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Crise afeta venda de carros usados na região

Insegurança afasta consumidor, que vinha buscando
opção mais acessível do que veículo zero-quilômetro

Por Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
14/12/2015 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


A crise econômica, que ajudou a derrubar em 25% as vendas de carros zero-quilômetro neste ano em todo o País, também está impactando a procura por veículos usados. Embora seja encarada como opção mais em conta, em muitos casos, para quem busca trocar de automóvel, nesse cenário de desemprego crescente e inflação galopante, o mercado de usados também foi afetado, apontam lojistas e especialistas no setor.

No Grande ABC, comerciantes de revendas multimarcas relatam retração de até 60% no desempenho em 2015 frente ao ano passado. Os números contrastam com os dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), que apontavam no ano até outubro vendas de automóveis usados no País ligeiramente maiores (0,16%) frente a igual período de 2014, e, a partir de novembro, queda de 0,7% ante os primeiros 11 meses do ano passado.

Para especialistas, o comércio de carros na região é ainda mais impactado que no restante do País por causa dos receios da população de perder o emprego ou de se endividar. Isso porque o Grande ABC sofre mais os efeitos da crise por ser polo do segmento automotivo, ao reunir fábricas de seis montadoras e grande número de autopeças.

Os sete municípios enfrentam desemprego em alta no setor industrial – em torno de 20 mil postos de trabalho eliminados neste ano – e a insegurança gerada pela produção de veículos em baixa – nas montadoras são aproximadamente 4.000 trabalhadores em lay-off (suspensos temporariamente) e outros 25 mil com jornada reduzida pelo PPE (Programa de Proteção ao Emprego).

Lojas às moscas durante boa parte do dia, devido à baixa procura, somada à dificuldade de aprovação de fichas cadastrais dos clientes junto aos bancos compõem parte desse cenário. “Está parado, as pessoas não querem fazer dívida”, afirma o gerente William Henrique Pinheiro, de revenda localizada na Rua Jurubatuba, em São Bernardo. Sua avaliação é compartilhada por diversos outros lojistas. “Tem pouco cliente e muitos dos que vêm aqui ou têm restrição (de crédito) ou score baixo”, comenta Reinaldo Marque Gomes, gerente de outro comércio do ramo. Pelo score bancário, se a pessoa ficou inadimplente no passado, mesmo que já tenha acertado a dívida, pode ficar com pontuação baixa e ter o crédito recusado.

A insegurança, em face ao risco de desemprego, também tem gerado desistências. O vendedor Claudio Gonçalves dos Santos cita que teve três casos recentes de consumidores que desistiram do negócio em cima da hora. “Uma cliente tinha mudado de emprego e ficou com medo de ser demitida”, relata.

Outro tipo de negociação que tem crescido é a troca com troco, em que a pessoa tem um carro seminovo e busca outro mais velho, para ficar com diferença em dinheiro. “De cada dez vendas, três são assim”, conta Fabiano Myamoto Civitella, proprietário de loja no Auto Shopping Global, em Santo André.

Muitas revendas lançam mão de ofertas de brindes – na Rua Jurubatuba, um dos estabelecimentos oferecia um skate na compra do carro – e reduções de preços. “Chegamos a tirar até R$ 2.000 do valor”, diz Gomes.

Cenário fez 56% adiarem a compra

O cenário econômico atual fez muita gente adiar a decisão de compra neste ano, principalmente entre os que pretendiam comprar veículos mais populares. Pesquisa realizada pela consultoria Route Automotive aponta que 56,1% dos que desejavam trocar de carro em 2015 e não o fizeram postergaram a aquisição por causa da crise. O adiamento se deu, sobretudo, entre os interessados em adquirir carros populares, como hatchs pequenos (45,1% dos que tinham essa intenção. E para quem pensa em mudar de automóvel ainda em 2016, uma das opções fortemente avaliadas é a de adquirir um seminovo (71%), principalmente (61%) por causa do preço mais em conta.

É o caso do professor Marcelo Rosa, 42 anos, que tem um carro ano 2011, que ele adquiriu zero-quilômetro há quatro anos e, na semana passada, pesquisava preços em lojas multimarcas na Rua Jurubatuba, em São Bernardo, em busca de um seminovo popular, ano 2015. “Preferia um novo, mas se eu achar um usado com baixa quilometragem, em boas condições, pode ser interessante”, cita.

Segundo o diretor da Route Automotive, Lucas Pestalozzi, a insegurança em relação ao futuro, por exemplo, por causa do medo do desemprego, atrapalhou o comércio de veículos. “A compra do carro é um investimento grande, em que a pessoa fica atrelada ao financiamento por longo tempo, e nesse cenário, o comprador pensa: ‘Vou ficar três anos pagando (o financiamento). E se eu perder o emprego?’”. Nesse prazo, os juros também podem ter forte elevação, comprometendo a possibilidade de outras compras financiadas, segundo o executivo.

O estudo aponta ainda que, em meio à crise, em vez de trocar de carro, cerca de 60% considera a substituição de gastos, por exemplo, dando prioridade a fazer reformas em imóveis e a viagens ou passeios com a família.

Conforme a pesquisa, entre os que não pretendem mudar de veículo em 2016, melhoria das taxas de juros, redução no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e estabilidade financeira do País estão entre os fatores que poderiam levar o consumidor a mudar de opinião. 




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