Cultura & Lazer Titulo
Ultravioleta, com Milla Jovovich, é só besteirol
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
28/04/2006 | 08:47
Compartilhar notícia


Nem mesmo a coleta seletiva de lixo exibe capacidade semelhante de coletar tanto material reciclável quanto Hollywood. E que fim essa indústria consegue dar para a matéria que recolhe? Uma prova está em Ultravioleta, filme de aventura, terror, ficção científica e paródia assinado pelo diretor Kurt Wimmer. Uma façanha alcançada pelo longa-metragem, incontestável, é a ruminação sobre os gêneros cinematográficos; não apenas um, mas aparentemente todos aqueles que cabem nos 88 minutos de projeção.

Ajuda numa análise nesse sentido o fato de Milla Jovovich ser a atriz central. Ela, que de modelo passou a intérprete de ponta em projetos bastante ambiciosos, vem tornando-se uma espécie de Barbarella do século XXI, uma nova heroína de um novo “gênero”, o filme B com saúde financeira de filme A. Senão, o que dizer de Resident Evil (trilogia de filmes baseados em videogames, iniciada em 2002 e pronta a ser finalizada em 2007, com a conclusão de Resident Evil: Extinction)?

O misto de aventura e de fetiche ao qual se submete é o que credencia Milla a ser remake eterno de Barbarella, a personagem celebrizada por Jane Fonda no filme de Vadim, até mesmo em papéis mais “sérios”. É o caso de Joana D’Arc, de Luc Besson – por sinal, uma espécie de drama histórico com mentalidade de filme B, uma qualidade, não fosse o próprio filme de Besson (justo ele) tão temeroso do ridículo.

Então é por meio da persona cinematográfica de Milla em projetos dessa natureza que se pode ler este Ultravioleta. Ou talvez, por aquilo que crêem como persona de Milla, uma vez que Wimmer procura em sua atriz algo que ela não possa oferecer com muita propriedade.

Milla interpreta uma meio-humana, meio-vampira, situada em meio a um conflito entre homens e hematófagos num futuro adiantado. Tem como principal desígnio proteger um garoto (Cameron Bright), espécie de messias que pode trazer paz ao conflito instaurado. A baboseira usual.

Mas a ambição de Wimmer é maior que o seu flerte com o clichê. Entre uma e outra cena, é possível identificar o desejo do diretor de fazer de Ultravioleta uma espécie de Kill Bill futurista. A diferença entre ele e Tarantino não reside unicamente na reputação, com distâncias abissais.

Fica evidente a diferença de cultura cinematográfica entre os dois. Todo o projeto de Tarantino, somados os volumes 1 e 2 de Kill Bill, consiste em parodiar sua formação visual e conceitual, mas sem desancá-la; a paródia emparelha com a homenagem, e boa parte disso deve-se ao imenso conhecimento do diretor do cinema enquanto história e expressão. Não há simplesmente uma feição de Uma Thurman (a protagonista de KB) para ironizar um maneirismo cinematográfico qualquer. Em torno de sua atuação, há todo um trabalho complexo de reinterpretações estéticas e repetições narrativas que são atributos de Tarantino. Agora, no genérico de KB que Wimmer desenvolve, bastam elementos pontuais como uma careta de Milla (que não é lá essas maravilhas na comédia) ou um zoom isolado de qualquer contexto narrativo. Besteirol, neste caso, é elogio.

ULTRAVIOLETA (Ultraviolet, EUA, 2006). Dir.: Kurt Wimmer. Com Milla Jovovich, Cameron Bright. Estréia nesta sexta-feira no Metrópole 3, Mauá Plaza 5 e circuito. Duração: 88 minutos. Censura: 14 anos.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;