Se hoje ainda causa estranhamento entrar em um táxi ou ônibus em que o motorista é uma mulher, imagine há 40 anos. A bordo de um DKW, Angélica Malagó, 75 anos, foi uma das primeiras taxistas de Santo André.

“Eu não sei bem em que ano comecei a dirigir, mas outro dia encontrei o filho de uma passageira, que está com 40 anos. Eu que levei a mãe dele ao hospital para ele nascer”, conta a taxista.

Na época, Angélica trabalhava em uma empresa que faliu. O marido, também motorista, contratou um taxista para ela coordenar. Não satisfeita com o trabalho do empregado, ela mesma assumiu o volante e não largou mais. Atualmente, é a única mulher em um ponto com 18 carros.

Todos os dias, Talita Simão, 20 anos, é alvo de olhares indiscretos e cantadas mirabolantes. Há um ano, ela trabalha em um posto no Jardim Santo André, ao lado de outra frentista. Com um detalhe: seu uniforme é uma roupa de ginástica.

“Os homens acham que conhecem mais sobre carro que mulheres, mas há muitos que não sabem nem como se abre a tampa do tanque de combustível”, diz.

Se, do público masculino, ela arranca suspiros, da ala feminina que chega acompanhada ao posto só restam olhares ciumentos. “Já teve esposa que deu escândalo por achar que eu estava dando em cima do marido dela.”

Considerada uma das caminhoneiras mais experientes do Brasil, com 50 anos de profissão, Nahyra Schwanke, 77 anos, começou transportando

mercadorias para o próprio negócio da sua família na cidade de Não Me Toque, no Rio Grande do Sul.

“Como caminhoneira, consegui criar uma filha e pretendo continuar trabalhando pelo resto da vida”, diz. A realidade em que vivia na época em que começou, quando não havia mulheres na boléia, era bem diferente de hoje. “Encontro muitas mulheres na mesma profissão.” No começo, ela percorria um trajeto de apenas 70 quilômetros entre sua cidade natal e Passo Fundo, também no Rio Grande do Sul. Hoje em dia, Nahyra trabalha com diversos tipos de carga, do sul ao nordeste do país.