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Hospital de Urgência inicia luta contra Covid

Equipamento de S.Bernardo entra hoje em operação, com 1.500 funcionários
e 250 leitos; Doria diz que unidade será referência na Grande S.Paulo

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
15/05/2020 | 00:01
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Denis Maciel/DGABC


O Hospital de Urgência de São Bernardo entra em operação hoje, com 1.500 funcionários, no combate à pandemia do coronavírus. O equipamento, que demandou investimento de R$ 172,6 milhões – sendo R$ 25 milhões do governo federal, R$ 20 milhões do governo do Estado e o restante a cargo do município –, servirá para dar fôlego ao crescente aumento no número de internações por Covid-19 na região e na Grande São Paulo.

No começo da semana, o secretário de Saúde do Estado, José Henrique Germann Ferreira, revelou que 89,6% dos leitos destinados à doença estão ocupados na Grande São Paulo. O Hospital de Urgência disponibilizará 250 acomodações, sendo 170 de enfermaria e 80 de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) – inicialmente, 40 leitos de emergência estarão aptos, pois a cidade aguarda a chegada de respiradores.

Médicos, equipes de enfermagem e fisioterapia e demais colaboradores passaram ontem mesmo a trabalhar na nova unidade, acompanhando o processo de desinfecção do prédio, instalado na região central de São Bernardo. Os primeiros pacientes, segundo estimou a Secretaria de Saúde de São Bernardo, chefiada por Geraldo Reple Sobrinho, devem ser encaminhados hoje à tarde, já que, pela manhã, ainda estão previstas ações para desinfectar o prédio.

Dos 267 leitos à disposição em São Bernardo atualmente, sem contar a nova estrutura, 187 estão ocupados – 122 de enfermaria e 65 de UTI. A taxa de preenchimento de pacientes, atualmente, é de 69%. Com as camas do Hospital de Urgência, esse percentual cairá para 38%, número que permitirá o desenho de melhor estratégia de encaminhamento de doentes de Covid-19.

“O Hospital de Urgência atende o Grande ABC, não apenas São Bernardo. Com isso, melhora a condição de oferta de leitos de UTI, essencial para o controle do coronavírus. São Bernardo dá exemplo de referência para o setor médico e para lembrar a população para ficar em casa, se proteger e contribuir para que a taxa de isolamento possa crescer e o índice de atendimento, aqui, ser feito de forma correta e adequada, salvando vidas, como é a expectativa deste hospital”, disse o governador João Doria.

Prefeito de São Bernardo, Orlando Morando citou que o custeio do Hospital de Urgência será de R$ 19 milhões ao mês – a estrutura seria, inicialmente, utilizada para desafogar o PS (Pronto-Socorro) Central. Ele lembrou que o reinaugurado Hospital Anchieta (inicialmente projetado para ser especializado em oncologia, mas está focado no combate à Covid-19) demanda R$ 8 milhões ao mês aos cofres de São Bernardo – juntos os equipamentos custam R$ 27 milhões. O tucano, diante do quadro, revelou que pediu auxílio financeiro para o governo paulista.

“Sei da sensibilidade do governador João Doria. Inauguramos dois hospitais em 15 dias, que vão trabalhar no limite (da capacidade). A Prefeitura não tem recurso disponível para subsidiar esse montante. O governador nos disse que fará análise para que o Estado nos ajude no custeio dos hospitais e já designou o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM) para tratar desse assunto”, comentou Morando.

O equipamento receberá pacientes encaminhados de outras unidades de saúde e por meio da Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde), que concentra pedidos de internação do Estado. “O hospital tem nosso pedido feito para credenciamento do SUS (Sistema Único de Saúde). Como tem esse apoio financeiro do SUS, nosso desejo tem características de atendimento via SUS. Todos serão atendidos, mas a nossa prioridade será o morador de São Bernardo”, disse o prefeito.

RESPIRADORES
Sobre os 40 leitos do hospital que aguardam respiradores, Doria e Morando citaram a dificuldade da compra do aparelho devido à alta demanda. “É produto que entrou em escassez. Buscamos com a Secretaria do Estado de Saúde e o Estado espera aquilo que comprou. Hoje, tenho certeza que se recebêssemos avião direto da China, é possível que esses respiradores já teriam chegado”, lamentou Morando.

A projeção do Estado é a de que 1.380 respiradores cheguem a São Paulo até o fim do mês e mais 1.000 até a primeira quinzena de junho. 

Manifestantes deixam clima quente, apesar da tarde gelada

Antes do evento de inauguração do Hospital de Urgência de São Bernardo começar, grupo de 20 manifestantes encarou a chuva e se posicionou em frente à entrada principal do equipamento para protestar contra o governador João Doria (PSDB). Sobraram gritos contrários até ao prefeito Orlando Morando, à deputada Carla Morando, ambos do PSDB, e aos jornalistas que faziam a cobertura.

Por outro lado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teve o nome exaltado pelos manifestantes, enrolados em bandeiras do Brasil e com buzina de ar comprimido que ecoava pelos arredores – sem que eles dessem conta de que ao lado funcionava pronto-socorro, que permaneceu em atividade durante a construção do Hospital de Urgência.

Ao perceber que o chefe estadual não chegaria pela porta principal, o grupo se dirigiu a outro portão, sempre acompanhado de perto por policiais militares e guardas-civis municipais – inclusive, aproximadamente 60 profissionais de segurança estiveram presentes, participando de bloqueios em ruas próximas.

Durante a coletiva, ouviram-se gritos contrários ao governador, pedindo sua saída ou acusando-o de “assassino”, por causa das ações tomadas para controle da proliferação do coronavírus. Mesmo acostumado à situação, em alguns momentos Doria voltou o olhar para protestante que berrava da janela de prédio próximo.

‘Seja líder, se for capaz’, diz João Doria a Jair Bolsonaro

Questionado sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que, em reunião com empresários, pediu para que “pegassem pesado” com João Doria e as medidas impostas contra o coronavírus – inclusive a possibilidade de lockdown (bloqueio total) –, o governador respondeu ao chefe da Nação – ambos travam guerra declarada que pode parar nas urnas em 2022 em possível pleito ao cargo máximo do País.  “Lamento que o presidente da República ao invés de pedir pelo seu povo, trabalhar pela saúde do seu povo, defender vidas de brasileiros, esteja mais preocupado em atender a pequeno grupo de empresários vinculados à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)”, criticou Doria. 
 

O governador manteve o tom duro. “Gostaria que o Brasil tivesse líder, que liderasse o combate ao coronavírus, a luta pela vida e o respeito pela ciência, medicina e saúde, que visitando hospitais de campanha, inaugurando hospitais, visitando cidades que estão em colapso, como Manaus e Belém, e fazendo seu papel em gravíssima pandemia. É triste e lamentável que o Brasil não tenha líder diante de circunstância tão grave pela qual está passando. Fica o convite para o presidente: ao invés de pedir para jogar pesado contra São Paulo, jogue a favor do Brasil, dos brasileiros. Seja líder, se for capaz”, finzalizou João Doria.




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