Setecidades Titulo Imunização
Invenção da vacina
contra caxumba
completa 50 anos

Cientista observou doença na filha e desenvolveu a fórmula que imuniza até hoje

Thaís Moraes
Do Diário do Grande ABC
16/06/2013 | 07:00
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É comum conhecer um familiar ou amigo que contraiudoenças infecciosas ligadas à infância, como catapora, sarampo, caxumba. Mas é raro ter notícias de pessoas que tiveram complicações decorrentes dessas enfermidades. Isso se deve às vacinas, criadas para atenuar o efeito ou evitar a entrada de agentes causadores de doenças.

Uma das moléstias mais raras de serem diagnosticadas hoje em dia nos consultórios médicos é a caxumba, causada por um vírus da família dos paramyxovirus. Essa ausência de casos se deve muito a um médico norte-americano chamado Maurice Hilleman, responsável pela criação da vacina da caxumba.

Em março de 1963, a filha de Hilleman acordou com dor na garganta. O cientista apalpou a lateral do rosto da menina e notou um inchaço abaixo da mandíbula. Resolveu então raspar o fundo da garganta da filha e levar amostra para seu laboratório e lá desenvolveu a vacina da caxumba. Inclusive, uma das linhagens de vírus distribuídas mundialmente contra a doença recebe o nome da filha do microbiologista, Jeryl Linn.

Embora a criação da vacina tenha ocorrido há 50 anos, a inclusão nos calendários vacinais foi feita gradualmente. Segundo o Programa de Educação Continuada em Imunizações da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), em países mais desenvolvidos, como Estados Unidos, a imunicação foi introduzida em 1967. A princípio foi feita de forma individual, mas depois foi combinada contra sarampo e rubéola, a conhecida tríplice viral. Na maioria dos países europeus a vacinação foi introduzida entre 1976 e 1988.

No Brasil, a implantação foi gradativa. De acordo com o Ministério da Saúde, isso ocorreu de 1992 a 2002. Já em São Paulo, a tríplice viral foi introduzida no calendário vacinal em 1992. O professor de Pediatria da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) Luiz Alberto da Silva explica que não houve grande pressa em colocar a vacina no calendário. “Apesar de ser uma doença desconfortável, raramente caxumba mata ou deixa sequelas. Primeiramente foram combatidas doenças como paralisia infantil e sarampo”, justifica.

Pediatra há 50 anos, Silva conta ter presenciado muitos casos da doença porque não existia vacina. “Mesmo depois que ela foi inventada, só as crianças de famílias com maior poder aquisitivo tinham acesso à vacinação porque não estava no calendário”.

Hoje, a tríplice viral está disponível em qualquer UBS (Unidade Básica de Saúde). A primeira dose deve ser aplicada no 12º mês de vida e um reforço entre 4 e 6 anos. Não é necessária a aplicação de mais de duas doses. Segundo o professor de Infectologia da FMABC, Hélio Vasconcellos Lopes, o corpo leva em média duas semanas para produzir anticorpos. “Mesmo que na idade adulta a proteção diminua, por exemplo de num nível de dez para nove, a vacina continua sendo eficiente”.

Perfil da doença foi modificado - Antes da existência da vacina, a caxumba era uma doença essencialmente infantil. Mas depois de sua invenção, a situação inverteu e o vírus passou a acometer mais adultos. Isso se explica porque os mais velhos foram crianças em uma época em que ou não existia imunização ou o acesso era limitado. E é aí que problemas podem aparecer, já que os adultos não possuem anticorpos específicos para a doença.


“As crianças adoecem e se curam com extrema facilidade porque o organismo ainda está novo, já os adultos não estão preparados para combater o vírus”, explica o pediatra Luiz Alberto da Silva. A caxumba, transmitida pelas vias respiratórias e caracterizada pelo inchaço das glândulas embaixo das orelhas, embora seja fácil de ser controlada é passível de complicações.

“A mais frequente é a inflamação dos testículos em homens adultos, que pode levar até à esterelidade. Já nas mulheres, a chance do vírus atingir os ovários é muito menos frequente”, informa o infectologista Hélio Vasconcellos Lopes. A doença também pode causar meningite, surdez, inflamação do pâncreas, das mamas, entre outros.




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