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Pesquisador esteve no exílio com Serra

Cido Faria fugiu do Brasil durante regime militar e foi abrigado pelo ex-governador

Cynthia Tavares
Do Diário do Grande ABC
22/07/2013 | 07:43
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Uma senha concedida por integrantes da AP (Ação Popular) em 1971 causou o encontro do economista e pesquisador Cido Faria e o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), no Chile.

Os dois dividiram o mesmo teto durante dois anos em Santiago. O tucano era responsável por receber pessoas consideradas subversivas pelo regime militar brasileiro (1964-1985) e que buscavam exílio no Chile.

Cido, que hoje coordena o projeto Acorda ABC (iniciativa que pretende lançar livro com depoimentos de presos e torturados na ditadura que moram no Grande ABC), resolveu fugir para o país após ser condenado a oito anos de prisão pela luta contra a ditadura. “O Serra chegou ao Chile bem antes do que eu (em 1965). Quando resolvi fugir para me exilar, os companheiros da AP me deram uma senha para que eu pudesse encontrar o Serra quando chegasse lá”, recordou.

O economista lembrou que a convivência com o ex-governador era boa. “Ele me recebeu muito bem, assim como as outras pessoas que chegavam lá em busca de refúgio. Fizemos diversos trabalhos juntos”, contou. Cido negou que Serra abandonou a luta contra a ditadura brasileira, apesar da mágoa de alguns militantes da AP.

O pesquisador era responsável pela produção de um boletim mensal com informações do regime militar no Brasil e os crimes contra os direitos humanos que eram praticados no começo da década de 1970, quando a ditadura chegou ao ápice da repressão. “Eu era responsável por levar e buscar o material na gráfica e de enviá-lo aos órgãos que defendiam os direitos humanos. Queríamos chamar atenção do mundo para o que estava acontecendo no Brasil.”

Para tentar sobreviver em solo chileno, Serra começou a trabalhar como economista na Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). Cido disse que o colega também dava aulas em faculdade. “Ele trabalhava para a esquerda. Era marxista e lenista convicto. Foi professor de sociologia”, disse.

A separação de Serra e Cido ocorreu ainda em 1972, quando o ex-governador começou a prestar assessoria para o governo Salvador Allende. O economista já estava se engajando na esquerda chilena, que lutava para evitar o golpe militar. “Trabalhei para a bandera rojabandeira vermelha), que lutava contra o (general Augusto) Pinochet e o Serra não estava no movimento”, lembrou.

Em 11 de setembro de 1973, militares liderados por Pinochet derrubaram Allende e os integrantes da AP que estavam no país acabaram rachados.

Neste momento, o Brasil já havia enviado pessoas ligadas ao regime para investigar paradeiros de brasileiros e ensinar técnicas de tortura e interrogatório aos chilenos. “Boa parte não quis fugir do Chile e ficou na luta contra a ditadura”, destacou.

 

Ainda naquele ano, Serra foi capturado e levado ao Estádio Nacional de Santiago, palco de execuções de diversas pessoas da esquerda. Salvo por um major, o tucano fugiu para os Estados Unidos, onde permaneceu até 1978.

A experiência de Cido resultará num depoimento na Comissão Estadual da Verdade. O deputado Adriano Diogo (PT), integrante do grupo, fez o convite ao economista. A data ainda será marcada.

 

‘Acorda ABC’ faz seminário com mulheres torturadas

 

O projeto Acorda ABC organiza seminário voltado para as mulheres que sofreram nas masmorras da ditadura. O evento será no dia 17, na Câmara de Mauá, às 19h. O prefeito da cidade, Donisete Braga (PT), fará o discurso de abertura.

Cido declarou que a lista das militantes ainda está sendo fechada. “Queremos o depoimento de mulheres que foram presas e torturadas. Elas vão contar como foi viver na clandestinidade.”

As histórias devem ser retratadas no livro que será lançado pelo Centro Memória do Grande ABC, ONG responsável pelo Acorda ABC. Cido também pretende realizar um documentário sobre o tema.

No mês passado, a Prefeitura de Santo André entrou como parceira do projeto e será co-organizadora do seminário internacional Brasil e Chile, que contará sobre os regimes militares nos países. O evento será nos dias 10 e 11 de setembro. O local ainda não foi definido.




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