Automóveis Titulo Olhos pesados
Acorda, motorista!
Marcelo Monegato
Do Diário do Grande ABC
27/05/2009 | 07:00
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São 5 horas da manhã. Tudo tranquilo para voltar para casa. Afinal, na balada que pegou com a galera, você foi o amigo da vez e não bebeu. No caminho, nenhum problema. Os camaradas, que abusaram um pouco dos destilados, dormiram. Sua única companhia é a música que toca no rádio - algo mais leve do que o putz putz da casa noturna. O cansaço, então, chega. A sensação dos olhos pesados irrita. De repente, a calmaria de um minuto atrás se transforma em um pesadelo. O carro, inexplicavelmente, está batido junto ao guard rail. Por sorte, todos estão bem. Então, mesmo com a cabeça dolorida, vem a pergunta: "Como tudo isso ocorreu? Não me lembro!" A resposta: você dormiu ao volante!

No Brasil e no mundo, boa parte dos acidentes de trânsito é causada por motoristas que caíram no sono. "Dentre as colisões em que a pessoa apaga dirigindo, pelas mais diversas razões, como um ataque cardíaco, por exemplo, 30% são provocados por sonolência", revela Michel Cahali, otorrinolaringologista e especialista em ronco e apneia do sono da Aborl-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial).

Apenas a título de curiosidade, os especialistas afirmam que estar ao volante com sono é igual a dirigir com um nível de embriaguez moderado.

A principal causa da sonolência é a privação do sono. Segundo Cahali, "uma pessoa deve dormir, pelo menos, seis horas antes de viajar". Muitos, à véspera de um feriado prolongado, pegam a estrada logo após 8 horas de trabalho, sem descansar o recomendado.

As doenças relacionadas ao sono - são mais de 150 - representam a segunda maior causa de acidentes ligados ao sono. A mais comum é a Apneia Obstrutiva do Sono, na qual as pessoas roncam alto e param de respirar várias vezes durante a noite. "Neste caso, mesmo se o condutor dormir bastante, vai acordar cansado", explica Cahali. "Essas pessoas, estatisticamente, provocam sete vezes mais acidentes", completa. No entanto, existem diversos tratamentos para o distúrbio.

Uma terceira causa é o excesso de trabalho, muito comum em motoristas profissionais que dirigem ininterruptamente por mais de 10 horas.

HORA DE PARAR - O sono, antes de chegar, transmite vários sinais ao corpo. O primeiro deles é o piscar excessivo. Fora do normal. Na sequência, aparecem os bocejos longos e frequentes. A visão fica turva e as pálpebras pesadas. Os reflexos vão diminuindo e o senso de direção some. É hora de parar!

SOLUÇÕES - Algumas dicas ajudam a evitar acidentes dormindo ao volante. A principal delas, além de descansar bem, é não dirigir por mais de oito horas seguidas. Outra sugestão interessante, segundo Cahali, é parar em um lugar seguro para dormir, caso alguns dos sintomas mencionados acima sejam sentidos. "O adequado é tirar um cochilo de cerca de 30 minutos."

MITOS E VERDADES - Existem diversos mitos quando o assunto é sonolência ao volante. Algumas pessoas acreditam que abrir a janela e deixar o vento bater direto no rosto, aumentar o volume do rádio e cantar em voz alta ou mesmo mascar chicletes funcionam como uma espécie de despertador. Na verdade, isso não resolve.

Até mesmo o café não oferece o efeito desejado. "Cafeína é estimulante e faz efeito depois de uns 30 minutos. Realmente dá mais energia por, no máximo, 1 hora. Mas é apenas uma solução paliativa", enfatiza o especialista.

Determinados medicamentos também podem causar sono

Os medicamentos também podem representar uma armadilha para os motoristas. Diversos remédios, para os mais variados tipos de problemas, apresentam substâncias que provocam as mais diversas reações, como irritabilidade, diminuição da concentração e, é claro, sonolência.

Um projeto elaborado pela Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) juntamente com a Aborl-CCF (Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial) sugere que as empresas farmacêuticas passem a estampar nas embalagens dos medicamentos a mensagem "proibido dirigir".

Segundo Marco Túlio de Mello, professor da disciplina Medicina e Biologia do Sono do Departamento de Psicobiologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), "às vezes um remédio inofensivo para gripe já causa muita sonolência". Os principais deles são os relaxantes musculares, antialérgicos, contra ansiedade e até mesmo contra insônia.




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