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Nelson Motta lança livro sobre Bossa Nova
Por Do Diário do Grande ABC
16/02/2000 | 15:09
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Nelson Motta tem sido íntimo da música brasileira - da boa e da nem tao boa música brasileira - nos últimos 40 anos. Compôs, ganhou festival da cançao, produziu discos, descobriu talentos, abriu casas de espetáculos, dirigiu gravadoras, escreveu sobre música e músicos. Foi até até jurado de programa de televisao - daquele, de triste memória, do Flávio Cavalcanti. Os jurados, todos, vieram a merecer, mais cedo ou mais tarde, antipatia geral. Menos Nelsinho Motta.

Simpatia, e nao é forjada, faz parte da mística dele, bem como o ar de eterna juventude. Um pouco afastado da música - nao totalmente - nos últimos anos, morando em Nova York, Nelson Motta resolveu contar o que viu, viveu, soube, depreendeu. Sem jamais ter ficado preso a gêneros - uma profissao de fé -, procurando buscar "a diversidade e a tolerância", a harmonizaçao de contrastes, palavras dele, viu mais do que qualquer outro.

Suas memórias, visao pessoal do que foi a música brasileira entre 1958 - com o surgimento da bossa nova - e 1992 - quando apareceu Marisa Monte, descoberta por ele - sao o assunto do livro "Noites Tropicais", lançamento da Editora Objetiva, 464 páginas, preço a definir. O texto, saboroso, rápido, fluente, é ilustrado com 63 fotos. Como epígrafe, o brado de guerra de Tim Maia: "Mais grave! Mais agudo! Mais eco! Mais retorno! Mais tudo!"

Nascido em Sao Paulo e criado no Rio, mais precisamente em Copacabana, Nelson Motta gostava apenas de sexo e futebol - conta, nas primeiras linhas do livro - até ouvir Joao Gilberto, aos 14 anos, ainda em Sao Paulo. Antes disso, nao gostava de música. Veio "Chega de Saudade" e sua vida mudou. Foi assistir com a mae e o pai, no auditório da Escola Naval, no Rio, ao show "Operaçao Bossa Nova", produzido e apresentado por Ronaldo Bôscoli. Tinha Nara Leao, Lúcio Alves, Alaíde Costa, Carlinhos Lyra, todos tentando tocar e cantar como Joao cantava e tocava.

Conjunto - Um primo, amigo de Ronaldo Bôscoli, levou-o, aos 16 anos, às reunioes da turma. A própria turma passou a freqüentar a casa de Nelsinho, na Rua Paiçandu: Bôscoli e Nara, namorados, Johnny Alf ("Que sempre levava um 'sobrinho' ou 'afilhado'"), Roberto Menescal, Alaíde, Luís Carlos Vinhas, Luís Eça, Rosa e Maria Helena Toledo, Chico Feitosa - ou Chico Fim de Noite -, Miéle, que nao era cantor: "Mas era simpático e engraçado". Um dia, o próprio Joao visitou a casa, levado por Dori Caymmi.

Nelson ficou, e ainda é, amigo de Joao Gilberto, um dos poucos. Como era baixinho, para conquistar as meninas precisava tocar violao, embora soubesse que o talento era pouco. Freqüentou a escola de Roberto Menescal, onde estudavam Wanda Sá Maurício Tapajós, Edu Lobo, Marcos Valle. Chegou a formar um conjunto, que nao deu certo, apesar de ter Francis Hime ao piano. Numa das festas da época, apareceu Carlos Imperial, levando sua nova "descoberta", um imitador de Joao Gilberto querendo ser Joao Gilberto: Roberto Carlos.

Mais adiante, Nelsinho seria, ainda é, amigo e confidente de Roberto. Amigo, aliás como foi dito, ficou de todo mundo. De intratáveis notórios, como Tim Maia, loucos de pedra, como Raul Seixas, gênios inegáveis, como Tom Jobim, das grandes cantoras - namorou Elis, quando ela ainda era casada com (seu amigo) Ronaldo Bôscoli, e tentou namorar Marisa Monte. Casou-se com Marília Pêra, bebeu todas, consumiu drogas, coisas que confessa sem pudor. Abriu importantes casas de espetáculo, fez a defesa pública dos (novos amigos) tropicalistas contra os (ainda amigos) que mantiveram atitude mais convencional em relaçao à música. "Noites Tropicais" traz histórias engraçadas - Tim Maia e Erasmo Carlos trocavam correpondência, o primeiro na prisao, nos Estados Unidos, o segundo no Rio, tentando a sorte com a música - e assinavam: Tim Jobim e Erasmo Gilberto. Pouco crítico, "Noites Tropicais" funciona como grande crônica coisa da memória afetiva, de lembranças que precisam ser boas. Direito do autor. Quem discordar, escreva as próprias memórias.




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