Economia Titulo Automotivo
Queda do dólar preocupa indústria
Por Leone Faria
Do Diário do Grande ABC
12/10/2010 | 07:18
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A nova trajetória de queda do dólar frente ao real, sentida na semana passada quando a moeda norte-americana caiu abaixo dos R$ 1,70 - atingindo a menor cotação nos últimos dois anos -, trouxe apreensão em representantes do setor industrial.

Na área automotiva, as vendas atualmente estão aquecidas no País e há recuperação também da demanda internacional, mas o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Cledorvino Belini, avalia que há motivos para preocupação, já que o efeito cambial se soma a outros problemas, como o alto custo do capital (juros) e a matérias-primas caras no País. "O real cada vez mais forte prejudica os manufaturados. As curvas de tendência são preocupantes", afirma. E, segundo ele, o aço chega a ser 40% mais caro no Brasil que no Exterior. "Todos esses fatores, mais o real valorizado, fazem a importação crescer", afirma.

Belini cita ainda que, no segmento, os carros produzidos em outros países cada vez ganham mais espaço no mercado nacional. Em 2005, representavam 5,1% das vendas internas de carros; hoje, já são 18,1%. Ao mesmo tempo, a exportação brasileira de veículos perdeu participação: de 30% em 2005 para atuais 14,6%.

O dirigente da Anfavea acrescenta que o setor automotivo (incluindo as autopeças), até agosto, estava com déficit de US$ 3,8 bilhões na balança comercial (ou seja, o quanto as importações superam as exportações) e a projeção é que chegue ao fim do ano em US$ 5,5 bilhões. Ele avalia ainda que os investimentos no segmento, projetados em US$ 11,2 bilhões até 2012, podem cair à medida em que o real se valorize mais.

OUTROS SETORES
A preocupação não se limita à área automotiva. O gerente-executivo de Política Econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Flávio Castelo Branco, também considera a valorização do real uma ameaça aos setores industriais, que podem perder competitividade frente aos importados.

O diretor regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Caetano, William Pesinato, que atua no ramo de equipamentos hospitalares, vê a perspectiva de perda de espaço em sua atividade para os fabricantes de outros países, como Paquistão, Índia e China. "O cenário já começa a afetar as vendas", diz.

 

Tendência do câmbio dos EUA é mundial

Entre os economistas, há a avaliação de que o novo movimento do câmbio não se limita ao Brasil, embora haja divergências em relação a como atacar esse problema.

Para a professora de Economia da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) Marlene Laviola, as armas que poderiam ter sido adotadas, foram usadas. "É mundial essa queda do dólar, o que o Brasil tinha de fazer, está fazendo", afirma.

Ela se refere à elevação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 2% para 4% sobre os investimentos estrangeiros em renda fixa e a ampliação dos poderes do Tesouro para comprar dólares destinados ao pagamento da dívida externa. As medidas foram adotadas na semana passada pelo governo para conter a enxurrada de dólares no País, o que gera valorização do real.

FAVORÁVEL
O coordenador do curso de Economia da Fundação Santo André, Ricardo Balistiero, concorda que a tendência é mundial, mas observa que a conjuntura brasileira é favorável ao crescimento do fluxo de dólares para o País. "A taxa de juros do Brasil ainda é a maior do mundo. Além disso, com a capitalização da Petrobras também entrou muito dinheiro", afirma.

Balistiero acrescenta que a elevação da IOF é válida como sinalização, mas o fluxo é muito elevado, e por isso, a medida não dará resultado. "Teria de passar por redução de juros, todo o resto é paliativo", avalia.

Para o delegado do Corecon (Conselho Regional de Economia) no Grande ABC, Leonel Tinoco, a autorização para o Tesouro emitir títulos da dívida, por meio do Fundo Soberano, também pode ajudar a conter essa valorização do real.




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