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Greve que mudou Ford faz 15 anos
Eric Fujita
Do Diário do Grande ABC
19/06/2005 | 09:05
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Clima de guerra e tensão. Portões fechados e controlados pelos trabalhadores. Há 15 anos, em 22 de junho de 1990, mais de 7 mil metalúrgicos invadiram a Ford, em São Bernardo, contra a demissão por justa causa de 100 dos 900 trabalhadores das seções de manutenção e ferramentaria, em greve havia 12 dias por melhores salários. Na ocupação, houve agressões entre os operários que queriam sair e membros da comissão de fábrica.

A mobilização foi o estopim para a onda de violência instalada na montadora dias mais tarde devido a essa e outras punições contra a categoria. Incentivou também a deflagração da maior greve ocorrida na história da Ford e em outras montadoras do Grande ABC, que durou 50 dias, com um saldo nada positivo: três depredações no final de julho do mesmo ano e 150 carros de chefes e supervisores destruídos. A montadora contabilizou um prejuízo de US$ 300 milhões porque deixou de produzir 25 mil veículos.

Durante a greve, que ficou conhecida como a "dos golas vermelhas" (uma alusão ao uniforme da fábrica naquela época), a categoria reivindicava reajuste de 166,89%.

Para os envolvidos nesse capítulo da história do sindicalismo regional, aquela paralisação foi um divisor de águas na Ford. Depois desse movimento, as negociações entre a montadora e empregados nunca mais foram as mesmas. Passaram a ser mais brandas, predominando somente as negociações.

Assim avalia o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo (atual sindicato do ABC), o hoje deputado federal Vicente Paulo da Silva (PT-SP), o Vicentinho. Para ele, a onda de violência e depredações foi o resultado da própria ação da Ford no período, que, segundo o ex-sindicalista, apostou na truculência para sufocar o movimento.

"Eram tempos muito difíceis. Mas depois disso tudo, a relação patrão e empresa evoluiu para o que é hoje. As empresas tomaram ciência do poder de mobilização dos trabalhadores".

  

Reposição – Após a invasão, a greve, que pedia um reajuste de 166% para reposição inflacionária, se estendeu por outros 38 dias (terminou em 30 de julho de 1990). Parados, os trabalhadores da manutenção e da ferramentaria eram sustentados pelos demais funcionários que continuavam trabalhando. O salário dos grevistas foi suspenso.

Com isso, a Ford interrompeu o pagamento de todos os 9,6 mil funcionários da unidade numa tentativa de extinguir o movimento. Revoltados, os trabalhadores começaram a se articular. Surgiram novos personagens dentro da fábrica que lideraram a categoria para o confronto.

Um deles foi o ex-membro da comissão de fábrica e hoje aposentado João Ferreira Passos, o Bagaço. "Os diretores da empresa não acreditavam que aconteceria aquilo tudo. Apostaram errado. Mas isso serviu para melhorar o relacionamento entre patrão e empregado".




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