subida a pé, porém, vale muito a pena optar pelo veículo. Ao adentrar o palácio, tem-se a impressão de estar visitando o lar de Alladim e Jasmine, e parece que toda a construção é obra do gênio da lâmpada mágica. Representa como nenhum outro o romantismo de Sintra e é fruto da criatividade de Dom Fernando II, conhecido como o rei-artista, que transformou o local, então um mosteiro abandonado, em excêntrico palácio, com luxuosos jardins e salas. É lá, inclusive, que está o primeiro chuveiro instalado em Portugal. Mas quem aproveitou mesmo o local foi o penúltimo casal de reis portugueses, Dom Carlos I e Dona Amélia. O magnífico palacete foi erguido para ser observado de qualquer ponto do parque. Tem-se vista exuberante de seu entorno, onde é possível percorrer do lado de fora, em estreita passagem a céu aberto. A entrada custa 14 euros.

LEMBRANÇAS
Três dos souvenires que trouxe de Sintra, com sorriso no rosto, foram duas canetas com o meu nome, de origem árabe e, portanto, mais comum por lá do que por aqui (Soraia passa longe das campanhas da Coca-Cola e, como diz meu marido, eu deveria procurar na Dolly), sendo uma delas de cortiça e outra imitando uma caneta tinteiro, com uma pena sintética. Além disso, um relógio vintage prateado com o fundo imitando azulejo para o meu quarto. O resto, são as imagens, que nunca mais tiramos da mente, que embalam um sonho bom e que podemos acessar sempre que bate a saudade no arquivo de fotos no computador.

Berço e leito de morte de Dom Pedro I, Queluz encanta
Na metade do caminho para Sintra, a 20 minutos da mesma estação ferroviária do Rossio, em Lisboa, há uma parada que merece e muito uma visita dos brasileiros. O Palácio Nacional de Queluz, no município homônimo, abrigou boa parte dos ‘nossos’ governantes portugueses, com bônus para o quarto onde nasceu e morreu Dom Pedro I, o quarto na escala lusitana. A parada, que deve ser feita em outro dia da visita à cidade romântica, mas que pode ser combinada com passeio na Capital, como bater perna no Chiado, é um colírio para os olhos e um deleite para compreendermos onde as histórias de Brasil e Portugal se cruzam de verdade. O local era considerado palácio de verão desde 1747, quando foi construído, mas foi lá que a família real viveu por 13 anos antes de fugir das tropas francesas de Napoleão Bonaparte para o Brasil, em 1807.

O deslumbrante local, a propósito, tem um quê do Palácio de Versalhes, na França, mas em versão diminuída. Erguido com a influência dos estilos barroco, rococó e o neoclassicismo, possuía muito ouro nas paredes e nos tetos (o que é mantido em pintura dourada sob a madeira), além de lustres exuberantes de cristais, e, no exterior, jardins geométricos adornados com fontes e esculturas. O lugar é tão labiríntico que, para se perder em seus deliciosos cantinhos, é preciso seguir o mapa.

Estão intactos os aposentos de Dom João VI, Carlota Joaquina e Dom Pedro I que é ilustrado com cenas de Dom Quixote. Em 1822, a corte regressou a Queluz. Em 1908, o palácio foi cedido por Dom Manuel II, o último rei de Portugal, à Fazenda Nacional. Paga-se dez euros para entrar no local. Queluz é uma cidade simples, e pequena, onde é possível observar os hábitos portugueses, como colocar cadeiras na calçada para ver o tempo passar ou pendurar as roupas em varais. Antes de voltar a Lisboa, é bom sentar-se em um dos barzinhos (botecos) na praça principal e degustar um tradicional sanduíche prego (pão com carne). E, ainda, dar uma passada no supermercado local para comprar itens de perfumaria a preços camaradas que aqui no Brasil ainda não tem.




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