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Mercado da fé movimenta bilhões
Por Mariana Oliveira
Do Diário do Grande ABC
07/08/2005 | 11:05
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A fé que “move montanhas” também movimenta uma cifra milionária. Dados da agência Data Popular, especializada em pesquisa e consultoria de marketing voltada às classes C, D e E, indicam que o mercado religioso cristão – formado por católicos e evangélicos – movimenta anualmente em todo país cerca de R$ 11 bilhões, o mesmo montante faturado por todas as universidades particulares brasileiras por ano. Os números foram obtidos após estudos com base em pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No Grande ABC não é diferente. A magnitude do setor é confirmada por empresários do varejo da região, que afirmam que o mercado cresce a passos largos e não se abala com crises. Ao contrário, se fortalece com elas. “Esse mercado é um dos únicos que cresce a cada dia. Nos momentos de dificuldades financeiras, as pessoas se apegam ainda mais às coisas de Deus”, destaca Silas Bitencourt, proprietário da Livraria Evangélica Bitencourt, em Santo André, cujo faturamento cresceu 30% nos últimos 12 meses.

São livros – o principal deles a Bíblia –, CDs e DVDs de músicas ou filmes gospel, jóias temáticas, acessórios e roupas. Tudo visando atingir um público que representa a grande maioria da população, os católicos e evangélicos. Segundo o último censo do IBGE, realizado em 2000, as duas religiões dividiam 89% dos brasileiros.

Apesar de já ser um mercado grandioso, a Data Popular aponta que ainda há espaço para expansão. “A religião é mais presente na vida daqueles que têm renda mais baixa, e os dados mostram que o maior potencial está entre os evangélicos, concentrados nas regiões mais pobres da cidade”, avalia o publicitário Renato Meireles, diretor da agência.

Segundo ele, mesmo com menos dinheiro per capita, as classes C, D e E são o público que mais consome artigos religiosos e merecem, portanto, mais atenção das empresas. “As pessoas valorizam ações de empresas voltadas à crença que seguem. Se tiver que comprar algo, o cristão certamente preferirá artigos que transmitam mensagens que condizem com o que acredita”, afirma Meirelles.

Evangélicos – Em relação ao crescimento contínuo desse mercado, o publicitário acredita que o motivo seja, principalmente, o aumento das conversões para religiões evangélicas, cujos fiéis participam mais da igreja. Ele destaca também a intensidade do movimento católico de renovação carismática como importante fator para a expansão dos estabelecimentos destinados aos católicos.

A informação do publicitário é corroborada por empresários do ramo evangélico no Grande ABC, que afirmam que as vendas de artigos evangélicos crescem mais que a de católicos, devido ao aumento das conversões. E isso realmente foi constatado pelo IBGE. Em 1950, 93,5% da população brasileira era católica e 3,4% evangélica. No último censo, 73,7% eram católicos contra 15,4% de evangélicos. O restante da população é formado por ateus ou adeptos de outras religiões.

“Esse mercado cresce juntamente pelo aumento das conversões. O evangélico se identifica com um mundo novo e muda seus hábitos antigos. Compra novos livros, CDs, bíblia, roupas e demais objetos. Nos momentos de dificuldade, a procura por objetos religiosos é ainda maior”, diz Valter Bado, gerente da Requel Lar Cristão – com duas unidades em Santo André, uma em São Bernardo e uma em São Paulo. Segundo ele, as vendas crescem, pelo menos, 30% ao ano.

Conforme pesquisa divulgada pela Abec (Associação Brasileira de Editores Cristãos) em junho passado, o mercado editorial evangélico faturou 22,5% mais no ano passado que em 2003, o que confirma o crescimento apontado pelos empresários do ramo na região. Segundo o diretor executivo da entidade, Whaner Endo, a indústria de livros em geral, em contrapartida, cresceu apenas 6%. “O aumento da parcela de evangélicos da população é um dos motivos. Outro fator é o segmento literário evangélico, que está sendo descoberto agora pelo mercado.”

Católicos – Embora as conversões para religiões evangélicas aumente, o carro-chefe do mercado religioso cristão ainda são os católicos, que movimentam R$ 8 bilhões anualmente de acordo com a Data Popular. Para o padre Valdecir Conte, diretor da Paulus – principal editora católica do país e que também comercializa artigos como terços e santos, com unidade em Santo André –, o setor cresce “porque os católicos perderam a vergonha de demonstrar sua crença”. Para o gerente da unidade de Santo André, Rafaeli Cassul Fernandes, um dos motivos é a modernização dos estabelecimentos do ramo.

Conte destaca também que outro fator de impulso são as novelas que destacam os santos, fazendo aumentar a procura por itens religiosos. A Paulus teve incremento de 11% no faturamento no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.

Para quem ainda tem dúvidas do poder do consumidor religioso cristão, basta lembrar do “fenômeno” padre Marcelo Rossi, cujo primeiro disco lançado, em 1998, vendeu mais de 4 milhões de cópias. O discurso dos empresários do ramo é igual: a intenção de vender artigos religiosos é evangelizar a população. O lucro, segundo eles, vem em segundo plano. Ter um “cantinho” no céu pode ser dúvida para muitos, mas que o ideal gera renda e emprego para muita gente, isso é indiscutível.




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