MÃE
Teu perfume na sombra da paz
noturna da cama
torna-me pomba
a voar no nirvana.

Não é o sensual, lúdico
deitei-me com meu rebento
o cheiro é único
de rosas colhidas pelo vento.

Ele sentiu minhas contrações
e agitou as roseiras
perfumou-as de emoções.

Procura-me o peito
Que perfume é esse
a balsamisar meu leite?l

SINTO
Sinto
algo de definitivo
no ar de meu País
reformas e manipulações
trocadas pelo vil metal.
A primeira já conduziu ao tédio
dos corpos e das almas
a justiça que se dava àqueles
tidos como os vilões
para ocultar corruptos.
Sinto
que o irreversível
se aproxima de nossa aldeia
ardente tempestade de areia
capaz de dizimá-la.
Sinto
que impérios incomparáveis
declinaram e caíram.
Sinto
que carroças após carroças
lutavam contra o lodaçal
em direção aos cemitérios parisienses
transportando obreiros e burgueses.
Sobre essa experiência triste e humana
Criou-se também no Brasil uma Justiça
destinada à entrega de alguns anéis
para não se irem os dedos;
essencialmente conciliadora
para, assim, ser tocada nossa vidinha
na nação mais desigual do mundo.
Esta semana tudo caiu num profundo
tédio.
É possível sentir o terrível silêncio
que se posta atrás da algaravia
cotidiana dos crimes oficiais
nenhum escriba tem o direito
de levar sua depressão aos leitores
mas os nódulos engulhados têm de ser
expulsos.
Sempre é possível encontrar um ramo
no rio que nos condena.

O AUTOR: Amadeu Garrido de Paula, 66 anos, é advogado e autor do livro Universo Invisível.

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