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Moradores de rua tentam sobreviver em meio à pandemia

Em quatro cidades do Grande ABC são 702 pessoas que vivem em situação precária

Por Yasmin Assagra
Do Diário do Grande ABC
23/03/2020 | 00:01
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 O avanço do novo coronavírus no Grande ABC coloca pessoas em situação de vulnerabilidade, como trabalhadores autônomos, famílias em habitações precárias, pessoas nas penitenciárias e, principalmente, moradores de rua mais expostas ao novo coronavírus. São 702 indivíduos que vivem nas vias de quatro das sete cidades – Santo André (297), São Bernardo (360), Diadema (35) e Ribeirão Pires (10) –, e ficam sujeitos a contaminações diversas – São Caetano, Mauá e Rio Grande da Serra não responderam até o fechamento desta edição.

Dentro deste universo, existem muitas pessoas com mais de 60 anos, naturalmente mais vulneráveis às infecções e que integram o grupo de risco do novo coronavírus, conforme o Ministério da Saúde.

A equipe do Diário percorreu alguns pontos onde se concentram pessoas em situação de rua e conversou com moradores sobre o cenário da pandemia. Em São Bernardo, próximo ao Bom Prato, o ex-pintor Jorge Santos, 52 anos, comenta que mora nas ruas por causa de briga familiar e, deste então, confessa que não se preocupa tanto com doenças. “Nós não vivemos, nós sobrevivemos. Se esses casos aumentarem, qual a possibilidade de um morador de rua viver? Soube desta doença por colegas de rua e nada mais.”

Já em Mauá, próximo à Praça 22 de Novembro, no Centro, Maria da Silva Conceição, 41, procura se manter informada com jornais e revistas expostos em bancas ou pelas televisões ligadas em bares e restaurantes. “O único dinheiro que temos, infelizmente, usamos para comprar comida. E quando comemos em algum lugar, guardamos. Eu sei dos riscos, mas não tenho muita noção do quanto isso pode me afetar”, comenta.

Em Santo André, a administração destaca que existem três unidades de acolhimento, que juntas totalizam 160 vagas, e todos os equipamentos reforçam os procedimentos preventivos na orientação aos usuários, além da suspensão de atividades em grupo e visitas externas.

São Bernardo é a cidade que concentra mais pessoas em situação de rua, e que podem recorrer aos serviços por meio de Centro de Acolhimento, que conta com 150 vagas. Há ainda 30 vagas na Moradia Provisória, no Riacho Grande. Além das orientações de uso do álcool gel e higienização, as equipes dos locais são orientadas a identificar pessoas com sintomas e notificar à Secretaria de Saúde.

Em Diadema, o Centro Pop (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua) possui 70 vagas para atendimento e também já adotou medidas de higiene e ampliação do período do banho, já viabilizado. Por fim, a Prefeitura de Ribeirão Pires, informou que possui convênio com a Associação Acolhida com Esperança, que pode receber até 40 pessoas e também já segue medidas universais de limpeza.

Especialista não vê acolhida em abrigo como boa opção
O epidemiologista e docente do curso de medicina da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Davi Rumel, avalia que manter os moradores de rua em abrigos comunitários não é alternativa adequada, pois, apesar das medidas de limpeza adotadas pelos locais, os próprios usuários podem ser fontes de doenças respiratórias, como a tuberculose, e passar de um indivíduo para outro. “Uma pessoa pode passar para todas. O que acaba deixando (essas pessoas) ainda mais vulneráveis à contaminação por outras doenças”, observa Rumel.

O especialista também ressalta que os cuidados com estas pessoas “devem vir de nós”, ou seja, das pessoas que não estejam com nenhuma doença. “Não podemos esperar isso deles. (Os moradores de rua) Não têm uma ideia clara, apenas se preocupam em sobreviver e suprir suas necessidades”, destaca. Rumel ainda aconselha que quem puder, deve ajudar os moradores de rua com água, comida, álcool gel e cobertores, pois isso fará diferença. “Abrigo talvez não seja a solução neste momento, então, o que podemos fazer é ajudá-los com itens básicos para proteção”, finaliza.




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