Economia Titulo Consumo
Vendas de espumantes disparam no fim de ano

Líderes do setor afirmam que 60% do consumo anual,
que cresce sem parar, ocorre nesta época

Andréa Ciaffone
Do Diário do Grande ABC
28/12/2013 | 07:28
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Claudinei Plaza/DGABC


Sinônimo de festa e de vitória, o som da rolha saltando de uma garrafa de espumante é o que embala as celebrações de fim de ano. Essa trilha sonora, entretanto, vem sendo ouvida com cada vez maior frequência ao longo de todo o calendário. Para atender a todos que desejam celebrar a vida com estouros e borbulhas, os maiores produtores nacionais de espumante vêm trabalhando duro para dar conta de crescimento anual da ordem de 15%.

“Hoje, 60% das vendas de espumante se concentram nesta época do ano. A boa notícia embutida nesse número é que os 40% restantes são consumidos ao longo dos outros 11 meses”, diz o diretor da marca Chandon no Brasil. “Há dez anos, ninguém ousava abrir uma garrafa fora das grandes celebrações. Hoje, as pessoas já incorporaram o espumante à suas opções para beber na praia, na piscina, em um barco ou numa reunião de amigos”, observa Degese.

Os números refletem essa percepção. “Nos últimos cinco anos a Chandon vem crescendo acima da média do mercado de espumantes premium. Em 2012, o crescimento foi de 13,4% sobre 2011. Ainda não fechamos o índice deste ano, mas creio que chegaremos em dois dígitos”, diz Degese. “Atualmente, a Chandon, que é a marca líder do segmento premium de espumantes brasileiros, aqueles com preço acima de R$ 45 a garrafa, possui algo entre 80% e 90% do mercado”, completa o executivo.

SÉCULO 20 - A própria presença da Chandon no País ajudou a divulgar a qualidade do espumante brasileiro. A empresa não tem esse nome por acaso. Ela pertence ao maior conglomerado de artigos de luxo do mundo, o grupo francês LVMH (Louis Vuitton-Moët Henessy), dono das marcas de champanhe Moët Chandon e Veuve Clicquot. Há 40 anos, especialistas franceses da Moët Chandon identificaram partes da serra gaúcha que ofereciam as condições de solo e clima ideais para o cultivo das uvas chardonnay e pinot noir, que são a base para a elaboração dos espumantes. Então desenvolveram a bebida e deram para ela o sobrenome da parente francesa.

Vale lembrar que só pode ser chamado de champanhe o vinho espumante produzido na região de Champagne, na França. “Temos um nome a zelar, por isso nossa exigência por qualidade é alta e isso é o que limita o crescimento da produção”, diz Degese, que confessa se preocupar com a logística do produto que envolve disponibilidade de uvas para sua preparação.

“Uma coisa que o brasileiro precisa entender é que o espumante nacional tem qualidade alta. Se um prosecco (denominação dos espumantes produzidos na Itália) ou uma cava (fabricados na Espanha) custar a mesma coisa que um brasileiro, tenha certeza de que a qualidade dele é muito inferior. Não é porque é importado que é bom. Pelo contrário, se só de impostos o preço aumenta 80%, é só imaginar o preço que ele é comercializado no seu país de origem”, argumenta Degese, que é argentino.

“O espumante brasileiro só não é mais exportado porque o mercado interno sozinho absorve toda a produção, mas é reconhecido internacionalmente em competições e por críticos”, completa.

SÉCULO 21 - “Na minha visão, o divisor de águas neste mercado foi o Réveillon de 2000. De lá para cá, a percepção de qualidade do produto brasileiro vem ganhando força continuamente, ao mesmo tempo em que as pessoas perceberam que havia outras ocasiões de consumo para o espumante”, avalia o diretor da vinícola Salton, Daniel Salton. Com crescimento nas vendas em torno de 15% ao ano, a Salton já tem o espumante como responsável por 37,5% do seu faturamento anual.

“Como o produto ganha adeptos o tempo todo, podemos dizer que já existe crescimento inercial do consumo. Para atender a essa demanda crescente é preciso muito planejamento”, explica Salton, que em 2014 inaugura uma vinícola em Santana do Livramento (Rio Grande do Sul). “Outro problema é a expansão da área plantada, que não é algo que se possa fazer de uma hora para outra. Um vinhedo leva quatro anos para começar a produzir em bom volume”, explica Salton.

Hoje, o mercado nacional de espumantes finos está estimado em 20 milhões de garrafas, sendo que 30% são importadas. Embora o crescimento do mercado tenha sido constante na última década, o consumo per capita de espumante equivale a apenas uma pequena taça de 75 ml.


Dólar e impostos fazem preço estourar

Quem já é fã das borbulhas reparou: o preço dos espumantes estourou neste ano. De acordo com os maiores produtores nacionais, o preço aumentou por causa do reajuste da inflação, do aumento causado pela substituição tributária e pelo custo de insumos que são cotados em dólar.

Em dezembro de 2010, por exemplo, uma garrafa de Chandon custava em torno de R$ 45. Neste ano, os preços giravam em torno de R$ 65. “O produto propriamente dito não teve aumento real. O preço mudou por causa do repasse da inflação e por causa da substituição tributária”, explica o diretor da Chandon no Brasil, Sérgio Degese.

A substituição tributária é o mecanismo por meio do qual o fabricante paga o imposto que é devido pelo seu cliente, o que lhe obriga incluir esse valor nos seus custos. Para os governos, esse sistema ajuda a evitar evasão fiscal, pois os produtos já são tributados na fábrica.

Há três anos, o Salton Brut (do rótulo azul-marinho) era comercializado por R$ 13, hoje, está em R$ 19. Além das questões tributárias e da inflação, o diretor da vinícola Salton, Daniel Salton, destaca o efeito da alta do dólar na formação do preço. “Embora as uvas, as instalações e os salários sejam em reais, as garrafas, as rolhas e as cápsulas (aquela parte de arame que segura a rolha) são cotados em dólar e não há como não repassar estes custos”, explica.
 




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