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Versatilidade é receita de fabricantes para crescer

Em meio à crise, empresas do setor de plástico se destacaram com diversificação na busca de novos negócios

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
25/07/2009 | 07:00
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Em meio ao cenário de crise que atinge a economia do País desde outubro de 2008, algumas indústrias do setor plástico (que produzem peças e embalagens com essa matéria-prima) do Grande ABC conseguiram resistir e crescer em vendas neste primeiro semestre.

A receita foi versatilidade e flexibilidade para buscar novos nichos de mercado e investimentos para aproveitar boas oportunidades de negócios, segundo as empresas.

Foi o caso da Plasmax, de Santo André. Prestadora de serviços de injeção (um tipo de processo fabril) de peças plásticas para outras indústrias, a companhia registra alta de 15% a 20% no faturamento nos primeiros seis meses do ano frente a igual período do ano passado.

A fabricante tem condições de atender segmentos variados (de utensílios domésticos, eletrônico, brinquedos até o setor automotivo). "Algumas empresas têm o molde mas não têm a parte fabril e terceirizam. Se fica fraco em UD, passo para eletrônico e assim por diante", afirmou o empresário Eduardo Rosalino.

Ele adquiriu, no fim do ano, duas máquinas, que permitiram expandir. De porte pequeno, a Plasmax, que consome 60 toneladas mensais de matéria-prima, atualmente produz brinquedos e já negocia com indústria de cosméticos - pode fornecer, por exemplo, tampas. "Dá pra crescer mais, utilizamos hoje 80% de nossa capacidade", avaliou.

Outra fabricante que suportou bem a crise foi a Sulamericana, de São Bernardo. A empresa aplicou R$ 240 mil na aquisição e modernização de equipamentos e obteve incremento de 20% nas vendas no primeiro semestre.

O primeiro mês de 2009 foi atípico, em função da paralisia no setor automobilístico. "Paramos para manutenção, mas no final de fevereiro o mercado começou a retomar e em maio já estávamos em voo de cruzeiro", assinalou diretora Vânia Regina Costa.

A Sulamericana faz tampões protetores de plástico para as montadoras. Parte do investimento foi para a troca de duas máquinas por outras mais modernas, que elevaram a produtividade. "Fechamos cinco projetos para peças novas neste ano", afirmou Vânia.

No entanto, boa parte do impulso veio de outra atividade. A empresa também produz artigos de borracha (para vedação industrial), que atende o setor petroquímico (entre outros) e adquiriu maquinários que ampliaram em 33% sua capacidade.

REGRA - Se para algumas, a crise não chegou, a regra do mercado no setor foi a retração de até 19% frente aos primeiros seis meses de 2008. Mesmo com o mercado menor, os fabricantes comemoram uma recuperação gradual, mês a mês, nos resultados. "Chegamos a ter queda de 40% em janeiro. Agora estamos com queda de 15% frente ao ano passado", estimou o empresário José Jaime Salgueiro, da Resiplastic, de Mauá.

Sua fábrica faz peças para implementos agrícolas (tanques de combustível, paralamas, dutos de ar), segmento que têm retomado as encomendas gradualmente neste ano. Com a melhora, ele afirmou que foi possível readmitir pessoal. Tinha, na unidade da região, quadro de 120 pessoas no ano passado, reduziu para 70 e neste mês, já está com 90 funcionários.

Salgueiro tem perspectivas favoráveis. Para ele, uma nova linha de financiamento de máquinas agrícolas lançada pelo governo federal, com taxa fixa de 4,5% ao ano, até dois anos de carência e oito para pagar, deverá ajudar a incrementar ainda mais a atividade e os pedidos de sua empresa.

Carga tributária é um dos problemas do setor plástico

Para o presidente da Abiplast (Associação Brasileira da Indústria do Plástico), Merheg Cachum, o grande problema do setor atualmente é a elevada carga tributária que incide sobre o setor produtivo no País.

O dirigente citou que a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para automóveis e eletroeletrônicos ajudou a estimular a economia, e a volta a patamares anteriores do tributo podem fazer comprometer a recuperação econômica.

Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que o segmento vem reagindo, apesar de ainda estar com desempenho inferior ao do mesmo período do ano passado. Em maio, a produção de laminados feitos com essa matéria-prima cresceu 11% frente a abril e a fabricação de embalagens subiu 2,33%.

Cachum assinalou que o peso dos tributos é preocupante também porque tem crescido o ingresso de itens importados (sobretudo chineses) no País.

"Os americanos não estão mais comprando e os chineses se voltam para outros países que têm boa demanda, como o Brasil. E aí, como fica a indústria nacional?", questiona. Segundo ele, se não houve uma reformulação do sistema tributário, "teremos problema".

José Jaime Salgueiro concorda com a avaliação. "Hoje em dia, precisamos trabalhar com margens de lucro muito baixas, por causa da concorrência dos asiáticos. Nossa estrutura de impostos é elevada", afirmou.

O empresário da região assinalou que, enquanto o concorrente asiático paga pela resina termoplástica (a matéria-prima) US$ 1,20 o kg, o equivalente a algo como R$ 2,40, ele adquire o mesmo insumo por R$ 3,90, ou seja, 60% mais caro.

Ainda de acordo com Salgueiro, enquanto no Brasil, os impostos incidem em praticamente todos os elos da cadeia produtiva, em outros países, o tributo só é recolhido na ponta, na venda para o consumidor. "O Custo Brasil é muito alto e fica mais difícil concorrer com produtos do Exterior", avaliou.




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