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Desafio da longa espera por
transplante de medula óssea
Bruna Gonçalves
Do Diário do Grande ABC
26/03/2011 | 07:12
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Quem está à espera de um transplante de medula óssea precisa ter paciência. A demora para encontrar um doador pode ser medida por dois números.

Segundo o Ministério da Saúde são 1,9 milhão de doadores registrados no Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), o que torna o Brasil o terceiro maior banco de dados do gênero, perdendo para os Estados Unidos e Alemanha.

Mesmo com milhões de doadores, as chances de encontrar um compatível fora da família é de uma em 100 mil. Isso torna um desafio para as 1.035 pessoas que aguardam pelo transplante no Brasil.

Segundo especialista, a miscigenação da população dificulta encontrar doadores. "Temos muitas etnias e isso atrapalha até mesmo entre familiares", explica Ana Lucia Cornacchioni, oncologista pediátrica da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia). que ressalta que a chance entre irmãos dos mesmos pais é de 25%, de pais diferentes é de 5% e entre os pais é 3%.

A família de Lucas Guizzardi, 10 anos, de Ribeirão Pires, é uma das que, mesmo com a demora de cinco anos, não desistiram de encontrar doador.

O garoto descobriu que tinha leucemia linfoide aguda, câncer nas células do sangue, que atinge principalmente crianças. Ele fez durante um ano quimioterapia e conseguiu controlar a doença que atinge 88% de sua medula, mas acabou retornando.

A família fez o teste de compatibilidade HLA (termo em inglês para Antígenos Leucocitários Humanos) e apenas a irmã Rosiane, 15, apresentou compatibilidade de 75%. Enquanto que o ideal é 100%.

"Me senti culpada. Pensei que por ser irmã seria 100%. Me dedico ao máximo nas campanhas e que dá forças é ver como ele é forte e sorridente", afirma Rosiane.

A família está organizando a segunda campanha na cidade. "É importante conscientizar as pessoas de que um ato simples pode salvar vidas", explica a mãe, a técnica de gesso hospitalar Rosimar Guizzardi, 36.

Ela se orgulha ao falar do filho. "Mesmo com as quimioterapias e internações, sempre acompanhou a escola e contou com o apoio dos amigos."

ESPERANÇA
O casal de São Bernardo Luciano Cardeal dos Santos, 36, e Raniela Dayane Cardeal dos Santos, 27, vive pela segunda vez a angústia pelo transplante. Em 2007, eles perderam o filho Luran, 1 ano e 3 meses, após ter feito o transplante.

Aos 2 meses foi diagnosticado síndrome Hemofagocítica, desarranjo do sistema imunológico, no qual as células de defesa destroem as outras, inclusive da medula óssea.

A prima de Luran era compatível e o transplante foi feito em 2006, mas na recuperação houve complicações. Luciano e Raniela são primos de segundo grau e exames apontaram que o casal tinha 25% de  chances ter filhos com a doença.

Em 2009, nasceu Luan, que aos 8 meses apresentou os mesmo sintomas do irmão. "Fiquei mal. Sabia que iria passar por tudo de novo", explica a mãe.

"Peço para todos fazerem o exame. Não é fácil, mas não é impossível e quanto mais união mais força teremos para enfrentar novamente e conseguir doador", afirmou Luciano.

Cinco anos depois de transplante, dona de casa leva vida normal 

Quem conseguiu vencer a batalha e realizar o transplante de medula óssea serve de esperança para aqueles que estão no aguardo.

A dona de casa Teresinha Bonafé Machado, 59 anos, da Vila Prudente, Zona Leste da Capital, fez o transplante há cinco anos e pode ser considerada curada da doença.

"Minha sorte é que minha irmã teve 100% de compatibilidade. A recuperação foi muito boa, hoje tenho uma vida normal e não tomo nenhum medicamento." Entre dez e 20 dias após o transplante a pessoa começa a produzir novas células.

Aos 53 anos, Terezinha começou a se sentir muito cansada e se queixou para o médico, que dizia ser reflexo da menopausa. Mas ao fazer exame de sangue de rotina, foi descoberta leucemia.

"O laboratório me ligou, dizendo que era para passar no médico. Perguntei se era leucemia e tive que fazer novo exame, que confirmou a doença. Na primeira internação fiquei 72 dias fazendo quimioterapia." Os primeiros efeitos começaram a aparecer, como a queda de cabelo. "Já esperava, mas lidei tranquilamente." 

Mãe é exemplo de força e solidariedadeNem depois de um ano da morte do Breno, 4 anos, a professora de Educação Física de São Bernardo Juliana Moura, 26, deixou de se envolver em campanhas para cadastrar doadores de medula óssea. "Foi uma dor muito grande. Mas resolvi transformar a dor em amor e celebrar a vida dele organizando nova ca

 

 

mpanha."

Ela e a Ameo (Associação da Medula Óssea do Estado de São Paulo) estão organizando a campanha Doe Vida em Vida, que acontece hoje no Sesi São Bernardo, das 9h às 16h (veja ao lado).

"Se puder evitar que mães sintam o que senti com a perda do meu filho, vou continuar fazendo", explica Juliana, que fez três campanhas - 9.500 pessoas cadastradas.

Foi aos 6 meses que a família descobriu a doença do filho, síndrome de Shwachman Diamond. "Sabia que a chance dele era nula, mas fui atrás e fiz o que pude. Até engravidei para ver se tinha compatibilidade", conta a mãe de Rafaela, 2 anos e 10 meses, e Pedro, 1 ano e 1 mês.

DOADORES
Há um ano, a professora de Mauá Lucia Cristina Ferreira de Souza, 34, se cadastrou. "Eu e meu marido participamos de um evento. Não é nada complicado, e muitas pessoas podiam participar para ajudar vidas." O casal de Santo André Rosana de Cássia Serafim, 38, e Rodrigo Ferrari, 37, há seis me

 

ses se tornou doador. "Organizamos um evento na igreja e vemos a importância de colaborar para diminuir o sofrimento das famílias", explica Rosana.

Transplante registra aumento de 10,7% em 2010 

 

Segundo o Ministério da Saúde, o número de transplantes de medula óssea apresentou crescimento de 10,7%, entre 2009 e 2010, período no qual foram realizadas 1.531 e 1.695, respectivamente.

"Houve crescimento, mas sabemos que ainda é preciso informar melhor a população. Campanhas são importantes para tirar dúvidas", explica Carmem Vergueiro, presidente da Ameo (Assoc

 

iação da Medula Óssea) e hematologista da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.

A professora de Oncologia e Hematologia da Faculdade de Medicina do ABC Márcia Higashi explica que nem sempre as doenças hematológicas, hereditárias, necessitam de transplante. "Tem casos que só a quimioterapia pode curar. Assim como o transplante é importante, mas não tem como mensurar a chance de cura, que vai depender de cada doença."

Ela ainda ressalta a importância da doação de plaquetas, usadas para a transfusão de pacientes com leucemia, que apresentam queda.

"Muitos precisam fazer transfusão diariamente, e os bancos não dão conta. É como se fosse uma doação de sangue, em que o sangue passa por uma máquina que filtra as plaquetas e devolve o sangue para o doador. Para isso, é preciso ter veia visível", afirma. Na região, a doação de plaquetas pode ser feita no Núcleo Regional de Hemoterapia Dr. Aguinaldo Quaresma (Rua Rio de Janeiro, 502).

 




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