Cultura & Lazer Titulo Teatro
Humanidade em gestos
de silêncio e de solidão

'Ausência', a primeira incursão de Luis Melo
no teatro gestual, estreia hoje no Sesc Ipiranga

Thiago Mariano
08/06/2013 | 07:00
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Divulgação


Em um mundo pós-apocalíptico, sem água para beber, sem ar puro para respirar, um homem vive a solidão no limite de sua existência. Dividindo o topo de um arranha-céu com alguns ratos e um peixe num pequeno aquário, ele enfrenta um dilema: matar o companheiro para saciar a sede ou continuar, a conta-gotas, dividindo o pouco do líquido que sobrou.

Toda a cena acima descrita, em 'Ausência', transcorre sem palavras. Luis Melo, no projeto da companhia franco-brasileira Dos à Deux, assume o 'front' em seu primeiro projeto ligado ao teatro gestual. Depois de cumprir temporada na França e ser apresentada em Brasília, Porto Alegre e Rio de Janeiro, a peça entra em cartaz no Sesc Ipiranga, hoje.

Foram meses de preparo para conseguir canalizar nos gestos a força dessa história. “Sou um ator extremamente orgânico, tudo tem que passar por dentro do meu organismo. Não consigo ampliar ou deformar uma gravidade criada no palco. O que me impressionou muito nessa experiência é o que pode estar contido nesses movimentos que as palavras em si, se fossem ditas, não teriam a mesma força para explicar em comparação a um simples gesto. Às vezes o silêncio diz mais, é um silêncio preenchido de série de conflitos, sensações e sentimentos”, conta Melo, que até a experiência que viveu no CPT (Centro de Pesquisa Teatral), do Antunes Filho, deve um pouco do que conseguiu levar à cena em 'Ausência'.

“No meu trabalho de pesquisa com o Antunes a palavra só vinha se houvesse necessidade dela, você tinha que defender essa palavra, e para isso criar movimento interno para torná-la necessária. Esse espetáculo radicaliza isso.”

Conciliando o papel de Atílio, de 'Amor à Vida', com o da peça, Melo crê que o texto da montagem, por chegar tão longe no tempo, fala principalmente de hoje. “Quanto mais você projeta para o futuro, mais percebe que ele é hoje. O texto trata de uma série de ausências, você percebe que tudo aquilo poderia estar acontecendo sem a realidade estar no limite.”

Para ele, a solidão de quem enfrenta a companhia da internet e a violência que aprisiona em redomas de segurança – condições que enganam uma vivência que não é vivida plenamente – são assuntos que ligam o hoje e o amanhã do texto. “Como o próprio personagem, que construiu um universo de sobrevivência, quase como se esperasse seu fim.”

A incursão no teatro gestual foi marcada por experiências impressionantes. Entre elas, as apresentações em um teatro francês especial para pessoas com deficiência auditiva.

“Você consegue experimentar a montagem com um público diverso. Tem pessoas que não sabem o que é teatro gestual. É teatro na sua essência, sem nenhum tipo de recurso que não seja o de contar uma história.”

AusênciaTeatro. Estreia hoje. No Sesc Ipiranga – Rua Bom Pastor, 822, São Paulo. Tel.: 3340-2000. Sábado, às 21h; e domingo, às 18h. Ingr.: R$ 7,50 a R$ 30. Até 28 de julho.




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