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Isaquias Queiroz espera coroar sacrifícios para fazer história na canoagem
05/08/2015 | 07:50
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Isaquias Queiroz tem dois sonhos. O primeiro é o mesmo da maioria dos brasileiros: ter uma casa própria. O segundo é mais específico: quer se consolidar como o maior atleta da história da canoagem brasileira.

No primeiro caso, o problema não é propriamente financeiro. Ele é beneficiário do Bolsa Pódio, do governo federal e tem apoio da confederação, que recebe verba da Lei Piva (R$ 2,9 milhões em 2014), além do patrocínio do BNDES. O problema são os sacrifícios da carreira. Hoje, ele divide um chalé com os outros membros da equipe de canoagem em Lagoa Santa, município de 50 mil habitantes em Minas Gerais. É quase um internato, com horários rígidos para tudo: treinar, descansar, comer e dormir. Ele ficou bronqueado com o atraso da reportagem da Agência Estado, que não conseguiu chegar à Lagoa Santa no horário previsto por causa daquela neblina que fechou o aeroporto de Congonhas na semana passada.

O descanso acabou prejudicado e ele ficou de mau humor. A vida dele é no relógio. É tudo tão puxado que ele, na varanda da casa, tem um simulador de remadas. Nesta parte do treino, o técnico Jesús Morlan corrige a posição do braço de perto, tête-à-tête, coisa que não consegue fazer dentro da lagoa.

Nos raros momentos de descanso, vai para Ubaiataba, no sul da Bahia, reencontrar a mãe, servente na rodoviária da cidade e que sustentou os seis filhos praticamente sozinha - o marido morreu de derrame em 1999. Foi no rio das Contas que ele deu as primeiras remadas. Hoje, por causa das cheias do rio, ele pensou em levar o simulador para lá, para não perder tempo. Enfim, o canoísta de 21 anos não tem um canto só seu.

O segundo sonho está encaminhado. No Pan de Toronto, ele acrescentou ao currículo três medalhas de ouro no C1 1.000 metros, no C2 1.000 metros e no C1 200 metros. Foi o primeiro brasileiro campeão mundial júnior e no Campeonato Mundial de Canoagem de 2013 ganhou o bronze na prova olímpica dos 1.000 metros, a primeira do Brasil na história do torneio. Para quem não está habituado com a canoagem, pode se familiarizar porque ele é um grandes candidatos ao ouro olímpico. O "c? é de canoa, o primeiro número indica os atletas na embarcação e o segundo, a distância da prova.

Com o passar da conversa, Isaquias fica mais manso. Toca até na história que faz parte de sua lenda como herói do esporte. Quando era criança, antes de começar a remar, caiu em cima de uma pedra, o que ocasionou lesões internas. Foi ao hospital e acabou perdendo um rim. Para os amigos, virou o Sem-Rim. Os rivais dizem que ele perdeu um rim, mas ganhou um terceiro pulmão.

Isaquias é alegre, fala bem e não escolhe palavras. É espontâneo. Já bateu de frente com a Confederação Brasileira de Canoagem e viveu um caso de amor e ódio com seu próprio talento. Sempre gostou de liberdade e arruaça, no bom sentido. "Já cheguei a chorar com vontade de ir embora. Era uma chatice. Teve de abrir mão de tudo. É o nosso trabalho. Não só a gente. Todos os atletas", conta o campeão. "Hoje, fico louco se ficar uma semana sem remar".

Isaquias quer acumular recordes e medalhas e levar sua canoa também para o alto. No sentido literal e no figurado. Ele não pensa só na chance de medalha em 2016, mas já se prepara para os Jogos de Tóquio, em 2020. Nessa trajetória, dá crédito ao treinador, Jesús Morlan, que deu um impulso decisivo aos canoístas brasileiros. "Não me sinto pressionado. Estou treinando agora a parte final da prova, como me manter na ponta".

Ele percebeu que está mais perto do sonho do que imaginava depois do Pan. No sul da Bahia, foi convidado por um amigo para subir ao palco da banda de Binho Alves. Era um show de arrocha. Dançou, cantou e viu que era rei. "Foi a primeira vez que me senti como uma celebridade".




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