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Capoeira para exportação
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
22/10/2009 | 07:00
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Um filme brasileiro com fortíssimas características ‘tipo exportação'. Assim parece ser "Besouro", estreia no cinema de João Daniel Tikhomiroff, diretor premiado no mercado publicitário. O título, que chega aos cinemas no dia 30, é mescla de biografia encorpada por inúmeras lendas, belas coreografias de luta (idealizadas pelo responsável por filmes como "Matrix", "Kill Bill" e "O Tigre e o Dragão", entre outros) e elenco jovem e, em sua maioria, inexperiente.

"Fiz uma fábula. Me encantei por esse personagem que jogava capoeira como ninguém e ainda enfrentava os poderosos", resume Tikhomiroff, que concedeu entrevista coletiva na terça-feira (20).

O argumento nasceu depois que o livro "Feijoada no Paraíso", do carioca Marco Carvalho, caiu nas mãos do diretor há cerca de quatro anos. A obra reúne grande parte das histórias a respeito de Manoel Henrique Pereira, famoso capoeirista nascido em 1897 no Recôncavo Baiano.

Segundo contam as tais lendas orais, "Besouro", como ficou conhecido Manoel, fez uso da capoeira para fazer justiça aos negros, àquela altura não mais escravos, mas ainda subjugados. A habilidade seria tamanha que o rapaz levantaria voo nos embates com os inimigos.

Desde a pré-produção, Tikhomiroff escolheu priorizar a agilidade das cenas. "Queria colocar a câmera muito perto dos atores, pegar a respiração, cada detalhe", explica.

Daí a opção de escalar para os papéis principais apenas capoeiristas experientes, mesmo que sem formação dramatúrgica. O casting foi feito em cidades baianas, incluindo Lençóis, onde nasceu o protagonista Ailton Carmo, 22 anos. "Eu estava na Bélgica, era professor de capoeira lá junto com meu irmão. Soube dos testes, corri para fazer, mas cheguei três dias depois. Um amigo conseguiu que eu fizesse em outra cidade e aí deu tudo certo", relata ele, que foi guia turístico na região da Chapada Diamantina.

O responsável por fazer Carmo literalmente ‘voar', foi o chinês Huen Chiu Ku, mais conhecido como Dee Dee. Fluente em inglês, o coreógrafo trouxe uma equipe de chineses que só falavam mandarim. Estava armada a Torre de Babel, já que o elenco não sabia se comunicar em inglês. "Quando não havia ninguém por perto para fazer a tradução, a gente se entendia por mímica. E foi muito legal o trabalho: ele sempre perguntava se aquele movimento era ‘capoeira' mesmo", diz Carmo.

Dee Dee, que criou sequências que se tornaram referência para o cinema de ação em filmes de Quentin Tarantino e os irmãos Wachowski, fez uso de cabos e guindastes para içar o protagonista e seus colegas de luta, além de técnicas próprias de artes marciais orientais.

A preparação de elenco ficou a cargo de Fátima Toledo. Foi ela quem convenceu Ailton Carmo a aceitar o papel. "Eu falei que não poderia fazer. Fiquei assustado. Ela só disse: ‘Você foi escolhido e vai fazer'. Confiei nela", ri.




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