Economia Titulo Cenário
Viver com até 2 salários é
possível, mas exige limites

Orientação é identificar a real capacidade financeira antes de
consumir; 517 mil moradores da região vivem essa realidade

Erica Martin
Do Diário do Grande ABC
24/12/2012 | 07:30
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Viver com até dois salários-mínimos é uma realidade para mais de 517 mil moradores do Grande ABC, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Pagar alimentação, água, luz, telefone e outras despesas ganhando entre R$ 622 e R$ 1.244 não é uma tarefa tão simples, mas os especialistas garantem que é possível cumpri-la. Mas para que a conta feche todo mês, é impreterível identificar a real capacidade financeira para impor limite nos gastos.

Cálculo do Instituto Dsop de Educação Financeira aponta que famílias que recebem um salário-mínimo desembolsam R$ 559,80 por mês (veja arte ao lado) ao levar em conta gastos com alimentação, água, luz, telefone, vestuário, além de uma reserva para formação de poupança.

"O equilíbrio das finanças depende muito mais de quanto se gasta do que quanto se ganha. Tem gente que ganha bem e vive atolado em dívidas. Tudo é uma questão do estilo de vida adotado", explica o especialista em finanças pessoais da Money Fit, André Massaro.

O professor de História Rodrigo Silva, 33 anos, tem dois filhos e a mulher está desempregada. Desde julho, a renda mensal da família varia entre R$ 1.200 e R$ 1.400. Mesmo com as dificuldades, o morador de Ribeirão Pires paga R$ 320 por mês pelo curso superior em história. Ele também conseguiu metade de uma bolsa para que a filha mais velha pudesse fazer natação - paga apenas R$ 50 de mensalidade. "Por saber que não posso ultrapassar o limite, que é apertado, acabo tendo mais controle das contas. Sempre no fim do mês sento com a minha esposa para colocar os gastos no papel. A despesa que não é tão primordial a gente acaba adiando".

Rodrigo não usa mais o cheque especial nem o cartão de crédito. A lição veio depois que entrou no vermelho pela primeira e teve de ir para o banco negociar a dívida - agora ele paga R$ 67 todo mês para quitar o saldo devedor.

De acordo com Massaro, quem ganha até três salários deve evitar o uso do crédito bancário. "A pessoa física usa o crédito para consumir. Não é como uma empresa que toma dinheiro emprestado, mas que terá lucros maiores do que os juros pagos. Se não tem dinheiro para pagar à vista também não vai ter o dinheiro para arcar com as parcelas", afirma.

ENDIVIDAMENTO - As famílias com menor renda são as que normalmente mais se endividam. De acordo com pesquisa divulgada pela Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito), a porcentagem de consumidores com renda familiar de até três salários que declaram o cartão como causador da inadimplência, por exemplo, é de 30%. Já na faixa acima dos dez salários a fatia é de 27%. "O endividamento se deve ao aumento do custo de vida, localizado em algum segmento, como alimentação e habitação, e ao desconhecimento do uso de produtos de crédito", diz Massaro.

Além disso, o assessor econômico da Fecomercio-SP, Guilherme Dietze, acrescenta que a rotatividade em cargos com menores salários é maior, o que pode dificultar o pagamento de uma dívida de longo prazo. "Portanto, se for comprar algo para pagar no longo prazo, é importante saber se terá dinheiro para conseguir arcar com as parcelas do financiamento no futuro", lembra Guilherme.

Quem não consegue dar conta das despesas precisa fazer uma varredura do orçamento e readequar o padrão de vida. "Viver em condições mais simples de moradia, como voltar a viver com pais ou com um amigo, por exemplo, e deixar de pagar aluguel é uma boa alternativa", explica a educadora financeira da The Money Camp Brasil Silvia Alambert.

A orientação é enxugar o máximo possível de despesas variáveis. Ter telefonia pré-paga para controlar melhor os gastos com as ligações é um exemplo. Para melhorar o salário, o recomendado é procurar meios para alavancar a carreira profissional, como um curso de línguas. "Com isso, é possível subir o padrão de vida de forma sustentável", comenta o especialista da Money Fit.

 

Reajuste de renda é incompatível com alta de alguns itens

O aumento do preço dos produtos muitas vezes é incompatível com o reajuste dos salários dos brasileiros. Para se ter ideia, o preço do arroz na região, de acordo com pesquisa da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André), subiu 54% em 12 meses até dezembro. Enquanto o salário-mínimo sofreu reajuste de 14,13% neste ano.

"O trabalhador acaba não tendo muito espaço no orçamento para colocar dinheiro na poupança", comenta o assessor econômico da Fecomercio- SP, Guilherme Dietze. Porém, o especialista em finanças pessoais da Money Fit André Massaro acrescenta que é importante tentar fazer o mínimo de esforço para economizar pelo menos 10% do salário para a realização de sonho. Quem guarda R$ 40 na poupança todo mês - o rendimento da aplicação hoje é de 0,41% mais TR (Taxa Referencial) - consegue acumular R$ 33 mil em 360 meses, por exemplo. A dica para ter mais fôlego na hora de poupar é pontuar objetivos que deseja realizar no curto, médio e longo prazos , como viagem, cursos e carro. Também é importante ter algum recurso para o caso de uma emergência. Apesar de não ter reservas financeiras, o professor de História Rodrigo Silva, por exemplo, explica que consegue deixar pelo menos R$ 100 na conta-corrente para o caso de uma eventualidade em casa.

 

 




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