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Mais de 25 mil lotam Pacaembu no show do Deep Purple
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
21/09/2003 | 19:08
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Eram 18h46 do sábado quando a reportagem do Diário, a caminho do Pacaembu, flagrou uma Brasília na avenida Prestes Maia, em Santo André, adornada com um adesivo onde lia-se, em minúsculas, “deep purple”. Eram 19h08 do sábado quando uma “rádio rock” disparou nos alto-falantes Highway Star. Eram 19h39 do sábado quando um congestionamento entupia a rua Itajobi, via de acesso entre a avenida Dr. Arnaldo e o estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacembu. As evidências eram claras: sábado foi o sábado mais rock’n’roll de 2003, até agora. O dia em que Deep Purple desceu do Olimpo roqueiro, escoltado por Sepultura e The Hellacopters, para saudar 25 mil mortais que compraram ingressos, segundo a assessoria de imprensa da Kaiser Music.

Fazia tempo que nada justificava a reunião da massa vestida de preto – cor predominante das camisetas tidas como uniforme dos novos e velhos roqueiros. Rush, em novembro de 2002, foram os últimos gringos a fechar um estádio em São Paulo.

A recompensa anunciava-se. A banda The Hellacopters entrou no palco exatamente às 21h. Pontualidade não britânica, mas sueca – nacionalidade do quinteto que veio ao Brasil divulgar o disco By the Grace of God. Fadados à figuração, sopraram em qual quintal musical militam em 12 músicas. O som, com ecos de Clash em músicas como Carry Me Home, obteve boa resposta do público.

Decorridos 48 minutos de show dos suecos, soaram as súplicas dos mortais: “Sepultura! Sepultura!”. O vento começava a gelar a pele quando, às 22h21, Igor Cavalera, Andreas Kisser, Derrick Green e Paulo Jr. subiram no palco.

Goste-se ou não do rumoroso som, há de se dizer que o Sepultura, diante de seus ouvintes, ao vivo, é uma das bandas que mais transmitem energia desde que o rock é rock. É um coquetel de rendição que reúne a voz gutural de Green, a guitarra no limite do descontrole de Kisser e o bumbo duplo de Cavalera e que resulta nas incendiárias Biotech Is Godzilla, Sepulnation, Refuse/ Resist, Territory, Arise, Bullet the Blue Sky (cover do U2) e Roots, Bloody Roots. Ao fim dos trabalhos, Green, norte-americano, não deixou dúvidas quanto à origem da banda que vocaliza: “Sepultura do Brasil”.

Julgou incrível o set list do Sepultura? Foi a sensação geral antes de a madrugada ser tingida de púrpura, a partir da 0h17. Piedade de seus fãs o Deep Purple não tem, senão não ousaria mandar de cara Highway Star, o clássico que abre o Machine Head, disco elementar da banda, de 1972. O Pacaembu veio abaixo.

Estranha essa alquimia da banda britânica com 36 anos de carreira. O vocalista Ian Gillan, 58 anos, apareceu como que desembarcado da Ilha da Fantasia uma vez visto o seu figurino; o guitarrista Steve Morse, caçula aos 49, tal qual um He-Man após a lipo-aspiração; o baixista Roger Glover, 57, e uma bandana pink ao melhor estilo As Panteras; o baterista Ian Paice, 55, discreto canhoto; e a mais nova aquisição, o tecladista Don Airey, 55, que martela temas como o de Star Wars no teclado em momentos de virtuose.

Cinco “tiozinhos” que entendem do riscado. Após a abertura, seguiram-se Woman from Tokyo (quem diria?), Silver Tongue (faixa do novo disco, Bananas) e Lazy, outra do Machine Head, o tal álbum que ainda forneceria para a apresentação Space Truckin’ e Smoke on the Water. Desnecessário dizer que esta última, só de ser mencionada pela guitarra de Morse ao lado de riffs históricos como Sweet Child O’Mine (do Guns’n’ Roses) e Honky Tonk Women (do Rolling Stones), ouriçou da pista às arquibancadas. Antes dela, porém, ainda houve Contact Lost (também do Bananas), I’ve Got Your Number, Knocking at Your Back Door, House of Pain e uma alucinante Perfect Stranger.

Viria o intervalo e o bis, quando o público seguiu mestre Gillan (habilidoso com “brinquedinhos” como uma gaita, um pandeiro e uma câmera de vídeo) a entoar os “na-na-na” de Hush e os “oh-oh-oh-oh” de Black Night. O Purple agradeceu a platéia exclamando “incrível”, “fantástico”, “louco”. Gillan estava visivelmente emocionado com a recepção no Pacaembu. Em vez de pranto, uma reverência de joelhos. Era 1h52, e já não se sabia quem era cultuado ou cultuava.




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