Setecidades Titulo Infraestrutura
Passarelas estão
malconservadas

Das 14 passagens visitadas nas sete cidades
do Grande ABC, quatro estão em estado crítico

Por Daniel Macário
Especial para o Diário
25/10/2014 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Fugir do perigo de atravessar grandes avenidas utilizando as passarelas se transformou em dor de cabeça para moradores do Grande ABC. Sujas, mal iluminadas e inseguras, as passagens se tornaram um problema sem solução. Em visita a 14 passadiços, de pelo menos 39 existentes (sem contabilizar São Bernardo, que não respondeu quantas têm sob sua responsabilidade, já que 12 são mantidas pela Ecovias), a equipe do Diário avaliou pontos básicos para o bom funcionamento do projeto. Entretanto, o que encontrou foi uma série de itens que coloca em risco a vida dos munícipes.

A passarela sobre a linha férrea, que interliga as avenidas Rio Branco (altura do 1.235) à Capitão João (altura do 1.121) é uma das que têm mudado a rotina dos pedestres de Mauá. Vizinho da passagem, o profissional da área de jateamento Carlos Gil Carvalho Costa, 38 anos, relata as constantes solicitações de mulheres para acompanhá-las no trajeto até o outro lado. “É comum ver moças esperando que pessoas suspeitas cheguem ao final da via para que elas possam passar. Isso quando não nos pedem companhia para atravessar”, comenta o morador, que ainda relata os abusos frequentes de usuários de drogas no local. “É só passar por lá (na passarela) que você irá ver vários pinos espalhados pelo chão.”

Na Avenida Capitão Mário Toledo de Camargo, em Santo André, o problema fica por conta dos moradores de rua. A passarela José Furtado, na travessa da via com a Rua Amaro, é um exemplo. “Boa parte da passagem já foi ocupada por andarilhos. Você nem consegue mais andar ali. De noite, a falta de iluminação piora tudo”, diz o mecânico Valter Rodrigues, 45, que revela outro problema constante. “Quando a Prefeitura vem colocar a luz, eles (moradores de rua) cortam a fiação no dia seguinte.”

Quem pensa que os problemas nas passarelas se limitam à falta de segurança está enganado. A passagem localizada em frente à Prefeitura de São Bernardo e o Shopping Metrópole é exemplo de infraestrutura ruim. Em visita ao local, foi possível encontrar vãos laterais que não ofereciam a mínima proteção para o pedestre.

A jovem estudante Bruna Pereira, 16, foi uma das moradoras que mostraram claramente o risco de passagem pela via. “Se eu quiser, me jogo tranquilamente na rua.”

Outra que apresenta uma série de problemas em toda sua extensão é a passagem localizada na Avenida Humberto de Campos, em Ribeirão Pires. A principal reclamação é a falta de iluminação, o que faz com que pedestres que a utilizam para a travessia colecionem relatos de assaltos.

Apesar das constatações feitas nas passarelas da região, as prefeituras do Grande ABC, junto com a Ecovias e CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), declararam que os locais recebem manutenções periódicas, tais como reparos nos pisos, pintura, reformas no gradil, iluminação, entre outras ações.

Especialista diz que estruturas estão longe do ideal para pedestres

Como consequência da falta de segurança, as passarelas do Grande ABC têm atraído cada vez menos pedestres. Segundo o professor da área de Mobilidade Urbana da UFABC (Universidade Federal do ABC) Humberto de Paiva Júnior, é preciso pensar em projetos diferentes para beneficiar quem se desloca a pé.

“A ideia (de construção da passarela) não é ideal para os pedestres. Além de algumas apresentarem problemas, muitos moradores preferem se arriscar nos cruzamentos em nível porque gastam menos tempo para percorrer o trajeto.”

De acordo com o especialista, os sistemas viários das cidades deveriam valorizar mais os transeuntes em relação aos veículos automotores. “O ideal é que fosse feita passagem subterrânea para os veículos. Brasília é um bom exemplo de cidade em que o projeto foi todo pensado para os moradores que trafegam sem carro. Entretanto, o custo é bem mais elevado que construir somente uma passarela”, adverte o professor.

Paiva Júnior acredita, porém, que esse tipo de passagem ainda pode atrair os pedestres se seguir critérios básicos de construção. “É necessário que todas ofereçam acessibilidade, como rampas para deficientes físicos. Além disso, apesar da iluminação não ser comum, é importante pensar nesse aspecto, que traz certa sensação de segurança para quem utiliza esses equipamentos”, destaca o especialista. 




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