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Na barra da saia da mãe
Por Cristiane Bomfim
Do Diário do Grande ABC
24/02/2007 | 17:15
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Sair da casa da mãe é tarefa difícil para Pablo Fernandez, 28 anos. Casado há um ano com Sara, 26 anos, e pai de Ana Carolina, de sete meses, ele tem vida financeira estável, diploma de bacharel em jornalismo nas mãos, emprego fixo e, mesmo assim, adia a data de ter sua própria casa. Prefere morar com a mãe num confortável apartamento em São Caetano e dividir com a esposa e a filha os mimos que sempre teve.

Pablo não é o único. Uma pesquisa feita pela Unesco no ano passado mostra que 49,3% dos brasileiros entre 15 e 29 anos nunca saíram da casa dois pais. Outros 25,5% que tentaram morar sozinhos voltaram atrás na decisão.

Definir esta realidade como comodismo dos filhos, que podem ter casa, roupa lavada, contas pagas, enquanto podem gastar o salário apenas com eles mesmos é, segundo psicólogos, um equívoco. “Se por um lado é bom para os filhos, também é bom para os pais. Os fatores históricos, sociais e culturais são os principais responsáveis para que os filhos prefiram ficar em casa por mais tempo”, explica a professora de psicologia da educação da PUC-SP Ana Mercês Bahia Bock.

Muitas vezes, o termo adolescência tardia é usado para designar adultos nestas condições. Segundo Ana Bock, até o início do século XX, a vida de uma pessoa era dividida em duas etapas: criança e adulto. A passagem de uma fase para outra era marcada não só pelas mudanças físicas, mas também pelo primeiro emprego. “O período entre as etapas foi se estendendo ao longo dos anos de acordo com as mudanças sociais. Surgiu então a adolescência”, explica a psicóloga.

Assim, a adolescência fica marcada como o período em que o jovem já tem todas as condições cognitivas, afetivas e fisiológicas desenvolvidas, mas é impedido de entrar na vida adulta. “Nem sempre um adulto que mora com os pais é um adolescente tardio. Isso pode ser uma opção”, afirma.

A mudança comportamental é outro fator. Hoje as pessoas casam mais tarde do que há 50 anos. As mulheres conseguiram ocupar espaços na sociedade que antes eram restritos aos homens. A necessidade de estar sempre atualizado, seguindo as exigências do mercado de trabalho faz com que os jovens adultos prefiram investir nos estudos e se apoiem na família. “Gosto de viver com a minha mãe. Ela respeita minha privacidade e cuida bem de mim. Além disso, tenho a possibilidade de conquistar coisas que eu não conseguiria se morasse sozinho”, afirma Pablo, que tem planos de mudar-se daqui a dois anos.

Os pais, por outro lado, também têm parcela de responsabilidade. “Sem perceber, muitas vezes, eles poupam os filhos de saírem de casa ao oferecer comodidades. como TV a cabo, internet. Permitir que namorados durmam em casa com as filhas são artimanhas para inibir que eles saiam de casa”, explica a psicóloga clínica Celina Savieri. Para ela, isso é resultado do medo da violência e da vontade que os pais têm de cuidar dos filhos. “Eu gosto de ter meu filho em casa. Por mim ele só sai de casa depois que casar”, afirma Marisa Ferreira. Ela é mãe do Evandro, que tem 21 anos, e Natália, de 14. “A gente diz que eles podem ir, mas fica torcendo para eles ficarem”, sorriu.

Paulo Henrique Chiarot, 31 anos, sempre morou com os pais e só pensa em sair de casa para casar. “Ajudo em casa desde o ano que me formei. Acho que me sentiria muito solitário se morasse sozinho e desde que a minha mãe morreu, eu e meu pai cuidamos um do outro”, contou o engenheiro eletricista. A afetividade e as relações estreitas entre pais e filhos são outros fatores determinantes na decisão da permanência. “Não recomendo às pessoas que saiam de casa”, aconselha Pablo.




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